Serviço

Praticagem: o serviço que movimenta o Porto de Rio Grande

No ano passado, 3,5 mil manobras foram feitas por práticos na área portuária, em sua maioria são navios conteineiros e graneleiros; profissão envolve altos riscos humanos e previne acidentes aquaviários

Foto: Praticagem do Brasil - Divulgação - Somente em 2023, foram realizadas 3,5 mil manobras no Porto de Rio Grande

No ano passado, mais de 2,9 mil embarcações passaram pelo Porto de Rio Grande. Para que essa movimentação de cargas seja realizada com segurança e eficiência tanto para a instalação portuária quanto para os navios, 26 profissionais cumprem uma tarefa essencial: a praticagem. Responsáveis por manobrar estruturas com milhares de toneladas de carga e mitigar riscos de acidentes, os práticos são especialistas no tráfego aquaviário em suas zonas de atuação. Recentemente, um dos maiores desafios que a equipe enfrentou foi a atracagem da Plataforma P-32.

A praticagem é uma das profissões marítimas mais antigas que existem, mas também uma das menos conhecidas. No País a atividade foi estabelecida em 1808. Já em Rio Grande foi em 1846. Diariamente navios carregados de contêineres, grãos e outros produtos entram e saem do Porto do Município, alguns chegam a ter 335 metros de comprimento e 51 metros de largura. Sem conhecer as especificidades da área portuária em que irão transitar, os comandantes das embarcações precisam dos práticos para guiá-los. “A função do prático quando vai a bordo de um navio como especialista nas peculiaridades do local é garantir que aquela manobra vai acontecer em segurança”, define o diretor operacional de praticagem em Rio Grande, Guido Cajaty.

Quando uma embarcação está chegando ou saindo do Porto, os profissionais são acionados. Tanto o embarque quanto o desembarque deles são feitos com o navio em movimento em alto mar a cerca de 20 quilômetros de distância da costa. “Temos lanchas específicas para esse fim que nos levam. Elas encostam no navio e os práticos sobem por uma escada de cabos”, explica o diretor. Com condições geográficas próprias de cada região e questões como correnteza e outros elementos no mar, os comandantes temem os riscos da manobra no desconhecido. “E um acidente pode causar a interrupção do tráfego como aconteceu no canal de Suez [no Egito], que por consequência gera um efeito em cadeia que prejudica economicamente muita gente”, exemplifica.

Prático embarcando em um navio em alto mar em Rio Grande. Foto: Guga Volks

Especificamente em Rio Grande, Cajaty explica que as maiores dificuldades em comparação a outros portos são as condições climáticas adversas e também a intensidade do assoreamento. “São todas as variedades meteorológicas que se possa imaginar, correnteza, vento, onda, cerração”. Além disso, as embarcações que circulam no Porto têm calados extensos, o que também é um obstáculo.

Guido Cajaty e o diretor-presidente da praticagem em Rio Grande, Gabriel Barros, relembram que recentemente o maior desafio enfrentado pela equipe foi a chegada da Plataforma P-32 da Petrobrás para ser desmontada no Estaleiro. Para manobrar a estrutura foram meses de planejamento, no dia da chegada, seis profissionais ficaram 13 horas a bordo para concluir a atracagem. “Foi uma manobra muito fora do dia dia, foi o maior navio que já entrou no Porto”, diz Barros. “Uma super operação, foi uma manobra muito desafiadora, tecnicamente muito difícil”, destaca Guido.

Somente em 2023, foram realizadas 3,5 mil manobras no Porto de Rio Grande.

Diariamente navios carregados de contêineres, grãos e outros produtos entram e saem do Porto de Rio Grande. Foto: Praticagem do Brasil - Divulgação


Formação e remuneração
“O processo seletivo é semelhante a um concurso público”, conta Cajaty. Para se tornar prático, os candidatos precisam ser aprovados em uma seleção nacional organizada pela Marinha. Posteriormente eles são encaminhados para realizar um treinamento de no mínimo 12 meses na área que irão trabalhar com a praticagem. Nesse período, é necessário o cumprimento de um plano que inclui ao menos 600 manobras. Ao concluir o treinamento, os candidatos precisam ser aprovados em uma prova aplicada por uma banca avaliadora da Marinha.

Cajaty se tornou prático em abril de 2010 e até o momento realizou aproximadamente 6,6 mil manobras. Já Barros iniciou a praticagem em Rio Grande em 2015 e cumpriu cerca de duas mil manobras. Antes disso, o diretor-presidente atuou na Amazônia durante três anos. “E mesmo já sendo prático, quando eu fui aprovado e vim treinar em Rio Grande, o estágio é igual pra todo mundo mesmo já tendo experiência. A praticagem é muito específica conforme o lugar”, conta.

A rotina de trabalho da praticagem é realizada em plantões. Os profissionais trabalham durante uma semana em vigília durante 24 horas e folgam outros 14 dias. A remuneração do serviço é feita pelo tomador de serviço, ou seja, é o navio que paga pela assessoria. “Se fala muito em salário de práticos, mas aqui em Rio Grande nós somos associados em uma empresa que tem toda essa logística e ao final do ano nós dividimos o lucro. O que eu ganho mesmo é o pró-labore que a empresa paga”, declara Cajaty.

Além dos mais de 70 profissionais envolvidos na logística da praticagem, a empresa também arca com custos operacionais como a torre de controle e as lanchas para o deslocamento. “Temos estaleiro próprio, é uma estrutura robusta que funciona 24 horas”, destaca Barros. As empresas de praticagem têm a política de não divulgar o valor recebido pelos sócios porque a remuneração tem uma alta variação entre as diferentes zonas de praticagem, de acordo com a quantidade de navios atendidos no período.

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