A noite do dia 8 de junho foi marcada por uma tragédia em Cerrito. Uma colisão entre uma Saveiro e um Ford/Fiesta tirou a vida de uma mulher de 69 anos. O local do acidente de trânsito - trevo de acesso à cidade, pela BR-293 - é alvo de muitas críticas e de apelos ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), não só pelo prefeito Douglas Silveira (PP), mas pelos chefes de Executivo dos municípios de Piratini, Pinheiro Machado, Candiota e Hulha Negra, que enfrentam o mesmo problema de insegurança em 187 quilômetros de rodovia. Os acessos já estão sendo chamados de trevos da morte e as autoridades esperam soluções imediatas. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), só este ano foram 21 acidentes. Desse total foram quatro mortes, mesmo número de vítimas fatais de 2021 e 2022. Já o Dnit garante que um novo contrato para manutenção foi firmado e as obras serão iniciadas ainda neste segundo semestre.

No quilômetro 59 da mesma rodovia, fica a entrada para a ERS-702, que leva a Piratini. No local, as marcas de pneus, pedaços de peças de um veículo, o meio fio fora do lugar e a placa de trânsito "dê a preferência" enterrada no canteiro sinaliza que mais um acidente foi registrado naquele lugar. "Sorte que não bateu em outro carro", disse o caminhoneiro Josué Doki de Brum, 45. Ele trafega diariamente pela BR e garante que as péssimas condições do asfalto vão de Pelotas a Bagé. "São os desníveis do acostamento, ondulações na faixa de quem vai em direção a Pelotas", relata. O condutor conta que além de ter que arcar com as despesas em manutenção por causa dos desgastes das peças, principalmente dos pneus, o tempo percorrido para entregar a carga - geralmente de toras - aumenta bastante em função do fluxo do trânsito. "O governo tem que mexer nessa estrada. Melhorar a estrada, a sinalização e a fiscalização", reivindica.

A preocupação de Brum em relação ao trevo de acesso se soma a dos prefeitos. Em Piratini, por exemplo, a lombas que existem antes do acesso (tanto que vem pela ERS-702 ou de Bagé, pela BR-293) são propícias para acidentes. "Tu vens embalado pela faixa, quando vê, tem o acesso. Até porque aqui não tem fiscalização e a velocidade permitida geralmente não é respeitada", comenta o caminhoneiro. Fato constatado pela reportagem na terça-feira pela manhã. Além da movimentação intensa de caminhões, estes dividiram a faixa com os veículos de passeio que, em muitos casos, trafegavam em alta velocidade, fazendo manobras perigosas para ultrapassar os veículos de carga. Para desviar dos buracos, por exemplo, os carros passavam no meio da pista. Já os caminhões não têm como escapar do asfalto precário. O ponto positivo observado foi que entre os quilômetros 46 e 47 uma equipe do Dnit estava realizando a roçagem do local, o que facilita a visão da sinalização vertical e permite parar no acostamento com segurança, diferentemente do quilômetro 49, que além do capim alto, a guia de concreto que limita o espaço estava caída.

Luz no fim do túnel
A demanda pela qualificação dos trevos é antiga e um projeto de melhorias elaborado pelo Consórcio Público Intermunicipal de Desenvolvimento Econômico dos Municípios da Bacia do Rio Jaguarão (Cideja) deve ser entregue nos próximos dias ao Dnit. De acordo com o presidente do Consórcio e prefeito de Candiota, Luiz Carlos Folador (MDB), os problemas ocasionados nos acessos (só em Hulha Negra são dois) fizeram com que os governos municipais, juntamente com os vereadores, buscassem ajuda política. "Entramos em contato com o deputado estadual Luiz Fernando Mainardi (PT) e agora estamos ajustando projetos de execução de melhorias a serem entregues ao Dnit em Porto Alegre. Como é fase inicial, ainda não temos um orçamento para as obras", adiantou.

Como o Cideja inclui municípios da Campanha (mas que inclui Piratini), Folador se prontificou a fazer contato com o prefeito de Cerrito e propor a participação nos projetos para os trevos das cidades. Douglas Silveira diz que vem lutando há anos pela BR-293. "Só esse ano foram sete acidentes no acesso à cidade e uma morte", sinalizou o chefe de executivo que destacou o aumento no fluxo de veículos nos últimos anos na rodovia. "E ela (rodovia) não recebeu os reparos necessários para suportar esse tráfego." O prefeito de Pinheiro Machado, Ronaldo Madruga (PP), vai além e diz que um documento já foi protocolado junto ao Ministério Público Federal (MPF), para uma possível intervenção, uma vez que as tratativas com o Dnit, com apresentação de projetos, até então, não tinham surtido efeito. "São várias vidas ceifadas por causa das condições de trafegabilidade nos trevos de acesso às cidades, não só da Zona Sul, mas também em Candiota e Hulha Negra". O chefe de governo de Piratini, Marcio Manetti Porto (MDB), se vê esperançoso com a iniciativa do Cideja.

Fiscalização
Outra questão abordada pelo prefeito de Pinheiro Machado, Ronaldo Madruga, é a retirada do posto da PRF no município. "Não há fiscalização nas estradas. Então excesso de velocidade é comum e, os caminhões com carga acima do permitido por lei também pela falta de um posto de pesagem, o que danifica o asfalto", dispara.

Sobre o fechamento da unidade operacional de Pinheiro Machado, a PRF diz que o policiamento ostensivo e as fiscalizações continuam sendo realizadas normalmente dentro do planejamento operacional de cada Delegacia da PRF. "Existe um planejamento operacional em que são programadas ações eventuais dentro do trecho rodoviário, mesmo não havendo unidade 'física' no local", disse o comandante da PRF em Pelotas, Fábio Paz.
Ele destaca que o trecho pertencente à 7ª Delegacia, com sede em Pelotas, tem sob sua responsabilidade o trecho compreendido entre os quilômetros zero ao 92 e, a partir do quilômetro 92 ao 181, o trecho é pertencente à Unidade Operacional de Bagé, a qual está sob a responsabilidade da 11ª Delegacia com sede em Santana do Livramento.

O que diz o Dnit
O Dnit ressalta que iniciou neste mês um novo contrato de manutenção para a BR-293, entre os municípios de Pelotas e Bagé. Com isso, a partir do segundo semestre, estima-se que mais melhorias sejam realizadas na rodovia. O Departamento explica que, nos últimos anos, foram recebidos 15% do investimento necessário para manutenção da estrada. A autarquia reconhece a importância de melhorias nos acessos às cidades de Cerrito, Piratini e Pinheiro Machado e o departamento aguarda liberação de recursos para a elaboração de projetos e a execução de obras no trecho. Com relação ao posto de pesagem, não houve tempo hábil para a resposta.

Número de acidentes na BR-293 entre Pelotas e Bagé*
Acidentes
2021 - 47
2022 - 39
2033 - 21
​
Mortes
2021 - 4
2022 - 4
2023 - 4
*Fonte: PRF