As páginas oficiais da Prefeitura de Pelotas no Instagram e no Facebook publicaram nesta quinta (18) a retratação de uma outra postagem feita na quarta-feira alusiva ao Dia Internacional de Combate à LGBTfobia. O post original usava, em letras maiores, termos ofensivos utilizados à comunidade LGBTQIA+ e, em letras menores e na legenda, explicava que as palavras são agressivas e não deveriam ser utilizadas.

A publicação de quarta-feira viralizou nas redes sociais, em especial no Twitter. Usuários reclamavam de a publicação do dia de combate ao preconceito utilizar justamente termos ofensivos como forma de chamar a atenção. No Twitter, a postagem de uma página de entretenimento teve mais de 2,4 milhões de visualizações até a tarde de quinta. "Passando mal que alguém achou isso que seria de bom tom", respondeu uma usuária. "Miraram a criatividade atingiram a ofensa…viajaram!", escreveu outro.

Na retratação publicada nesta quinta, uma arte parecida destaca a frase "Viva o povo LGBTQIAP+" e, na legenda, explica que retirou do ar a publicação polêmica. O texto diz que a intenção foi de combater o preconceito e chamar atenção para algo que causa muito sofrimento. "Se o tom que utilizamos causou desconforto ou ofensa a quem quer que seja, pedimos as mais sinceras desculpas", diz o texto. "Importante frisar que entre membros da nossa equipe há pessoas LGBTQIA+ que, inclusive, participaram dessa criação", continua.

No entanto, a própria retratação foi alvo de críticas. "Dizer que participaram da criação tá chamando a gente de palhaço né", diz um comentário. “'Povo'? kkkkkk Viramos etnia, agora sim isso", escreveu outro usuário. Uma outra retratação foi publicada, com o mesmo texto, mas sem a palavra “povo” na arte. No entanto, a versão original do pedido de desculpas voltou ao ar logo em seguida.

Comunidade vê problemas na publicação
O Conselho Municipal dos Direitos e da Cidadania LGBT+ enviou à Prefeitura um ofício pedindo a exclusão da postagem na manhã de quinta. O diretor executivo do conselho, Marcos Fernandes, reconhece que a Prefeitura tem movimentos de acolhimentos e políticas públicas para a população LGBTQIA+, mas explica que ativistas do movimento não gostaram da postagem porque "consideram agressiva em um nível desnecessário, um tanto apelativa na busca de curtidas e compartilhamentos". Ele diz que as palavras consideradas ofensivas já foram apropriadas pelo movimento, mas ainda podem causar dor e sofrimento a muitas pessoas.

O chefe do Núcleo de Gênero e Diversidade (NUGEN) da UFPel, Rodrigo Vital, entende que a publicação teve um impacto diferente em cada pessoa, mas que, na maioria, causou desconforto e reprovação. "Não foi a primeira vez que a comunicação da Prefeitura de Pelotas promove essa experiência de incômodo na tratativa de pautas LGBTI+", diz.

Vital avalia, ainda, que a publicação mostra o pouco diálogo da Prefeitura com o Conselho LGBT+, e diz que uma outra publicação foi aprovada pelo conselho, diferente da que foi ao ar, sem nenhuma avaliação ou consulta. Ele considera, no entanto, o pedido de desculpas um passo positivo. “A prefeitura de Pelotas tem sido uma apoiadora das expressões culturais da comunidade LGBTI+, um apoio muito diferenciado em comparação com prefeituras de outros municípios do país. Mas esse tipo de ‘inadequação’ da postagem problemática mostra que ainda há muito a ser mudado”, diz.
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