Medo

Prefeitura interdita sete casas no Barro Duro por causa da erosão

Sem ter para onde ir, moradores pedem a colocação de pedras de contenção, assim como foi feito em frente a imagem de Iemanjá

Foto: Jô Folha - DP - Moradores do local veem a estrada ser consumida pela água

As noites não dormidas e o pânico de ver a casa desabando com o filho de nove anos dentro levaram a doméstica Ariadne Machado Conceição, 32, a buscar tratamento no Centro de Atenção Psicossocial (Caps). A casa dela, às margens da Lagoa dos Patos, no Balneário dos Prazeres, foi condenada durante uma vistoria da Prefeitura. O cenário de horror também é vivido por mais seis moradores do local que a cada dia veem a estrada ser consumida pela água. Quem vive no local luta pela colocação de pedras, como foi feito em frente à imagem de Iemanjá, pois não quer deixar os lares. Lonas e sacos de areias tentam conter a erosão, mas o local está condenado e, por causa do risco de desabamento, sete casas foram interditadas pela Prefeitura.

Para chegar até o local de trabalho do pescador Julio César Miranda Nobre, 54, a reportagem passou pela varanda de uma casa, pois não há mais estrada entre o imóvel e a água. No caminho à frente, o que resta de trilha é bem estreito, cerca de 30 centímetros separam o barranco das residências. "A Defesa Civil ajudou com lonas e sacos, mas não sei até quando vai aguentar", analisou. Ele aguardava pela chegada de representantes da Prefeitura que haviam combinado um encontro no final da manhã com os moradores. "Disseram que é para assinar um papel. Eu sou pescador habilitado e já fui retirado do Pontal e da Z-3. Vou ler com muita atenção. Se for para me ajudar, eu assino." Pelo entendimento de Nobre, seria algo que facilitaria a realocação em outro lugar. "Mas eu sou pescador. Vivo da pesca. Não tenho como sair daqui."

Ariadne tem intenção de mudar de casa, só não tem como adquirir um e nem entrar em aluguel com salário de doméstica. Ela mostrou o barranco aos fundos do sobrado que já causou estragos na estrutura da parede da sala, rachada de cima a baixo. Na entrada do imóvel, a vista é da água avançando e levando toda a areia da encosta. "Vou ler direitinho esse papel que vão pedir para nós assinarmos."

Entretanto, o boato de que as casas seriam derrubadas tem deixado a doméstica bastante nervosa. Para agravar a situação, durante a reportagem, uma retroescavadeira apareceu na entrada das moradias, deixando-a em pânico. A situação alterou os ânimos de quem estava no aguardo da Defesa Civil. O coordenador da Defesa Civil, Fernando Bizarro esclarece que nesta terça-feira foram interditadas as sete casas na avenida Mato Grosso, na orla do Balneário dos Prazeres, por apresentarem risco de desabamento por deslizamento de terra. Algumas famílias residentes nos endereços procuraram abrigo em casas de familiares ou amigos, mas a maioria preferiu permanecer no local.

A preocupação agora recai sobre a previsão do tempo. Além dos 462,5 milímetros de precipitação no mês de setembro, a estimativa é que, nos próximos três meses, o acumulado chegue a 600 milímetros, condição climática que, somada à posição do vento, pode implicar na remoção de todos os moradores. Uma outra área que voltou a assustar a comunidade é a voçoroca.

O secretário de Qualidade Ambiental, Eduardo Schaefer diz que a voçoroca é um fenômeno natural de ocorrência em algumas áreas da orla da Lagoa do Patos. No caso em questão, houve uma situação excepcional ocasionada pelo grande volume de chuvas, prejudicando moradores das áreas próximas ao recurso hídrico.

"É preciso salientar que conforme dispõe o Código Florestal (artigo oitavo da Lei 12.651/2012) a intervenção em áreas de preservação permanente somente poderão ocorrer em casos de utilidade pública. A ocupação destas áreas é passível de multa de R$ 10 mil a R$ 100 mil para quem promover construção em solo não edificável", diz.

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