Realidade
Projeto pretende criar oportunidades
Crias da Periferia pretende revolucionar a relação das comunidades com a juventude
Carlos Queiroz -
A ideia nasceu de uma brincadeira virtual, mas tem objetivos sérios e bem afinados com a realidade da periferia da maior cidade do Sul do Estado. O projeto Crias da Periferia, que será lançado no fim de outubro é comum à maior parte dos projetos sociais direcionados para jovens de periferia e sonha em criar uma nova relação entre as comunidades e sua juventude, ao mesmo tempo em que busca a formação de bons cidadãos e a verdadeira inclusão social.
“A gente quer ver a gurizada saindo daqui como homens e mulheres de valor, dedicados ao trabalho, a sua comunidade e com chances reais de vencer na vida”, resume o comerciário David da Silva, 34 anos, um dos idealizadores do Crias da Periferia. Morador do bairro Navegantes, Silva conhece bem as dificuldades que os jovens de periferia enfrentam na hora de tentar conseguir um trabalho, sabe como é ser olhado com desconfiança ao dizer o endereço onde mora e reconhece que o ócio é uma das portas de entrada dos guris e gurias no crime.
Para tentar mudar estas três realidades - e outras tantas - é que o Crias da Periferia foi pensado e começa a ser tocado por um grupo de voluntários de bolsos vazios, mas cheios de ideias e vontade. “Queremos fazer algo diferente, interessante para a comunidade onde nascemos e vivemos”, diz. Entre as ideias pensadas está a oferta de oficinas e cursos de preparação e qualificação para o mercado de trabalho, como informática, espanhol e outros.
Para a criançada, o grupo pretende apostar em aulas de reforço escolar, atividades esportivas, culturais e outras capazes de auxiliar na melhoria do rendimento escolar e dos relacionamentos familiares.
Quatro por todos
Sem grana para bancar qualquer tipo de estrutura necessária, o projeto idealizado e tocado por Silva e outros três amigos, todos moradores do bairro - o porteiro Jéferson Santos, 30; o comerciário Anderson Ávila Dutra, 33, e o camelô Michel Dallmann, 30 - terá suas primeiras atividades realizadas na sede da Associação dos Moradores do Bairro Navegantes (Amoban) ou no ginásio do bairro.
A primeira será, exatamente, a festa de lançamento, marcada para o dia 21, e que vai oferecer atrações para crianças e adolescentes - como lanches, shows musicais, brinquedos infláveis, oficinas de capoeira, muay thai, futebol e grafite e, claro, muita conversa dos organizadores com os pais e moradores do bairro. “A festa não é apenas um momento de confraternização e diversão, mas sim a hora na qual os pais e a comunidade em geral poderão saber mais sobre nossa proposta e como estamos sonhando em mudar a realidade do bairro”, comenta.
A primeira prova da capacidade de organização dada pelo grupo à comunidade foi exatamente a preparação da festa para qual tudo foi doado ou emprestado ou feito voluntariamente. Mostrar que uma comunidade unida e colaborativa consegue grandes feitos é, aliás, a primeira lição que a turma do Crias da Periferia dá ao bairro.
O curioso início de tudo
No início deste ano espalhou-se pelas redes sociais a brincadeira “diz que é cria, mas...”, na qual as pessoas faziam piada sobre quem diz ser de um determinado local, mas não conhece suas raízes ou peculiaridades. A partir disso, nasceu o grupo de WhatsApp Crias do Navegantes e, logo em seguida, a comunidade no Facebook que em poucos meses já reunia mais de três mil pessoas. O sucesso na venda de camisetas com a marca do grupo colocou Silva, Dallmann, Dutra e Santos a pensar que aquilo poderia se transformar em algo em benefício da comunidade. Surgiu, então, o projeto social que deixou o nome Navegantes de lado para futuramente romper as fronteiras do bairro e se espalhar por toda a periferia de Pelotas.
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