Ramadã: princípios do mês sagrado é seguido por centenas de mulçumanos em Pelotas

Apesar de ser conhecido popularmente apenas pelo jejum, período é dedicado a práticas que objetivam a evolução de atributos humanos como empatia e generosidade

Foto: Carlos Queiroz - DP - Em Pelotas, mesquita recebe semanalmente, principalmente na sexta-feira, em torno de 80 mulçumanos

Na quarta-feira (22) iniciou um período importantíssimo para parte da população mundial. Foi o primeiro dia oficial do Ramadã, mês sagrado em que os seguidores do islamismo jejuam diariamente e dedicam seus esforços a evoluir espiritualmente. Com uma comunidade de cerca de 500 mulçumanos em Pelotas, a dedicação dos fiéis ao 9º mês do calendário islâmico não é diferente, e os encontros religiosos entre pessoas das mais diversas nacionalidades ocorrem na única Mesquita da cidade.

Iniciando no dia seguinte ao avistamento da lua crescente na Arábia Saudita, neste ano o Ramadã deverá terminar no dia 21 de abril, podendo variar um dia para mais ou menos, de acordo com o calendário lunar islâmico. O período é considerado o mais importante do ano, pois seria o mês em que o Alcorão, livro sagrado da religião, foi revelado ao profeta Maomé por Allah (Deus). Apesar de ser conhecido mais popularmente apenas pela prática do jejum do nascer ao pôr do sol, sem ingestão de líquidos, incluindo água, o Ramadã é constituído de ações que objetivam a empatia.

Neste momento, os mulçumanos buscam refletir sobre as suas atitudes em um caminho de evolução e crescimento espiritual por meio da aproximação com Allah. A renúncia à hidratação e alimentação são formas de os fiéis sentirem as dificuldades que muitas pessoas em situação de vulnerabilidade social enfrentam. Motivando assim atitudes altruístas e a renegação de ações que possam prejudicar o próximo.

O islamismo em Pelotas
Em uma casa discreta no Centro, com fachada sóbria pintada de branco e portas duplas marrons, está localizada a única Mesquita do Município. O templo islâmico recebe semanalmente, principalmente na sexta-feira, dia sagrado, em torno de 80 mulçumanos.

Um desses fiéis é Sérgio Abdul Hashid. Pelotense, o servidor público aposentado se converteu ao Islã há cerca de 15 anos e explica a importância da religião e especialmente do Ramadã na sua vida. “É o mês das bênçãos e dos perdões”, enfatiza. Emocionado, ele diz ainda que as pessoas nunca terminam o período sagrado do mesmo modo em que iniciaram, pois a prática resulta em transformações positivas do humanismo. “Não é coisa teórica, que a gente se tranca em lugar para rezar. É uma coisa prática do dia a dia. Nós temos que sentir na pele o que é a fome, a sede, a dificuldade de trabalhar, é o exercício da empatia, a gente não fala, praticamos a empatia”.

Palestino e residente em Pelotas há 35 anos, Mahamoud Yousef Ali Amer, complementa a explicação de Hashid dizendo que no Ramadã milionários e quem não tem condições de pagar por uma refeição estão em igualdade de estado fisíco, não importando o poder aquisitivo. “Todos são iguais. Então a pessoa que tem condições vai sentir quando passa na rua por alguém sem comida: eu sei o que significa, então vou ajudar. Não é no Ramadã que tu vai ajudar o pobre, tu vai aprender que a pessoa tem fome o ano inteiro”. O aposentando completa: “Tu te transforma para continuar praticando no restante do ano aquilo que tu sentiu”.

Em razão de a maioria dos mulçumanos no ocidente estar há muitos anos longe da prática no oriente, durante o 9º mês do calendário islâmico um fiel com conhecimento mais aprofundado do Alcorão é destinado para as mesquitas dos países a fim de auxiliar os seguidores da religião a manter de maneira mais adequada os princípios do período sagrado. Em Pelotas, desde o início do Ramadã, Yun Os Ben Youssef, da África do Sul, está diariamente no templo para prestar suporte aos frequentadores.

Conversão e dificuldades
Ali Amer diz que nas decádas em que mora no Município, nunca sofreu algum tipo de discriminação religiosa. Já Sérgio explica que, como único mulçumano de sua família, as maiores dificuldades de aceitação que sentiu foi dos parentes e também por parte de alguns amigos quando parou de ingerir bebidas alcoólicas. O problema maior é na família. “No Natal, eu vou [reuniões de família], eu asso o churrasco. Agora, não me cobrem comemoração, é um dia comum. Amigos sumiram da minha casa”, ressalta.

Entretanto, ele conta que no local de trabalho não houve nenhum impasse em relação a sua religião e a necessidade de realizar novas práticas, como orações em horários específicos. “A minha escola me abraçou. Pedi na direção, aí colocavam um monitor tomando conta da minha turma e eu saia e rezava”, afirma o professor.

O aposentado conta que começou a se aproximar do Islã depois que foi excomungado de sua igreja devido à separação de sua ex-esposa. “Comecei a me interessar e a comunidade muçulmana me abraçou”, diz. Uma das pessoas que recepcionou e orientou o pelotense nos aprendizados do islamismo foi Ali Amer.

Igualdade
Conforme o palestino, a comunidade mulçumana em Pelotas é constituída de palestinos, libaneses, brasileiros, senegaleses, e pessoas de outras nacionalidades. “Porque a nossa religião não tem branco e preto, aqui não tem diferença entre as pessoas”, conclui.

O final do Ramadã é comemorado com uma confraternização regada a doces para celebrar o êxito em jejuar durante todo o período. “Tipo como é o Natal para outras pessoas”, explica Ali Amer. Conforme o Grupo de Estudos em Política Migratória e Direitos Humanos (Gemigra) da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), na cidade há em torno de 500 mulçumanos.

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