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Raridade escondida no Pontal da Barra

Professor da UFPel encontra no Laranjal exemplar da açucena-do-banhado, planta ameaçada de extinção e com poucos registros no Brasil

Paulo Rossi -

O Pontal da Barra é habitat hoje de pelo menos 15 espécies ameaçadas, entre elas a açucena-do-banhado (Hippeastrum breviflorum), uma planta endêmica (ocorre somente em uma determinada área ou região geográfica), rara, quase em extinção. No Brasil há registros de seu surgimento apenas na Região Sul, sendo um no Paraná, na divisa com Santa Catarina, outro em Santa Catarina e os do Rio Grande do Sul, no Parque Nacional de Aparados da Serra (Cambará do Sul e São Francisco de Paula) e em Pelotas. Aqui, é a única situada em área de restinga, que está no desenho da Unidade de Conservação incluída no Plano Ambiental de Pelotas e proposta em 2013 pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) à prefeitura.

Quem encontrou a açucena-do-banhado em Pelotas foi o professor de Gestão Ambiental da UFPel, Giovani Nachtigall, em uma aula de campo sobre aves. "Cruzamos (ele e os alunos) o banhado e vi a planta", conta, ao indicar que ela está localizada em área de 50 hectares, vizinha ao Pontal da Barra, uma espécie de complemento do banhado, à direita, na entrada do Laranjal que vai direto ao Valverde. A planta, além de ornamental, tem princípios farmacológicos e funciona como inibidor viral.

Para que possa informar e mobilizar a comunidade científica sobre a importância da conservação da espécie e o registro desta população, Nachtigall solicitou à professora de Botânica da Furg, Sônia Hefler, que escreva um artigo.

Atualmente Sônia trabalha na elaboração do documento e explica que no gênero Hippeastrum as espécies são conhecidas como açucenas e pertencem à família Amaryllidaceae. Caracterizam-se por serem bulbosas e possuir uma inflorescência com duas a oito flores bem vistosas, de coloração branca até vermelha, e variações dessas, proporcionando intensa beleza.

No Sul do Brasil ocorrem cerca de 16 espécies e no Rio Grande do Sul, nove. Muitas delas ameaçadas de extinção em função do extrativismo sem critério e pela destruição dos seus habitats.

A flor pelotense
A encontrada em Pelotas provavelmente se trata de Hippeastrum breviflorum Herb, tem alto potencial ornamental por possuir flores branca-rosadas, com estrias avermelhadas e estruturas reprodutivas também de coloração avermelhada, e cerca de seis flores por inflorescência. Assim como outras espécies do gênero, está ameaçada de extinção, pela beleza de suas flores, que a torna atrativa para exploração ao cultivo como ornamental, mas especialmente pela destruição de seu habitat.

Mapeamento da espécie
Pela Lista Vermelha da Flora Brasileira (CNCFlora 2012), a espécie Hippeastrum breviflorum ocorre em ambientes de restinga até os Campos de Altitude. Está naturalmente em áreas úmidas, como banhados, os quais vêm sendo intensamente destruídos para dar lugar a empreendimentos imobiliários, como ocorreu em Santa Catarina, onde duas populações foram devastadas.

Sônia destaca que a drenagem do banhado promove a perda do habitat natural da espécie, restringindo cada vez mais sua área de ocorrência. No Brasil havia o registro de sete populações desta espécie. No Rio Grande do Sul até o momento foram registradas populações da espécie apenas na região dos Aparados da Serra (única área legitimamente protegida por lei, de todas as populações conhecidas da espécie).

"O registro de uma população em Pelotas com certeza traz novos dados para a Ciência, por ser agora considerada a população mais austral do país e também o primeiro registro para o Estado em área de restinga litorânea", fala a professora. Ela ressalta que com isso os estudos na área são intensificados no sentido de confirmar o registro da espécie, mapear a população e acompanhar o estado de conservação e fenológico dos indivíduos.

Ainda, a ideia é de realizar estudos que envolvam parâmetros ecológicos, uma vez que a área onde se encontra é vulnerável a ações antrópicas, especulação imobiliária, incêndios, coleta indevida de exemplares, entre outros.

Refúgio de Vida Silvestre
O Plano Ambiental de Pelotas foi aprovado pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente (Conpam) há quatro anos, mas sua implantação não saiu do papel. A Unidade de Conservação proposta tem 700 hectares e seria um espaço de proteção integral, com parte para visitação. Até um nome foi sugerido, conta Nachtigall: Refúgio de Vida Silvestre.

O secretário de Qualidade Ambiental, Felipe Peres, diz que em março terá início estudo mais aprofundado sobre a implantação da Unidade de Conservação, que deve abranger não apenas o Pontal da Barra, como a área do Ecocamping Municipal, mata do Totó e Balneário dos Prazeres. "Hoje existe uma intenção de que essas áreas façam parte, mas o estudo vai apontar os locais", salienta. Técnicos da SQA vão atuar em conjunto com a UFPel nesse trabalho, segundo prevê convênio que deve ser firmado entre a Secretaria e a Universidade.

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