Quem foi na manhã desta quarta-feira (19) no Aeroporto Internacional João Simões Lopes Neto encarou a temperatura de 0ºC e um ar congelante no local descampado. No Capão do Leão, a temperatura mínima foi de 2,6ºC, segundo o Centro de Pesquisa e Previsão Meteorológica (CPPMet) da UFPel, clima aceitável para estação do ano, o inverno. O que fica difícil de explicar é que na sexta-feira (21) essa mínima sobe para 15ºC e a máxima, imaginem, pode passar a 25ºC. Nesse meio tempo, uma chuva de pouca intensidade atinge a região de Pelotas nesta quinta (20), quando as temperaturas estarão mais amenas, preparando a chegada do calor. A justificativa para a oscilação nas temperaturas está na entrada de uma massa de ar quente acompanhado de umidade, o que requer muita atenção das pessoas em relação à saúde.

O casal Demore e Lícia D'Ávila, de 87 e 86 anos, só saiu de casa na manhã de ontem, a uma temperatura de 6ºC às 10h, por um motivo muito especial: o aniversário do aposentado. A comemoração, diferente dos últimos anos, não foi com bolo e festa, e sim, um almoço especial no centro, só a dois. Com a carteira de vacinação completa, eles contam que os cuidados com o frio são muitos, como o uso de roupas quentes, lençol elétrico, muito líquido, principalmente chás e, claro, bastante tempo em frente à lareira. "Claro que só fizemos este último ritual depois de não precisar sair mais para a rua, pois até a troca rápida de temperatura pode nos deixar resfriados", conta Lícia. Ao saber que já na sexta a temperatura vai a 25ºC, a aposentada garante que, se tiver umidade elevada, ainda sim acenderá a lareira, pois essa mudança, para o corpo humano, deve ser feita de forma gradual.

O casal, que está há 66 anos junto, parece ter ouvido as dicas da responsável técnica da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Areal e professora do curso de Medicina da UCPel, a médica Andréa Guadalupe. Ela diz que as mudanças bruscas de temperatura podem afetar o corpo humano de várias maneiras e as exposições são as responsáveis por agravar as doenças respiratórias, que podem ser chamadas de doenças do frio, como rinite, asma ou bronquite, por exemplo. "Para algumas pessoas, também pode aumentar o risco de problemas cardiovasculares, como hipertensão ou infartos", esclarece. Idosos e crianças sempre merecem maior atenção, pois os pequenos têm um sistema imunológico em desenvolvimento e, no caso dos mais velhos, o envelhecimento pode levar a uma maior fragilidade do sistema imunológico, situações que aumentam a suscetibilidade de doenças e infecções.

Seco ou úmido
Segundo a profissional da saúde, o corpo humano pode sentir a diferença quando o ar está seco ou úmido. "Ambientes com ar seco tendem a retirar a umidade da pele e das mucosas, podendo causar desconforto, irritação nos olhos, garganta seca e ressecamento da pele. Além disso, o ar seco pode agravar condições respiratórias, como asma e alergias. Por outro lado, ambientes úmidos podem tornar a sensação térmica mais desconfortável, especialmente em temperaturas mais altas, devido à dificuldade do suor em evaporar e resfriar o corpo, o que pode desencadear também problemas respiratórios e alergias em algumas pessoas".

Orientações
Nas mudanças de temperatura, a médica orienta sobre a importância de alguns cuidados para proteger o corpo e manter-se saudável. Uma delas é vestimenta adequada. Assim como faz a idosa Lícia, a hidratação abundante também é recomendada pela médica. "Evitar exposição demasiada ao frio e ao calor. No caso do frio, evitar ambientes sem ventilação adequada. Fortalecer o sistema imunológico mantendo uma alimentação balanceada, sono adequado e atividade física", cita Andréa. A médica é enfática ao dizer que atualizar o calendário vacinal é importante para essas oscilações do clima. "Lembrando que cada pessoa pode reagir de forma diferente às mudanças de temperatura, por isso é importante estar atento ao próprio corpo e adaptar os cuidados de acordo com as necessidades individuais", pontua.

Ventania
De acordo com o meteorologista do CPPMet/UFPel, Henrique Repinaldo, a intensa massa de ar polar que dominou o Estado nos últimos dias deixou gradualmente a região, abrindo caminho para a massa de ar quente pelo noroeste. "Essa mudança trará um aumento significativo nas temperaturas, com tempo bom no final de semana e máximas passando dos 25ºC, bem acima do esperado para o normal de julho. É possível que o ar quente seja acompanhado do aumento da umidade relativa do ar", adiantou. A grande diferença de pressão entre o continente e o sistema de alta pressão sobre o oceano, associado à massa de ar polar que esteve presente no Estado no início da semana, deve provocar rajadas moderadas a fortes em alguns pontos do Oeste, Campanha e Zona Sul, com velocidades entre 50 e 70 quilômetros por hora.

A previsão confirma o alerta feito pela Marinha do Brasil, que emitiu nota sobre a possibilidade de ventos de até 74 quilômetros por hora entre a noite de ontem e sexta-feira. A área atingida pelo vento nordeste vai da faixa litorânea do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, entre Chuí e Garopaba. A Marinha informa ainda, aos navegantes, que consultem as informações antes de sair para o mar.

Quando volta o frio?
A pergunta é do vendedor de café, Rogério Machado, 42, que há 15 anos trabalha no calçadão de Pelotas. Ele fatura bastante nas temperaturas baixas, quase o dobro. A clientela é certa e tem horário marcado para a entrega do líquido quentinho. "Só não vendo tudo quando está muito vento, pois o café não se mantém quente até o final da manhã", revelou. Com a notícia de que na sexta vai ter calor, não abalou o ambulante. "Nesse caso é só colocar no cardápio bebida gelada". Até o final, segundo o Clima Tempo, o único dia frio será na segunda-feira, dia 24 (7ºC e 15ºC). Nos demais dias, a temperaturas mínimas irão varias de 11ºC a 16ºC e as máximas, entre 18ºC e 23ºC.