Pouca oferta
Safra do camarão ainda é ruim em Pelotas
A expectativa é de que a pesca comece a dar resultados satisfatórios a partir de março
Paulo Rossi -
As duas primeiras semanas de captura do camarão foram tímidas em Pelotas. Na Colônia Z-3, algumas peixarias ainda não começaram a vender o crustáceo e outras buscam o alimento em Rio Grande. Em Pelotas, a expectativa é de que a safra comece a melhorar a partir de março.
Uma safra boa exige uma série de fatores. O camarão entra na Lagoa dos Patos junto com a água do mar. Para isso acontecer, o nível do estuário precisa estar baixo. Assim, a água salgada se sobrepõe à doce. Isto deve ocorrer até a metade de novembro para dar tempo de o crustáceo se desenvolver e a pesca ser realizada a partir de fevereiro. Além disso, é necessário que o vento seja Sul ou Sudeste.
As chuvas ocorridas nos últimos meses de 2017, porém, atrapalharam o processo de salgamento da lagoa. A água do mar entrou tarde e, consequentemente, o camarão também. Nas condições ideais, nesta época o crustáceo já deveria estar no tamanho padrão, mas ainda está muito pequeno e só deve se desenvolver por completo em março. De acordo com o Ibama, ele deve ter no mínimo nove centímetros de comprimento para ser pescado.
Enquanto isso, os pescadores precisam buscar outras alternativas. Uma delas é a captura da tainha - que também não existe em abundância, como em anos anteriores. Antônio Carlos dos Santos, 56 anos, passou três dias percorrendo a lagoa até São Lourenço do Sul. Voltou com aproximadamente 250 quilos do peixe. Em outras épocas, recorda, voltaria com uma tonelada. "Mal dá para pagar as despesas", confessa.
Já o aposentado João Miranda, 64 anos, tem a pesca como profissão desde menino. Hoje, observa os colegas desistindo do ramo e procurando trabalho nas indústrias e no campo. "Os mais velhos resistem, mas os jovens estão indo embora", observa. A ausência de boas condições para a safra é o que mais desmotiva. A torcida agora é para a estiagem, um problema que já causa prejuízos em municípios da Zona Sul. "Se chover vai piorar o que já está ruim", aponta.
Se nas redes o crustáceo é pouco, nas peixarias tem menos ainda. Osvaldina Raldão, funcionária de um destes estabelecimentos, conta que o camarão vendido vem de áreas próximas a Rio Grande. A escassez do produto faz o preço disparar. Em média, o camarão sujo está sendo comercializado a R$ 22,00 o quilo, enquanto o limpo pode chegar a R$ 45,00. "Os clientes se assustam com o preço e perguntam quando vai baixar", comenta.
A busca por soluções
Diversos pescadores relatam que a ampliação dos Molhes da Barra na praia do Cassino vem interferindo na safra. Antes do aumento de um quilômetro na extensão do local, o lado de São José do Norte era consideravelmente maior. O vento Sul faz com que os animais marinhos sejam levados em direção aos paredões de pedra. Eles passam pelo Cassino e, ao chegar no outro lado, são desviados pela barreira e entram no canal que leva à lagoa dos Patos.
Com o aumento do lado do Cassino, o espaço para os animais entrarem ficou menor. O professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Ricardo Robaldo, afirma que a suposição em torno da ampliação dos Molhes tem sentido teórico. Contudo, precisaria de um estudo mais aprofundado para provar essa interferência, se é verdadeira ou não. O professor ainda explica que só este fator isolado não seria responsável pela queda na safra, mas aliado às variações nos fenômenos El Niño e La Niña, que podem, sim, contribuir para o mau momento.
Na próxima quinta-feira o Fórum da Lagoa dos Patos irá se reunir em São José do Norte para debater o tema. Na ocasião, os integrantes irão redigir um documento sobre a ampliação dos Molhes da Barra e sua possível interferência na pesca.
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