Menos dor

Seja Doce com os Bebês ganha adesão em Pelotas

Método originado no Canadá ajuda na redução de dor e de estresse na hora da aplicação da vacina injetável

Reprodução -

Quem é mãe já experimentou a sensação de impotência ao ver seu bebê berrar ao tomar a primeira vacina injetável. Mesmo ciente de que o procedimento é para o bem, a dor é compartilhada e as lágrimas rolam como cachoeira. Esse tipo de reação é comum e acaba por reduzir a ida das mamães aos postos de saúde, para evitar o sofrimento dos filhos. Na tentativa de mudar o comportamento de proteção maternal, um grupo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) iniciou o projeto-piloto Seja Doce com os Bebês, capitaneado pela professora Ana Cláudia Vieira, da Faculdade de Enfermagem. O método consiste em apenas três atitudes que podem fazer a diferença.

"As pesquisas apontam que amamentar na hora da aplicação da vacina, oferecer pequenas doses de soluções adocicadas para o bebê ou encostar o corpo do filho ao da mãe ajudam a reduzir a dor e o estresse do pequeno", diz a professora. Mas para o procedimento funcionar, o local precisa oferecer um cômodo confortável, de preferência em uma cadeira de balanço. "O contato pele a pele transmite mais segurança." Em experimentação desde junho do ano passado, em parceria com a 3ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) e a Secretaria Municipal de Saúde, requer pouco investimento.

"Ainda não contamos com financiamento, portanto trabalhamos na coragem", afirma a coordenadora. Futuramente, o Seja Doce com os Bebês vai tentar financiamento junto à Fundação Bill e Melinda Gates. Enquanto isso, a prática é experimentada nas Unidades Básicas de Saúde da Bom Jesus, do Simões Lopes e no Posto de Puericultura, que estão em plena campanha de vacinação contra a gripe. Neste sábado, inclusive, é o Dia D de Vacinação. As 40 UBSs da zona urbana e o Centro de Especialidades estará aberto, das 8h às 17h, para a imunização contra a Influenza.

Falta coragem
No Posto de Puericultura, Josiane Vaz Gonçalves, de 32 anos, aguardava atendimento para o pequeno Kevin Gonçalves Pinheiro, de apenas seis dias. No dia anterior, ela enfrentou o teste do pezinho, que também provocou dor no bebê. "Procurei ficar calma e serena para ele (Kevin) não sentir minha aflição. Mas confesso que tive vontade de chorar." Já as vacinas do filho mais velho, o Yago, de cinco anos, foram acompanhadas pelo pai, uma vez que Josiane não teve coragem. "Acho o método válido e deve ajudar muitas mães", observou.

Certificação
A pesquisa foi feita no Canadá e o artigo, publicado pelo grupo de expertise da OMS em 2015, é o primeiro documento sobre a mitigação da dor em todas as faixas etárias. Com textos originais em inglês e francês, ganhou tradução brasileira pela professora Ana Cláudia, durante o seu pós-doutorado, para disseminar a prática pelo Brasil. "As atividades que estamos desenvolvendo junto aos gestores, profissionais de saúde e pais da região, para reduzir a dor das crianças e qualificar as práticas de imunizações, podem contribuir para a satisfação e a confiança dos mesmos, e ainda melhorar a aderência e a cobertura ao calendário vacinal na faixa de zero a 12 meses", salienta.

Experiência com inovação
Com 20 anos de experiência no trabalho de imunização, neonatal e triagem, a enfermeira do Posto de Puericultura, Márcia Vecchi, conta que o projeto vem para somar às práticas adotadas na UBS. "Nós fizemos aqui uma espécie de catequização com as mães, que estão cada vez mais esclarecidas que vacina é proteção", observa. No entanto, a questão da dor ainda é uma barreira para Márcia. O exemplo citado por ela é o dia em que o bebê precisa tomar duas vacinas, uma em cada perna. "A maioria pede para fazer outro dia." A profissional lembra que nos últimos anos teve um aumento no calendário vacinal e, consequentemente, uma redução no número de doenças. "O importante sempre é deixar a mãe em situação de conforto e o projeto nos dará um suporte."

Resposta
A coordenadora Ana Cláudia explica que serão feitas revisões sistemáticas para mostrar o efeito dessas intervenções na redução da dor, ou seja, uma comparação entre o antes e o depois. Parte dos resultados poderá ser conhecida no dia 19 de junho, durante a segunda edição do Café Científico, às 19h, na Bibliotheca Pública Pelotense (BPP).

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