As primeiras coletas do exame de papanicolau, reiniciado na última semana, foram encaminhadas na sexta-feira para a análise no laboratório do Hospital de Caridade Nossa Senhora da Conceição, em Piratini. Diante da incerteza causada pelas denúncias de fraude, a população demonstra desconfiança na hora de realizar os exames, considerados fundamentais para a detecção precoce do câncer de colo de útero.

Foram 135 coletas na primeira semana, de acordo com a secretária de Saúde de Pelotas, Ana Costa. Neste número estão inclusas as 24 amostras feitas na semana passada. A confeiteira Dilce Costa Nunes, de 56 anos, aguardava a coleta na UBS Salgado Filho. Segundo ela, o sentimento de desconfiança prevalece na hora de fazer o exame. "Confiar, confiar não dá...", lamenta. Ela realiza o exame anualmente e lamenta não ter outra opção, destacando que preferia seu exame sendo feito em outra rede.

O contrato emergencial entre a prefeitura de Pelotas e o Hospital de Piratini tem dois meses de duração e previsão de dois mil exames sendo realizados. A licitação para um novo laboratório está aberta até a próxima terça-feira.

Mudança de referência

Municípios da região estão mudando seus contratos para laboratórios em Canguçu e Rio Grande, com Pelotas deixando de ser a referência. De acordo com Diego Espíndola, presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems/RS), o laboratório em Piratini não possui habilitação nacional e, por isso, não poderá receber amostras por contratos do Estado.

Desta forma, os municípios passarão a ter suas análises feitas por laboratórios que já mantinham contratos com o Estado. Assim, Rio Grande, Chuí, São José do Norte e Santa Vitória do Palmar enviarão as coletas para o laboratório da Furg, em Rio Grande, realizando entre 500 e 600 análises mensais. O restante dos 16 municípios fará em Canguçu, com mais de 1,8 mil exames de referência sendo feitos.

No IGP

As 17 mil análises recolhidas no final de julho pelo Ministério Público e entregues à custódia do Instituto Geral de Perícias (IGP) em Porto Alegre seguem com sua situação sob segredo de Justiça. A assessoria do órgão disse que as análises estão com o Departamento Médico Legal e só terão seus resultados divulgados pelo Ministério Público.

Enquanto isso, a prefeitura de Pelotas e o laboratório SEG - Serviços Especializados de Ginecologia mantêm uma disputa jurídica. O município quer refazer 2,1 mil análises realizadas entre 2014 e 2017 para tentar obter conclusões o quanto antes. Por sua vez, o laboratório não quer entregá-las, sob o argumento de que a análise do IGP é o suficiente para obter uma resposta imparcial.

Família de falecida entrará com ação

Emanuele Machado da Silva faleceu na sexta-feira da semana passada. A advogada da família, Samira Pereira, falou em nome deles com a reportagem e revelou que Emanuele fez o exame de papanicolau na UBS Barro Duro em julho de 2015, após procurar a unidade com hemorragias. No final de setembro o resultado apontou negativo para câncer. Ao desconfiar, ela fez exames de ultrassom, que indicaram carcinoma de grau três no útero, rim e uretra. Após o óbito, os familiares decidiram entrar com ação indenizatória responsabilizando o município e o SEG.

Os dados do Ministério da Saúde revelam uma média de 1,28 morte por câncer de colo de útero por mês em Pelotas desde 2013. Na Região Sul, a média sobe para 2,63 óbitos. Questionada quanto aos números, a secretária de Saúde afirmou que reflete uma realidade padrão.

Ano Mortes em Pelotas Mortes na região

2013       16                    30
2014       11                    26
2015       14                    32
2016       17                    32
2017*     18                    33
2018**     5                    13

*Dados preliminares
** Dados preliminares e computados até março
(Fonte: Ministério da Saúde)