Educação

Sem merendeiras, mães e professoras fazem lanches de alunos no Assis Brasil

Com a despensa cheia, faltam profissionais para o preparo da comida e familiares se somam a funcionários da escola na tarefa

Foto: Carlos Queiroz - DP - Mães estão se revezando para fazer a merenda dos alunos

Estoques lotados, freezers cheios de carne e nenhuma merendeira para cozinhar. Essa é a situação enfrentada pelo Instituto Estadual de Educação Assis Brasil, em Pelotas, desde o início do ano letivo. O problema não é novidade. Desde o ano passado, o turno da noite já não tem ninguém para comandar a cozinha. Diante da falta de profissionais em todos os turnos em 2023, servidores e mães de alunos têm se organizado para não desassistir os 1,3 mil estudantes da instituição.

A vice-diretora do turno da tarde do Assis Brasil, Margarete Hirdes, conta que o quadro de funcionários da escola está se desdobrando para evitar que os estudantes fiquem sem refeições. "A gente tem vários projetos e ideias, mas não tem como respirar aqui dentro. Ninguém consegue gerir uma escola fazendo todo o operacional e o administrativo", desabafa. No momento, há apenas uma merendeira efetiva, que se encontra em licença-saúde. A vice-diretora questiona, também, a falta de respostas e soluções por parte do Estado. "Quem cuida dos contratos para garantir esse serviço? Isso é o afastamento total do Estado das suas responsabilidades."

Segundo Margarete, os problemas vão além da falta de merendeiras. Estrutura, limpeza e falta de monitores são algumas das queixas da comunidade interna. "Acenaram com a possibilidade de vir algo para infraestrutura, porque estamos com dois servidores para três prédios. Imagina os banheiros", relata. "Uma organização escolar não funciona assim. Precisamos da escola funcionando normalmente, não podemos prescindir de merenda, assim como não podemos prescindir de biblioteca, limpeza e outros setores", conclui.

Esforços coletivos

Na tarde de quinta-feira (9), o cardápio improvisado para os alunos do turno da tarde era pão recheado com frango desfiado, ervilha e milho. O "galinhão" adaptado foi a opção encontrada pelo grupo de cinco mães e uma servidora que, voluntariamente, foram ajudar a escola a atender os estudantes. A agente educacional da instituição, Catarina Silva, que também tem uma filha matriculada na escola, conta que começou a dupla jornada ainda em 2022. "Ano passado ficamos seis meses sem merendeira à noite. A da tarde deixava as coisas prontas para eu assumir à noite. Fazia todo o meu serviço e mais isso", conta.

A mãe Suelen Oliveira, que tem um menino de oito anos no Assis Brasil, deixou o filho mais novo, ainda bebê, para ir à cozinha escolar. "Amamentei meu filho e deixei com a minha mãe pra poder ajudar. Isso é um absurdo e dói o coração. Tem muita criança que depende dessa merenda", comenta.

Já outra voluntária, também mãe de aluno, Luciane Noronha, complementa que não se deve romantizar a mobilização, uma vez que a situação nem deveria existir. "Acho que a direção está fazendo tudo que consegue. Se fosse de outro jeito, as crianças iam ficar sem merenda. Na quarta-feira mesmo uma menina me disse que ainda não tinha almoçado."

Solução à vista

Ao Diário Popular, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) informou que na última terça-feira foi assinado contrato emergencial com empresa terceirizada para atender a região da 5ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), que contempla Pelotas e outros 17 municípios. No total, serão preenchidos 73 postos de trabalho, todos referentes ao serviço de merendeira.

Ainda conforme a Seduc, a ordem de início foi dada no dia 8 de março e, a partir desta data, a empresa tem cinco dias para iniciar os trabalhos. No Assis Brasil serão preenchidas três vagas de merendeira, que se somam à funcionária efetiva (que está em licença). As causas para a falta de profissionais não foram especificadas.

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