Polêmica

Surgem novas denúncias de violência sobre a casa de acolhimento de Canguçu

Relatos envolvem o fornecimento de alimentos estragados a crianças, violência física e importunação sexual; coordenadora foi desligada do cargo na semana passada

Foto: Divulgação - DP - Novas denúncias de maus tratos começaram a surgir

Após a coordenadora e uma cuidadora da Casa da Criança e do Adolescente terem sido acusadas de agredir fisicamente uma menina de 14 anos, novas denúncias de maus tratos contra os acolhidos começaram a surgir. Assim como no episódio que veio à tona no mês passado, em 2019, um dos casos foi registrado no Ministério Público. Além disso, uma ex-funcionária* relata que alimentos vencidos e estragados eram dados às crianças. Já outra pessoa diz que a gestora praticava violência psicológica contra as cuidadoras e se omitia em situações de agressividade entre os menores.

O caso reportado na semana passada no Diário Popular foi pauta de uma reunião, na quinta-feira, entre representantes dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras), conselheiros tutelares e secretários na sede do Conselho da Criança e do Adolescente (Comdica). Como resultado, a coordenadora da Casa foi desligada do cargo e ex-funcionárias começaram a relatar outras ocorrências de violência que ocorreram há no mínimo quatro anos e que não haviam sido denunciadas antes por medo de represálias.

Uma das ocorrências de 2019 foi feita por duas irmãs que relataram terem sido vítimas de maus tratos e importunação sexual. Conforme a denúncia apresentada ao Ministério Público (MP) pelo padrinho de uma das meninas, a acolhida mais nova, de 16 anos, teria sido derrubada de um beliche e estapeada por um cuidador que trabalhava no local na época. Isso porque ela estaria conversando no horário determinado para dormir. Além disso, no depoimento é relatado que dois dias antes das agressões o mesmo homem havia colocado a mão nas partes íntimas da jovem e de sua irmã, e que a partir disso elas passaram a evitá-lo, o que teria deixado o funcionário furioso.

No registro ainda é destacado que a coordenadora estaria a par de todas as situações em que as adolescentes foram submetidas. O padrinho da menina diz que contou as ocorrências à mulher e relatou sobre os hematomas, mas que a mesma teria dito que "o que acontece na casa, fica na casa".

Na Casa da Criança

Já na Casa da Criança, uma funcionária que trabalhou no local como cuidadora entre 2018 e 2021 conta que frequentemente faltavam itens básicos, como medicamentos para os acolhidos com laudo. Além disso, a mulher afirma que por diversas vezes presenciou a gestão fornecer alimentos estragados e vencidos para as refeições das crianças. "A gente questionava e não queria dar o alimento para a criança, mas diziam que é o que tem".

Ainda de acordo com a ex-cuidadora, a Casa recebia inúmeras doações de alimentos, principalmente aos finais de ano, mas os itens não chegavam na mesa para os menores. "Mas sempre sumia, na véspera do ano novo chegou muita coisa, então imaginavamos que seria recheado, mas chegamos no plantão e não tinha nada". Por fim, ela diz que durante um período trabalhou na casa do Adolescente e que, quando algo inadequado ocorria, a coordenadora pedia para que as funcionárias não registrassem em ata. "Então são muitas coisas que vão além da violência física". A mulher destaca que ninguém denunciava a coordenadora por medo da perda do emprego, já que ela teria "as costas quentes com a prefeitura".

Violência psicológica e Física

"Tinha um adolescente que entrava na Casa das Crianças e batia nelas, a gente falava e ela não fazia nada", conta mais uma ex-cuidadora. O caso ocorria porque a Casa da Criança e Adolescente seria no mesmo local e apenas a cozinha separaria os acolhidos. A mulher relata ainda que teria sido abusada por este mesmo adolescente. "Ele tentou me agarrar à força, eu comentei com a psicóloga e ela [coordenadora] veio me xingar como se eu fosse a errada".

A denunciante conta também que as funcionárias eram maltratadas pela coordenadora e eram obrigadas a cumprir carga horária acima da permitida. "Ela sempre humilhou muito a gente e queria forçar a gente a trabalhar três dias seguidos de 12 horas. Dizia que se não estivesse bom para alguém que pedisse para sair". Além disso, conforme o relato, a gestora usava um veículo do Município para os seus deslocamentos. "Um carro da Prefeitura com motorista levava e trazia ela de casa todos os dias para ir trabalhar".

Desligamento e investigação

A coordenadora da Casa da Criança e do Adolescente foi desligada do cargo após uma denúncia de violência física contra uma adolescente de 14 anos ter sido apresentada no Ministério Público e um Boletim de Ocorrência ter sido registrado no dia 26 de outubro. O caso está sendo investigado. Questionado sobre o destino da cuidadora que também foi acusada de ter agredido a menina e sobre o veículo que supostamente atendia a coordenadora, o secretário de assistência social, Cristian da Cruz, não retornou até o fechamento desta reportagem.

*Os denunciantes que apresentaram relatos na matéria preferiram não serem identificados por medo de represálias.


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