Mudanças

Um Dia das Mães diferente

Diante da pandemia, muitas mães precisaram buscar formas para amenizar a saudade dos filhos

O tradicional almoço de Dia das Mães precisará ser readaptado em inúmeros lares. Em função da pandemia global do novo coronavírus, diversas famílias não poderão reunir-se para celebrar a data, fazendo com que mães e filhos não consigam trocar presentes e abraços presencialmente. Porém, nesse momento, a distância é o ato mais puro de amor e deverá ser a protagonista nesse 10 de maio.

A enfermeira Luciane Milgarejo, 36, atua no Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel) e no dia 18 de março precisou tomar uma decisão difícil: afastar-se da filha Helena, dez anos, para protegê-la da nova doença. Trabalhando na ala Covid, a profissional da saúde tem certeza que a distância é sinônimo de cuidado e amor. Já são 52 dias longe e a única palavra capaz de resumir a fase que mãe e filha vivem é saudade. “Vai ser o primeiro Dia das Mães que passo longe dela e da minha mãe”, contou. Sempre foi costume da família Milgarejo reunir-se na data, em alguns anos o plano era almoçar fora, em outros o tradicional churrasco acontecia. Em 2020 será diferente, e conforme relata Luciane, a protagonista da vez será a videochamada. É através da tecnologia que as famílias estão arrumando alternativas para conversar e felicitar à distância. O lado positivo dessa história, e que também acaba consolando a enfermeira que é mãe e filha, é que Helena passará a data com uma referência materna. “É como se fosse a segunda mãe dela”.

Os dias são difíceis e cheios de incertezas para quem precisa, literalmente, lutar contra o novo vírus. Para Luciane, a maior dificuldade é o afastamento, mas ela garante que isso contribui para aprender a valorizar a proximidade entre as pessoas. A nova fase é definida por ela como um período solitário, e para quem não era fã da tecnologia, restou a adaptação. “Eu sempre detestei esse tipo de comunicação, então é muito difícil”, afirmou, relembrando que nada supera o afago de um abraço. Sem dia certo para rever a filha, a saudade se mistura com medo do futuro. “Sempre vem essa questão do que ainda pode acontecer”, desabafou. A mudança na rotina traz angústia, que muitas vezes acabam se transformando em lágrimas durante as ligações, mas para amenizar esse misto de sentimentos as conversas acontecem diariamente. E mesmo de longe, Helena não deixa de cuidar da mãe. “Ela pergunta se saio de máscara, se lavo as compras”, disse.

Conhecidas por serem “grudadas”, a maior dificuldade da filha, segundo Luciane, também é conseguir lidar com a distância. “A gente vivia se abraçando e falando sobre tudo”, relembrou, com a voz embargada. Prestes a completar dois meses sem se verem, a profissional da saúde explica que a decisão do afastamento não foi planejada, mas sim um instinto de proteção. “Parecia que seriam algumas semanas só, nunca pensei em meses”. Em uma das conversas, o único desejo de Helena era voltar no tempo para mudar uma coisa: a profissão da mãe. “Ela disse que se eu tivesse escolhido outra profissão estaríamos isoladas juntas, e isso é bem triste”, desabafou a enfermeira que lida diariamente com o trabalho e a saudade. Mas diante de tudo isso existe uma certeza: não se sabe quando, mas vai passar e Helena e Luciane voltarão a se abraçar

Na linha de frente da segurança

Também na linha de frente, mas pela segurança, a policial militar soldado Sabrina, 38, pela primeira vez terá um Dia das Mães diferente. Em 2020, a data será comemorada em casa, na presença do marido e das duas filhas, Maria Eduarda, 11 e Sophia, de um ano e meio. “Entendemos que permanecer isolado seja a melhor opção”, disse. Nos anos anteriores a família não precisava lidar com restrições, então passeios ao ar livre e visitar o restante dos familiares eram opções para eles. Sabrina também é filha e esse ano irá abdicar do abraço físico na própria mãe, em nome da segurança das duas. “Mas estaremos juntas em pensamento”, completou. Com a ajuda da tecnologia, a troca de carinho e felicitações será virtual. “Através de uma videochamada poderei desejar feliz Dia das Mães”, disse, emocionada.

Com a pandemia, a soldado precisou criar hábitos de higiene diferentes dos usuais. A mudança, que ocorre desde a saída até o retorno para casa, tem um propósito: proteger quem ela mais ama. Na porta de entrada ela já tira os coturnos e higieniza as mãos. Entra pela garagem, tira a farda, toma banho, coloca uma roupa limpa. É um ritual diário. Depois disso, a hora mais esperada chega: estar perto das pequenas. 

No trabalho, todos os cuidados são tomados, como a utilização dos EPI’s recomendados pelo Ministério da Saúde, a higienização das mãos, o distanciamento entre os colegas e sempre manter os ambientes sejam os administrativos, os de policiamento ou as viaturas arejados. “Temos o receio de nos contaminarmos e contaminar nossas famílias, mas necessitamos realizar nossos serviços”, relatou.

O desejo de ambas as mães, que mesmo em posições diferentes tiveram a missão de se adaptar ao novo momento, é um só: que abraços e beijos voltem a ser a principal demonstração de carinho.

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