A carreira já estava definida. Há décadas. A renda familiar também. A vontade de compartilhar conhecimentos, entretanto, fez com que o pelotense Jardel Luciano Borges, 48, retornasse à sala de aula. Primeiro, para cursar Pedagogia. Depois, para seguir uma vocação: estar em frente à gurizada para ensinar. Neste 15 de outubro, em que se celebra o dia dedicado aos mestres, o Diário Popular traz a história do eletrotécnico que fez questão de reservar um turno para se tornar professor da rede pública de ensino.

A cada novo expediente, quando chega à Escola Municipal Luciana de Araújo, Jardel enxerga a cena se repetir: começa as atividades com a criançada do 4º ano animado. E, embora admita o cansaço diário, está decididamente feliz com o Magistério. “Acabei me apaixonando e penso que, como professor, posso dar a minha contribuição social”, afirma.

Para cumprir o juramento - pronunciado naquele 25 de março de 2017 -, se colocou um desafio: ministrar aulas divertidas, que tornem mais leve o processo de aprendizagem. E tem conseguido. Não apenas durante o expediente. Jardel criou dois grupos no Facebook para interagir com pais e alunos. E o melhor: produz materiais direcionados a um ou outro estudante, conforme o conteúdo a ser trabalhado.

Quem conta é a mãe da aluna Eduarda, Rosângela Rosa Bartz. “Ele se importa se a criança está aprendendo e chega a mandar vídeos especiais pra Duda”, conta. E destaca: a atenção especial tem dado resultado positivo tanto nas notas - principalmente de Matemática - quanto no comportamento. Eduarda tem ganhos em autoconfiança e em ânimo também para leitura. “Ela tem pego mais livros na biblioteca”, comemora Rosângela.

Estudar pode ser gostoso
De repente, Jardel desaparece da frente da turma. Transforma-se em aluno. E, repleto de curiosidades e dúvidas, dispara questionamentos a um dos pequenos, que faz as vezes de professor. É uma das estratégias para verificar se a gurizada fixou bem os novos ensinamentos. “A gente repete, repete, repete, até aprender”, reforça a estudante Christiane Fernandes da Silva, de dez anos, e mostra o caderno com inúmeros exercícios de Mínimo Múltiplo Comum (MMC).

Brincadeiras que envolvem a dupla Gre-Nal. Palmas para marcar a hora de fazer silêncio. Jogos educativos e planos de aula diferenciados, com abordagens distintas conforme o perfil da criançada. “Não somos um depósito de alunos. Somos uma escola inclusiva. Por isso, a importância do mix de metodologias”, enfatiza o professor. E também destaca os bons resultados com as videoaulas sequenciadas, enviadas através da rede social, para fixar o conteúdo.

Convicção costuma ser a marca entre os educadores
Se dependesse dos salários - às vezes, nem em dia -, eles já teriam desistido. O pagamento do Piso Nacional da Educação também segue apenas no papel. Falta de pessoal. Sobrecarga de trabalho. Infraestrutura precária nas escolas. É um cenário que, não raro, se apresenta aos mais de 2,2 milhões de professores da Educação Básica no Brasil - apontam dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). E para suportar a falta de investimentos em área tão essencial à formação cidadã, as palavras que se sobrepõem, historicamente, têm sido: resistência e superação. Para compensar os salários achatados e ampliar a renda, não raro, recorrem a outras atividades que permitam ter qualidade de vida. No caso de Jardel Borges, o caminho foi inverso, mas com uma mesma determinação de manter o ensino da rede pública em pé.