Racismo

Um dia para lutar por igualdade

Apesar de tímidos avanços, a situação do negro na cidade ainda é complicada

Gabriel Huth -

Sete em cada dez vítimas de homicídio no Brasil são negros. Eles enfrentam mais dificuldade na progressão de carreira, na igualdade de salários e são os mais vulneráveis ao assédio moral, segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT). Na periferia pelotense, local caracterizado por bolsões de pobreza, são a grande maioria, segundo a Central Única das Favelas (Cufa). Nesta quarta-feira (21), Dia Internacional de Luta contra a Discriminação Racial, o convite é para debater o tema em uma audiência pública marcada para as 11h na Câmara dos Vereadores.

Os negros, comunidade formada por pretos e pardos, correspondem a 20% da população de Pelotas, segundo o censo do IBGE de 2010. Porém, Fábio Gonçalves, advogado e presidente do Conselho Municipal da Comunidade Negra, estima que este número seja bem maior, em torno de 54%. Ele explica que a diferença se dá por uma espécie de medida protetiva imposta pelas próprias pessoas. "Eles não se autodeclaram porque não veem negros e negras em espaços de relevância. Não querem se estigmatizar", esclarece. A projeção do IBGE é feita através de autodeclaração.

"A intolerância ainda existe. A discriminação existe. Precisamos desenvolver projetos que formem uma sociedade com mais empatia." A avaliação é do coordenador da Cufa em Pelotas, Edson Mesquita. Através do trabalho desenvolvido na periferia pelotense, ele percebe que faltam oportunidades à geração atual. A ausência de atividades relacionadas à cultura e ao esporte, por exemplo, facilita o aliciamento pelo tráfico de drogas. "Estamos formando uma geração de jovens desmotivados", opina.

Apesar de corresponder a boa parte da população, os negros ainda sofrem com o preconceito. "No centro, a população da favela ainda é vista como marginal, criminosa. A verdade é que na periferia tem muita gente humilde marginalizada", avalia Edson. Fábio Gonçalves afirma que essa comunidade é presença massiva nos bolsões de pobreza das favelas. "São questões que influenciam para os negros ainda serem sistematicamente expulsos do sistema educacional", avalia o advogado.

Para tentar reverter este quadro, a Cufa desenvolve diversas atividades nos bairros. "Buscamos criar novos líderes, estimular a participação da população nas esferas de decisão", explica. Um destes espaços é a Câmara de Vereadores. Nesta quarta-feira (21), às 11h, uma audiência pública proposta pelo vereador Reinaldo Elias irá discutir assuntos em torno da discriminação racial. "Queremos que o negro seja percebido na sociedade como um ser humano assim como os outros", comenta o parlamentar. Diversas lideranças da área foram convidadas para o encontro.

Um conselho atuante

O Conselho Municipal da Comunidade Negra, presidido pelo advogado Fábio Gonçalves, é um dos órgãos responsáveis por pleitear mais representatividade para esta população. Apesar dos avanços percebidos nos últimos anos, o advogado afirma que a situação dos negros na cidade ainda é muito aquém da desejada. "Temos apenas uma secretária negra no governo", frisa. Além disso, atenta para o fato de que 80% dos assassinatos cometidos em Pelotas têm pessoas negras como vítima.

Um fato ainda traz um pouco de esperança para quem luta há tanto tempo por mais igualdade: o avanço no acesso à universidade. Fábio também é integrante do Núcleo de Ações Afirmativas e Diversidade (Nuaad) da UFPel e auxilia na avaliação dos candidatos que pretendem ingressas por cotas raciais. "Nos últimos anos começamos a ver negros e negras materializarem o sonho de cursar uma faculdade", afirma.

 

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