Uma tarde com música ao vivo, marchinhas e artistas circenses levou alegria aos moradores do Asilo de Mendigos na quarta-feira (14). Servindo lanches e interagindo com os idosos, alunos do Instituto Federal Sul-rio-grandense Campus Visconde da Graça (IFSul - CaVG), dos cursos técnico em Meio Ambiente e tecnólogo em Gestão Ambiental, foram responsáveis por uma tarde diferente para os moradores. Tudo isso faz parte do projeto de extensão Educação Ambiental: Práticas Afetivas no Asilo de Mendigos de Pelotas.

Mas como tudo isso se relaciona com o meio ambiente, tema de estudo dos alunos? "Queremos desmistificar que educação ambiental é só resíduo, lixo… É qualidade de vida para o ser humano", defende a coordenadora do projeto, Luciana Roso Arrial. Ao lado do também professor Leonardo Galli, desenvolveu a iniciativa neste ano. Ela garante que o tema parte da conscientização das pessoas quanto ao que as rodeia, as sensibilizando como seres humanos. Essa interação com o todo, inclusive através do ato de proporcionar alegria, também é uma ação socioambiental, explica.

Ao sensibilizar e conscientizar um cidadão através da alegria, a atitude faz o mundo ficar menos egoísta e agressivo. Ensinando a proteger e amar, entende-se que o estudo do meio ambiente não se trata apenas de plantas, animais e lixo. E é essa a ideia do projeto, iniciado em julho com apenas oito alunos, mas cada vez maior. Não vale nota, nem nada. A iniciativa proposta em aula era de realizar uma ação desse tipo e o asilo foi escolhido. E, ao extrapolar os limites da sala de aula para a boa ação, extravasou também os limites de quem participaria. Agora, não só alunos frequentam o projeto. Familiares, amigos e a comunidade em geral estão convidados. A própria professora Luciana leva o filho e a mãe para participarem. "A ideia é fazer uma rede. Interagir aos poucos. O único pré-requisito é trazer a alegria, vir disposto", explica. E a próxima ação já tem data: no mesmo local, no dia 5 de dezembro, às 14h30min.

Alguns idosos ficavam acanhados conforme a movimentação começava. Outros iam o quanto antes para o refeitório. Houve quem fosse mudar de roupa para ficar em trajes mais sociais. E, para uma delas, a coincidência foi especial: era o 76º aniversário de Ivone Maria Brandt. A surpresa com o coletivo chegando fez ela sair da cama e juntar-se ao grupo. Ao chegar, uma emocionante surpresa, todos cantaram Parabéns. "É uma alegria, uma alegria muito grande", resumiu.

A rede foi aumentando consideravelmente. Artistas circenses do grupo Tholl participam alegrando os idosos. O grupo Medicação leva música e dança. E os voluntários e os alunos, claro, também têm seu papel, seja servindo lanches, seja dançando com algum vovô ou vovó, seja apenas dando o carinho e a atenção, tão valiosos para este público. E até mesmo os alunos acharam surpreendente o projeto inicialmente. Amanda Domingues, de 20 anos, diz que esperava estudar o meio ambiente através dos conceitos que todos imaginam. Maravilhou-se com esse novo horizonte ampliado. "Abriu os meus olhos (…) meio ambiente também é cuidar de tudo o que cerca as pessoas", revela.

Sorrisos e atenção para quem precisa
Para quem chega no Asilo, uma figura costuma se destacar. Ataltiba Noé, de 77 anos, sempre alegre e conversador, já chega se apresentando. "Sou o pesquisador oficial do Asilo. E também compositor e trovador oficial". Disposto, comemora ações assim. "Tem gente aqui que a família não vem visitar. Quando acontecem, é uma alegria para todos nós", reflete. Enquanto as marchinhas de Carnaval tocavam no rádio, ele relembrava os "tempos de guri", quando celebrava a festa com os amigos. Para agradecer, elaborou de improviso uma trova, englobando tudo: celebrou a presença dos moradores do Asilo, dos visitantes trazendo a alegria e, claro, não esqueceu de guardar um verso para parabenizar a aniversariante do dia, dona Ivone.