Nova estação
Verão será de altas temperaturas e estiagem
Sob influência do La Niña, estação que começa hoje poderá ser crítica para a agricultura
Jô Folha -
O calor já começou a ser sentido no Sul do Estado. Neste mês, por exemplo, os termômetros chegaram a marcar 36ºC em Pelotas. Entretanto, o verão tem início somente às 12h59min de hoje e prognósticos apontam para uma estação sob influência do fenômeno La Niña, que resultará em chuvas irregulares, com previsão de estiagem para a Zona Sul, além de temperaturas acima da média histórica. Para a agricultura, as projeções não são favoráveis e a qualidade e quantidade das culturas da estação podem ser afetadas.
Pode parecer o prognóstico do verão 2020/2021, mas assim como no último ano a estação estará sob influência direta do La Niña, que se caracteriza pelo resfriamento das águas do oceano Pacífico Equatorial. Com pico entre os dias 30 de dezembro e 1º de janeiro, com intensidade moderada, o fenômeno persistirá durante todo o período mais quente do ano, mas perderá forças no decorrer dos meses que antecedem o outono.
Como resultado da ação do La Niña, o verão contará com irregularidade de chuvas e variabilidade de acumulados totais com grandes diferenças entre uma cidade e outra. A Zona Sul está entre as regiões com maior risco de seca e, de acordo com a MetSul Meteorologia, há alerta quanto à produtividade nas safras de verão, diminuição dos níveis dos rios, risco de escassez de água para consumo humano e animal, além de risco acentuado de incêndios em vegetações.
Calor acima da média histórica
A MetSul projeta ainda uma estação com temperaturas acima da média histórica na grande maioria das cidades gaúchas, inclusive com jornadas de calor intensa em que as máximas devem ficar próximas ou superar os 40ºC - consequência das ondas de calor registradas na Argentina. "Como se antecipa um verão com períodos secos e alguns até longos, e uma vez que longos intervalos secos tendem a favorecer extremos de calor, é alta a probabilidade que se registrem fortes ondas de calor neste verão, não se descartando até uma ou outra intensa", explica a meteorologista Estael Sias.
Já em março, último mês do verão, temperaturas mais amenas devem aparecer na região, influência de rápidas passagens de ar frio vindos do mar, também consequência do La Niña.
Temor na agricultura
Após uma primavera nada favorável à agricultura na Zona Sul, o verão também chega com previsões nada animadoras. O registro de chuvas abaixo da média em outubro e novembro, devido a passagem de apenas duas frentes frias, além do registro de baixas temperaturas durante as noites e a alta incidência de ventos, resultou em diversos percalços nas plantações. "A primavera é a época de semeadura das principais culturas de verão que temos na região", pontua o engenheiro agrônomo e extensionista rural na Emater-Ascar, Rodrigo Prestes.
Dentre as culturas a serem destacadas na Zona Sul estão a soja, com uma estimativa de 98% a 99% do total já semeado e que agora entra no processo de florescimento e enchimento do grão. "Este ano tivemos um crescimento no quantitativo. Pelotas hoje tem 1.400 hectares previstos de soja e a falta de umidade em algumas semanas paralisou e atrasou a semeadura". Apesar da falta de chuvas, e da consequente umidade do solo, o agrônomo afirma que está dentro do planejado e ressalta que o mês de dezembro é considerado apto para a semeadura da soja.
Após a plantação do milho, o verão marca a época do florescimento do grão, período que deverá se tornar preocupante devido às projeções de escassez de chuva. "Nessa época o produtor precisa colocar fertilizantes no solo, principalmente ureia e fertilizantes nitrogenados, e só podem ser colocado com umidade. Logo, o produtor está bastante atento a essas condições climáticas que são apontadas", explica Rodrigo.
O pêssego, principal frutífera cultivada em Pelotas, já está na etapa final da colheita e o retrospecto não é favorável devido à falta de precipitações e o excesso de chuvas, havendo o comprometimento na qualidade e na quantidade da fruta. "O pêssego tem um período crítico, que são 30 dias antes da colheita. É neste que ele ganha mais tamanho e peso. Pela falta de chuva tivemos diminuição nos dois aspectos". Já durante a maturação, as chuvas registradas nas últimas semanas prejudicaram a qualidade do fruto, principalmente no que diz respeito à podridão tardia.
Já a uva, está em processo de frutificação ou crescimento das bagas. "O período de maturação da nossa uva é mais tardio do que comparado à Serra", explica o extensionista. A maturação do fruto está prevista para o início de janeiro e, até então, o clima sem chuvas tem sido favorável. "Nesse período, quanto menos umidade a gente tem no ar, favorece a questão de doenças".
Frente às previsões meteorológicas, Prestes destaca que o verão será um período crítico, no qual há possibilidade de estiagem e temperaturas elevadas. "A planta acaba perdendo bastante água e afeta praticamente todas as culturas da estação. Com isso podemos ter a redução na qualidade e também na produtividade", finaliza.
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