Crônica

Crônica de uma tragédia anunciada

Por Luciana Konradt
Advogada e Escritora

Palavras não têm força para definir a dor causada pela tragédia. Para externar a perplexidade diante do cenário de devastação das cidades submersas. Não há como verbalizar o sentimento de imensa tristeza e impotência ao ver o desespero das pessoas atingidas pelas enchentes. Tudo que for dito não será suficiente também para enaltecer a coragem daqueles que arriscam suas vidas nos milhares de salvamentos, em voos perigosos, a pé às cegas pelas águas turvas; ou nas travessias de barcos, sob chuvas, em meio à escuridão. Nada será capaz de descrever, ainda, a emocionante rede de solidariedade criada por voluntários, que auxiliam as forças públicas no enfrentamento da maior calamidade vivida pelo povo gaúcho.

Para especialistas, desde 2021, vivemos na era dos "eventos climáticos extremos". O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, em 2022, já havia apontado como "irreversíveis" algumas das consequências do aquecimento global. E alertava para a necessidade de ações urgentes e coordenadas para barrar a emissão de gases de efeito estufa. No relatório do IPCC, de 2023, ficou evidente, ainda, que além de reduzir os níveis de emissão, será necessária a eliminação de parte o carbono já presente na atmosfera. Na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (COP28, de Dubai), estudo científico indicou os "pontos de não retorno", marcadores críticos a partir dos quais a reversão às condições anteriores já não é mais possível.

Há muito, a despeito da postura de negacionistas, a questão climática é tema de alerta. E o pior, deixou de ser especulação de estudos do mundo científico. Agora, cada vez mais, extrapola prognósticos e pesquisas, para apresentar-se diante de nós, à nossa porta, como fenômeno dolorosamente real. Nas últimas semanas, para os gaúchos, as piores previsões foram confirmadas. Materializadas como pavor nos olhos e no semblante de quem perdeu familiares, amigos e a casa para a força das águas. Como circunstância trágica a exigir, mais do que nunca, a soma de esforços do governo e sociedade na tentativa de minimizar seus efeitos dramáticos, curar as feridas e criar formas de prevenção mais eficazes.

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