Manoel Jesus

Educação: entre o caos e a esperança

Por Manoel Jesus

Educador

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Periodicamente, vêm à tona denúncias de atitudes preconceituosas, em especial racistas, em educandários, especialmente particulares, quando há uma quota de alunos carentes, contemplados com bolsas ou outros benefícios. Recentemente, foi o caso de um vídeo gravado no Colégio Israelita Brasileiro em que estudantes fazem comentários que repercutiram nas redes sociais. Ainda fruto da última campanha eleitoral, são alvos os nordestinos, colegiais pobres e professores que também dão aulas em escolas públicas.

Ouvi a discussão a respeito num programa de rádio em que comentarista afirmava que as instituições deveriam investir mais tempo em criar valores nas crianças e nos jovens. Foi rebatido por um educador que pediu que se discernisse educação de ensino. Sendo o primeiro, o que vem de família e grupo onde é criado e o segundo se dá na formalidade de conteúdos, reforçando referências e a própria interação social. Como consequência, não é difícil afirmar que uma criança educada e fruto de pais e familiares educados.

Triste pensar que num local em que se dá a formação das chamadas “elites” grassa um preconceito que não está na escola, mas se transforma em lugar de expressão, muitas vezes, de coisas ouvidas e apreendidas em ambientes de vivências, quando se pensa que ficarão longe da sociedade. O preconceito da menina que disse que o pai iria demitir a suposta adversária é de uma mesquinhes que resulta como estilhaços de uma campanha onde efetivamente isto foi divulgado, na tentativa de eleger candidatos.

A escola apressou-se em soltar nota em que dá conta para a sociedade, mas também não quer se indispor com a sua clientela. Genérica e vaga, seria desnecessária se medidas preventivas fossem tomadas advertindo e, de fato, tolhendo atitudes preconceituosas. E publicizando, mesmo sem identificar alunos, por serem menores. Como outras notas que se tornam públicas, tem todo o jeito de ser um abafador de problemas, esperando que a sociedade - logo, logo - esqueça ou encontre outro escândalo para prestar atenção.

Quarta, a live Partilhando, da arquidiocese de Pelotas, tratou da Pastoral Carcerária. A agente Ângela Madono disse que o triste no encontro entre pais reclusos e filhos é que o estigma da pobreza dá a nítida impressão de que as crianças naturalizam a estada na penitenciária, quase acreditando que um dia também estarão ali... Contraponto perverso da gangorra social em que privilegiados não se dão conta do que possuem e aos marginalizados resta a sina de uma educação que não lhes oferece perspectivas.

Na quinta, a convite da Biblioteca Pública, participei de reunião, junto com integrantes da Academia Sul Brasileira de Letras, preparando evento literário. Ao subir as escadas, um “enfeite”: crianças, na faixa dos cinco anos, subiam em fila, sentaram nos degraus e tiraram fotos. Circulavam por ambiente onde se respira educação, ensino, literatura... Entre o caos e a esperança, são receita única em que, tratadas com carinho, tornam-se embrião da mudança social que, infelizmente, ainda não se vislumbra no horizonte.​

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