Conjuntura Internacional

Europa e Rússia: jogo perigoso

Cezar Roedel
Consultor de Relações Internacionais
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Com a adesão recente da Suécia na Otan, a organização de defesa passa a ter 32 membros, um pesado orçamento militar e um futuro incerto, a depender dos delírios soviéticos de Putin. No início da guerra na Ucrânia, ele afirmou que a Otan passou a ser uma ameaça à Rússia. Mas ao conduzir uma tática inicial fracassada, Putin acabou por fortalecer ainda mais a organização, a exemplo do que vemos com as últimas adesões e até mesmo com o aumento significativo do orçamento, tendo em vista exercícios militares que se farão a título de se manter a segurança internacional. A grande questão é que as potências ocidentais não souberam lidar com a mentalidade de Putin, isolando-o, para o seu grande remorso. Fosse uma projeção menor da Otan no espaço geográfico do leste europeu e uma diplomacia inteligente de integração relativa de Putin no jogo de poder ocidental, o cenário poderia ser diferente.

Europa: jogo perigoso
A Europa entra em um grande dilema estratégico, na medida em que continuará a dar o suporte indeterminado à Ucrânia. Será necessário criar uma estratégia de defesa inteligente, enquanto Zelensky planeja mais uma contraofensiva. A adesão recente da Suécia e, mais precisamente, a observação de Macron, que diz ser necessário derrotar a Rússia no contexto da guerra, enviando mais armas à Kiev, escala a situação a uma condição de extrema delicadeza geopolítica. Macron, de uma forma completamente impensada, também afirmou que talvez fosse desejável enviar tropas da Otan à Ucrânia. Assim, a narrativa europeia torna-se arriscada, em um jogo cujo resultado pode ser desastroso. O cálculo europeu deveria ser mais conservador, para manter a sua própria sobrevivência, considerando que o conflito se tornou uma guerra de atrito, onde não haverá vencedor.

A resposta do Kremlin
Não tardou para que a Rússia respondesse, tanto pela adesão sueca à Otan, como pela manifestação de Macron, afirmando que, de início, seriam tomadas ações "técnico-militares". Quando a Finlândia adentrou na Otan, narrativas também emergiram a partir do Kremlin, sem um desdobramento importante no contexto da guerra. Ocorre que agora Macron pontuou uma ameaça (com tropas na Ucrânia), dando combustível às aventuras de Putin.

Os cenários
Em um contexto de guerra de atrito, o apoio militar da Europa à Ucrânia também serve para escalar o conflito, agora que não há mais margem de manobra estratégica para os europeus, que começam a se preocupar ainda mais com a ameaça russa. Nesse sentido, a fala de Macron traz mais insegurança e incerteza. Com o apoio militar contínuo, o desejo de alguns líderes europeus é o de acreditar que a Ucrânia possa vencer a Rússia (talvez a única esperança que sobrou). Enquanto isso, Zelensky não deveria anunciar as suas contraofensivas, algo básico no meio militar. Ao fazê-lo, acaba induzindo novas narrativas russas. Há também, uma pequena esperança de que um acordo de paz possa prevalecer, pela mediação americana. Todavia, Zelensky nem cogita entregar a zona de Donbass (onde há maioria russa vivendo). Assim, sem concessões difíceis de ambos os lados, o conflito é insolúvel. A Europa e a Otan precisam pensar em uma estratégia inteligente, ao invés de escalar o conflito ou até mesmo provocar Putin. Macron deve tomar um chá de realidade. Poderia começar a estudar o legado de Merkel, e como ela lidava com a Rússia.

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