João Neutzling Jr.
O coração do mundo
João Neutzling Jr.
Economista, bacharel em Direito, mestre em Educação, doutorando em Sociologia, auditor estadual, professor e pesquisador
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A famosa rota da seda era uma linha de comércio que unia a Ásia Meridional (fornecedora de insumos e produtos) e o Oriente Médio com a Europa (consumidora) no século 19. O comércio não abrangia apenas seda (tecido de luxo), mas inúmeros produtos orientais muito apreciados no ocidente. O renomado viajante veneziano Marco Polo (1254-1324) percorreu a Rota da Seda no século 13 explorando novas rotas de comércio e oportunidades de negócios.
Agora vem a lume a obra O coração do mundo _ uma nova história a partir da rota da seda, de Peter Frankopan (Editora Crítica, 2021, 3ª edição), professor de História Econômica da Universidade de Oxford, Inglaterra. Na obra, o autor demonstra que o eixo de poder político e econômico do planeta está se deslocando do ocidente para o oriente de forma rápida e inconteste.
Em 25 capítulos, o autor faz uma viagem no tempo mostrando desde o Concílio de Nicéia, de 325 DC, a formação do islamismo, o zoroastrismo no Irã, a escravidão no Império Romano e no reino da Núbia, a busca por petróleo no Oriente Médio, a revolução islâmica de 1979 no Irã, até a expansão chinesa recente e o fortalecimento de sua geopolítica.
O movimento de pêndulo pró-oriente tem sua origem na integração chinesa no processo de globalização econômica. O grande responsável pela dinâmica foi o líder chinês Deng Xiaoping (1904-1997), que governou a China de 1978 a 1990. Ele foi responsável por criar uma economia socialista de mercado onde o Partido Comunista chinês segue como a única estrutura política, mas permitiu a migração do sistema estatal para o regime capitalista. Abandonando dogmas comunistas antimercado. Nas últimas duas décadas, o PIB da China tem crescido a uma taxa média de 9% ao ano. O país se tornou receptivo ao capital estrangeiro por meio das Zonas Econômicas Especiais, onde empresas estrangeiras podem se instalar, desde que tenham parceria com empresas chinesas.
Hoje, os Estados Unidos, por seu turno, já não têm mais a mesma pujança de outrora e suas fragilidades são notórias. O país tem uma dívida pública de 30 trilhões de dólares e um déficit na balança comercial (exportação menor que importação) de 120 bilhões de dólares ao ano. O PIB americano está em 23 trilhões de dólares. A China segue atrás com PIB de 19 trilhões de dólares.
O calcanhar de Aquiles dos Estados Unidos é o financiamento da sua dívida pública, que é feito com emissão de Treasury Notes (títulos do tesouro americano), adquiridos pelo Banco do Povo da China (People's Bank of China), cujo montante hoje é de 3,2 trilhões de dólares, a maior reserva cambial do planeta. Sem este fluxo financeiro os Estados Unidos quebrariam.
A China tem o maior volume de exportação do planeta, da ordem de 2,59 trilhões de dólares, é o segundo maior importador com volume de 2 trilhões. Hoje China e Estados unidos disputam pari passu a supremacia pela produção de chips e semicondutores que são vitais no domínio de tecnologias militares e de bens de consumo. Além disso, a China estabeleceu gasodutos e oleodutos com o Irã e Cazaquistão para se abastecer e pagando com créditos em Yuan (moeda chinesa), consolidando sua rede de comércio.
O coração do mundo no segmento financeiro, industrial e político está hoje nas mãos dos herdeiros de Mao Tsé-Tung. A obra de Peter Frankopan confirma esta realidade.
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