Editorial
Só os ventos não bastam
Ao passar pela Praia do Cassino ou pela BR-471, no extremo sul rumo a Santa Vitória do Palmar e Chuí, é impossível não notar ao longe elementos que até poucos anos atrás não faziam parte da paisagem do sul do Estado. Atualmente, os aerogeradores que integram os parques eólicos instalados nestas cidades são símbolos de um potencial que não é mais uma novidade, mas nem por isso é explorado como poderia. Juntos, os empreendimentos produzem 1 GW (gigawatt), mais da metade de toda a geração de eletricidade neste modelo no Rio Grande do Sul, como mostra reportagem de Douglas Dutra nesta edição.
Contudo, diante das possibilidades existentes, ainda é pouco, já que o Atlas Eólico do RS indica que o Estado tem como gerar até 103 GW com torres em seu território. Parte significativa disso justamente no sul, onde os ventos são apontados como propícios por serem fortes e constantes ao longo do ano.
É justamente por conta desse potencial que a Zona Sul tem, além dos parques eólicos já estabelecidos e produtivos, outros tantos projetos de implantação. São 73 os que aguardam trâmites das fases de autorização e instalação, o que poderia mais que dobrar a potência energética aproveitada na região.
Embora possa parecer, não é só a burocracia que emperra o avanço da geração eólica no sul do Estado. Há problemas estruturais, logísticos e econômicos que também interferem. Entre eles, a falta de linhas de transmissão suficientes e capazes de conectar a energia produzida pelos populares cataventos ao Sistema Interligado Nacional, para entrega e posterior distribuição da eletricidade. Some-se a isso, ainda, algo que precisa ser considerado: sem fábricas de peças para as torres de aerogeradores - como base e pás, por exemplo -, toda estrutura precisa ser transportada através de um esquema complexo e, por consequência, mais caro. Um custo a mais para quem deseja investir nos parques. A lógica indica que, diante de tantas boas áreas disponíveis nos municípios da Zona Sul e uma capacidade gigante de gerar energia limpa, indústrias deste setor poderiam olhar para o sul. Será que falta olhar político e empreendedorismo para isso?
Nossos ventos, outrora apontados até mesmo como uma característica negativa, hoje são reconhecidamente uma potência. Todavia, é preciso mais que bons ventos. É fundamental olhares atentos e ações efetivas para usá-los a favor da região.
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