Editorial
Rodovias ou pistas de corrida?
É assustador o dado obtido com exclusividade pelo Diário Popular e trazido em reportagem que estampa a manchete desta edição: em um ano, o número de infrações por excesso de velocidade nas rodovias federais da Zona Sul(BRs 116, 392 e 471) mais do que sextuplicou. Saltou de 1.183 flagrantes em 2021 para 7.800 em 2022. O que significa dizer que diariamente, ao longo do ano passado, em média 21 motoristas foram autuados rodando pelas estradas da região com mais pressa do que deveriam.
Os números que demonstram esse crescimento de casos levam a uma reflexão inevitável: se a fiscalização da Polícia Rodoviária Federal conseguiu flagrar 7.800 veículos em alta velocidade, 559% a mais que no ano anterior, imagine o quanto não há carros circulando acima do limite estabelecido pela legislação e, consequentemente, colocando em risco a vida dos condutores e passageiros. Tanto daqueles veículos que cometem a infração quanto dos que usam do bom senso, da prudência e do respeito às regras de trânsito. Afinal de contas, por mais que sejam instalados radares ou policiais se espalhem por diferentes pontos para controlar o fluxo, é impossível cobrir toda a extensão de rodovias o tempo todo. Logo, é de se concluir que as BRs da região têm muito mais gente em altas velocidades do que é possível constatar.
Em meio a tantas autuações, há o caso de um condutor que foi flagrado a 213 km/h na BR-392, mais que o dobro da velocidade máxima permitida na estrada, que é de 100 km/h. Uma imprudência cuja compreensão só seria possível - embora ainda assim extremamente arriscada e ilegal - na pouco provável hipótese de uma urgência de saúde em que alguém correndo risco à vida dentro do veículo dependesse de toda essa pressa para obter socorro imediato. Caso contrário, trata-se de irresponsabilidade incompreensível e que só colabora para que os dados de acidentes e mortes no trânsito no Brasil estejam entre os mais altos do mundo.
Alguns motoristas costumam justificar o pé mais pesado no acelerador apontando estar em trecho de rodovia em boa condição, às vezes duplicada, com boa visibilidade. Contudo, isso não pode servir como desculpa para a imprudência que pode terminar em acidentes graves, em alguns casos com famílias inteiras perdendo a vida. A luta de toda a sociedade - especialmente na Zona Sul - por estradas melhores e duplicadas não é para isso. Boas vias não significam que podem ser usadas como pistas de corrida. Elas são fundamentais para maior segurança no trânsito e desenvolvimento regional, mas só servirão a esse propósito se houver a essencial consciência e responsabilidade de todos que por elas transitam.
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