A terça-feira (23) foi de celebração da parceria entre o Brasil e o Uruguai em torno dos recursos hídricos compartilhados entre os dois países. A programação, que acontece na Agência para o Desenvolvimento da Bacia da Lagoa Mirim (ALM), ligada à UFPel, em Pelotas, comemora os 60 anos da Comissão Mista para o Desenvolvimento da Bacia da Lagoa Mirim (CLM). No evento, foi lançado um projeto de gestão binacional e integrada de recursos hídricos na bacia.

No encontro, estiveram presentes autoridades dos dois países, incluindo o ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, e o representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) para a América Latina e o Caribe, Mario Lubetkin.

O projeto, lançado pela FAO e pelo Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR), será financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) da ONU, que destinará R$ 25 milhões para fortalecer as potencialidades da bacia, integrando os setores públicos e privados do Brasil e do Uruguai. O foco da iniciativa, que tem duração prevista de cinco anos, será o uso sustentável e eficiente da água, a preservação de ecossistemas e adaptação às mudanças climáticas.

Integração das comunidades

O representante da FAO destacou a importância da parceria dos dois países para a vida das comunidades abastecidas pela Lagoa Mirim. "Trabalhar pelos recursos hídricos é uma questão de direitos. Quando a comunidade acessa água segura, se garante a proteção do entorno e do meio ambiente, seus meios de subsistência, sua saúde e sua nutrição", disse Lubetkin, que destacou a necessidade de preservação de recursos naturais diante das mudanças climáticas.

Lubetkin classificou o trabalho na Lagoa Mirim como um projeto modelo de cooperação entre países. "Creio no esforço intenso, com o nosso respaldo, para construir um projeto estratégico binacional que garanta estabilidade, que não é uma palavra simples, porque em tantos países do mundo, hoje, a água é um fator de guerra", disse.

Parceria histórica

O embaixador do Uruguai no Brasil, Guillermo Valles Galmes, relembrou a história da parceria entre os países, desde o início do século 20, quando as fronteiras entre os dois países no Rio Jaguarão e na Lagoa Mirim foram estabelecidas, passando por 1963, quando a CLM foi criada. "É um triunfo dos sonhos, da confraternidade, da paz e da cooperação internacional."

O Embaixador Extraordinário para a Mudança do Clima do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo Machado, destacou o papel da Bacia da Lagoa Mirim na relação do Brasil com o Uruguai. "Se a grande questão no passado era a livre navegação, o desafio hoje é muito mais amplo. Trata-se de promover e alcançar o desenvolvimento sustentável da bacia e de sua população, conciliando o aproveitamento das oportunidades econômicas com a preservação de seus ricos recursos hídricos e ecossistêmicos para as futuras gerações. Um marco global de busca de soluções para a crise climática", disse.

Após a cerimônia, foram descerradas placas comemorativas e uma escultura feita pelo professor aposentado da UFPel, Gilberto Garcias, que destaca a bandeira dos dois países e os 60 anos da CLM. À tarde, as comitivas brasileira e uruguaia visitaram a barragem-eclusa do Canal São Gonçalo, que está sob gestão da ALM. Além da programação de ontem, a comemoração de 60 anos da CLM terá atividades entre hoje e amanhã com reuniões sobre a hidrovia Uruguai-Brasil e a 122ª reunião da comissão.