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Dengue: Aumento dos casos está relacionado às oscilações de clima e falta de cumprimento das medidas de prevenção

Em 2023 houve aumento de 30% no número de casos prováveis de dengue em comparação com o mesmo período de 2022. É preciso estar alerta para sintomas e formas de prevenção.

Foto: Janine Tomberg - Ascom -

Por Joana Bendjouya


A dengue é uma arbovirose urbana, sendo atualmente a mais prevalente nas Américas, principalmente no Brasil. É uma doença febril que tem se mostrado de grande importância em saúde pública nos últimos anos. O vírus da dengue (DENV) é um arbovírus transmitido pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti e possui quatro sorotipos diferentes: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4.

O período do ano com maior transmissão da doença ocorre nos meses mais chuvosos de cada região, sendo geralmente de novembro a maio. Isto porque o acúmulo de água parada contribui para a proliferação do mosquito e, consequentemente, o aumento na disseminação da doença. Para que isso não ocorra, o principal cuidado segue sendo o mesmo: evitar água parada. Mas mesmo com essa orientação já bastante conhecida, neste ano a realidade dos números de infectados, bem como a quantidade de focos de mosquito, está muito acima das registradas nos anos anteriores, que segundo Danise Senna Oliveira, infectologista e coordenadora de estudos clínicos da vacina da dengue, que estão ocorrendo no Centro de Pesquisas Clínicas do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE/UFPEL), esse crescimento pode estar relacionado às mudanças climáticas e ao aumento das chuvas, sendo que a tendência, de acordo com o que aconteceu nas temporadas anteriores, é que os casos de dengue continuem a subir, visto que teremos nos próximos meses os períodos mais chuvosos do ano.

“A dengue vem aumentando em áreas antes não afetadas, como o sul do País. Um dos motivos é a alteração climática e aquecimento global. E outro é que durante a pandemia a vigilância diminuiu muito e os criadouros de mosquito se proliferaram”, explica a infectologista. Ela alerta ainda que não só as chuvas são problemas, mas a oscilação de temperaturas também é um fator favorável para o aumento de focos.
“Esses episódios de muita chuva seguidos de calor faz do ambiente um local favorável para multiplicação, além de não ser comum temperaturas mais quentes, visto que já estamos quase em junho”, completa Danise.

Situação epidemiológica
Até o final de abril deste ano, segundo dados do Ministério da Saúde, houve aumento de 30% no número de casos prováveis de dengue em comparação com o mesmo período de 2022 em todo Brasil. As ocorrências passaram de 690,8 mil casos, no ano passado, para 899,5 mil neste ano, com 333 óbitos confirmados. Fatores como a variação climática e aumento das chuvas no período em todo o País, o grande número de pessoas suscetíveis às doenças e à mudança na circulação de sorotipo do vírus são fatores que podem ter contribuído para esse crescimento.

Situação local
A Prefeitura de Pelotas está atuando e monitorando o aumento de focos do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue. Desde o início do ano, já foram identificados 344 locais de concentração. Na comparação com o último levantamento feito pelas equipes da Secretaria Municipal da Saúde (SMS); 63 novos pontos foram localizados. Até o momento a cidade registra nove casos confirmados da doença desde janeiro e outros 72 em investigação. Dois dos casos são autóctones (doença adquirida dentro da cidade).

Segundo Danise, é preciso estar atento a todos os cuidados, visto que nem sempre quando é picada a pessoa apresentará os sintomas. “A dengue pode se apresentar desde assintomática até como febre hemorrágica com sintomas graves, é preciso muito cuidado e no caso de febre o indivíduo deve procurar atendimento médico e orientação”, recomenda.

No entanto, a infecção por dengue pode também ser assintomática, apresentar um quadro leve de sinais. O quadro de contaminação tem o período de duração de cinco a sete dias. Com o desaparecimento da febre, há também a regressão dos sinais e dos sintomas. Os casos graves de dengue são caracterizados por sangramento e disfunções de órgãos e ocorre habitualmente entre o quarto e o quinto dia – no intervalo de 3 a 7 dias de doença –, sendo geralmente precedido por sinais de alarme. Mulheres grávidas, crianças e pessoas acima de 60 anos têm maiores riscos de desenvolver complicações pela doença. Os riscos ainda podem aumentar quando o indivíduo tem alguma doença crônica, como asma brônquica, diabetes mellitus, anemia falciforme, hipertensão, além de infecções prévias. “O quadro, se grave, pode evoluir com plaquetas baixas, sangramento, choque e até óbito”, alerta a infectologista.

Os principais sintomas da dengue são:

Febre alta > 38°C
Dor no corpo e articulações
Dor atrás dos olhos
Cefaleia
Mal-estar
Falta de apetite
Náuseas
Dor abdominal
Manchas vermelhas no corpo

Prevenção
Embora existam estudos avançados para vacinas contra a dengue, o controle do vetor Aedes aegypti é o principal método para a prevenção e controle para a dengue e outras arboviroses urbanas, como no caso da chikungunya e zika, seja nos cuidados de forma coletiva ou pela prevenção pessoal dentro dos domicílios, são medidas essenciais conforme salienta Danise. “É necessário notificar os casos suspeitos para a vigilância poder agir nos criadouros de mosquito domiciliares; e como medida de proteção individual, recomendo o uso de repelente.”

Tratamento
Não um existe tratamento específico para a doença. Na maioria dos casos leves, tem cura espontânea depois de dez dias. O importante é ficar atento sempre aos sinais e sintomas da doença, principalmente aqueles que demonstram agravamento do quadro. Para os casos leves com quadro sintomático, recomenda-se:
- repouso relativo, enquanto durar a febre;
- estímulo à ingestão de líquidos;
- administrar medicação, em caso de dor ou febre;
- não administração de ácido acetilsalicílico;
- recomendação ao paciente para que retorne imediatamente ao serviço de saúde, em caso de sinais de alarme.

Para Vinicius Guerreiro, a experiência com a dengue iniciou um mal-estar que inicialmente aparentava uma gripe forte, mas a evolução do caso resultou em problemas de saúde que necessitaram um cuidado e acompanhamento mais amplo por complicações no fígado. “Eu tinha uma sensação de gripe forte, mas logo começou uma dor de cabeça e no corpo muito forte, nunca tinha sentido algo tão forte, acho que foi a pior dor que senti, fiquei muito mal por sete dias. Acredito que tive muita sorte, porque minha namorada é médica e já nos primeiros sinais ela ficou bem alerta. O médico que me atendeu era de Roraima e disse que já tinha experiência com os sintomas, fez o teste e na hora deu positivo. Passei sete dias terríveis de febre, com muita náusea e depois desenvolvi uma hepatite viral, por causa da dengue. Por isso precisei fazer uma dieta bastante restrita, fazer soro, exames quase diariamente. Todos ficaram bem apavorados, precisei de acompanhamento bem de perto. De todas as doenças que tive até hoje, foram os piores sintomas. Hoje em dia já estou bem melhor e inclusive já vacinado.”

Imunização
A vacinação, como em todas as enfermidades, é uma medida adicional de combate, mas para isso é necessário seguir com os demais cuidados coletivos ou individuais, além de ampliar a oferta de vacinação à população, conforme afirma Danise, coordenadora do estudo, em Pelotas, que atualmente está em processo de recrutamento no Centro de Pesquisa Clínica do HE/UFPel com vacina da MSD fase 2 e vacina do Butantan fase 3, aonde voluntários podem participar do projeto de estudo clínico da vacina.

“Ao participar destes estudos, as pessoas estão colaborando em viabilizar mais uma vacina para atender o mercado brasileiro de milhões de indivíduos. Além do benefício individual que é se imunizar para dengue”, salienta. Para Clarisse Becker, participante do estudo, participar do projeto é uma forma de dar a sua contribuição pessoal para a ciência, mas também para erradicação do crescimento do número de infectados. “Acho que a pandemia fez muita gente mudar a forma de ver as coisas. Participar de estudos clínicos é uma forma de estar contribuindo para a ciência, para a melhora da vida de todos, que é tão importante e que a gente só percebe numa situação como é que vivemos, onde foram mais de sete bilhões de pessoas dependendo do trabalho de poucas, comparado a esse universo. E poder participar, para mim, é bem importante. No caso específico da dengue, a gente acompanha que ela está batendo na nossa porta. Antes era somente no Norte e Nordeste, agora já está no Sul. Temos que nos prevenir e a vacina é o melhor caminho.”

Vacina
O imunizante Qdenga é o primeiro aprovado no Brasil para um público mais amplo, que irá atender pessoas de quatro a 60 anos de idade. O imunizante aprovado anteriormente, Dengvaxia, está disponível na rede privada, porém só deve ser utilizado em quem já teve um episódio de dengue comprovado por sorologia. “A vacina Qdenga já é aprovada pela Anvisa, mas ainda está em estágio de comercialização, sendo assim ainda não está disponível à população”, explica a infectologista.

Estudo em andamento
Um estudo clínico é uma pesquisa que tenta responder perguntas sobre como os medicamentos ou as vacinas agem nas pessoas que os recebem. Para isto, há duas vacinas experimentais em estudo nesta pesquisa clínica, uma de fase dois do laboratório MSD e outra de fase três do Instituto Butantan. A infectologista explica que não há placebo no protocolo, de modo que todos os voluntários serão, de fato, vacinados.

“Ambos os produtos estão sendo testados e, portanto, ainda não foram aprovadas pela agência regulatória para a prevenção da dengue. Mas é importante salientar que em fases anteriores de pesquisas clínicas, ambas se mostraram seguras e bem toleradas.” Participam deste estudo homens e mulheres entre 18 e 50 anos de idade, que nunca tiveram uma infecção por dengue ou zika e também nunca receberam uma vacina da dengue tanto experimental ou a já aprovada, e mulheres que não estão grávidas nem amamentando atualmente.

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