Junho verde

Escoliose: saiba o que é e como tratar essa deformidade da coluna

Condição bastante frequente na população, tem o tratamento prejudicado pela falta de diagnóstico precoce

Foto: Arquivo pessoal - DP - Muitas vezes são os pais ou familiares que percebem o aparecimento da doença, outras vezes o paciente sente dor, desconforto ou até vergonha de sua aparência

Por Joana Bendjouya


Muitas vezes silenciosa, a escoliose é uma condição médica que tem como característica principal a curvatura lateral da coluna vertebral que, assim, se desloca da sua normalidade. Essa curvatura pode ser em formato de S ou C. Ela afeta, principalmente, a postura da pessoa e estabilidade da coluna. A formação da escoliose também faz com que a distribuição de peso seja prejudicada, podendo levar a desequilíbrios musculares, fazendo uma pressão desnivelada nas articulações e discos vertebrais. A escoliose ainda pode ser uma limitante de mobilidade, ao reduzir o espaço do tórax e comprimir órgãos.

Em alguns casos, ela pode ser detectada logo nos primeiros anos de vida como no caso da escoliose idiopática. Nas crianças maiores e adolescentes se apresenta como escoliose idiopática juvenil e do adolescente, podendo ser diagnosticada também em idosos nos casos de escoliose degenerativa e escoliose idiopática do adulto.

Alerta
Os sinais da escoliose podem variar e essa diferença irá depender do grau de curvatura na coluna. Segundo Felipe Augusto Rozales Lopes, ortopedista e cirurgião da coluna, se trata de uma doença que nem sempre traz dores, e sim a curvatura da coluna que acaba resultando muitas vezes em uma curvatura do tronco. “A pessoa começa a ter os ombros em altura diferente, os ombros ficam desnivelados, nas costas surge um elevado, que chamamos de giba, a corcunda, e até desnivelamento do osso da bacia, ficando um lado mais alto do outro”, explica.

Alguns sintomas merecem atenção mais aprofundada:
- Falta de simetria: a ausência de igualdade entre as alturas dos ombros, com um parecendo maior do que o outro;
- Desalinhamento dos quadris: a assimetria dos quadris também pode ser um sinal, sendo alarmante quando existe um lado mais elevado do que o outro;
- Desvios visíveis: em alguns casos é possível notar o surgimento de uma curvatura, mesmo que leve, na região da coluna vertebral;
- Saliência de costelas: em um dos lados do corpo se pode visualizar costelas mais protuberantes, saindo do nível usual para a pessoa;
- Desequilíbrio: a escoliose pode descentralizar a cabeça do corpo, ficando desalinhada com o todo;
- Dor: a dor nas costas se manifesta, principalmente, em casos mais graves de curvatura na coluna.


Diagnóstico
O exame físico é parte importante no diagnóstico, dessa forma será avaliado os sinais específicos de escoliose. Além disso, o histórico clínico detalhado junto com o histórico familiar com informações sobre o crescimento do paciente são muito importantes.

Lopes explica que é possível atribuir o diagnóstico através de exames de observação da postura e de exames de imagens como radiografias panorâmicas. Conforme o quadro e a situação clínica do paciente, as abordagens adotadas para corrigir o desvio postural podem variar. Nestes casos, é possível contar com uma equipe multidisciplinar composta pelo médico ortopedista, fisioterapeuta e psicólogos para auxiliar no processo de tratamento ou acompanhamento pré e pós cirúrgico. O tratamento pode ser não operatório em casos mais brandos ou não progressivos e é baseado em exercícios específicos de fisioterapia e uso de coletes ou gesso.

O tratamento cirúrgico é determinado para os casos mais avançados ou quando o paciente se queixa de dor, quando existe alguma compressão neurológica ou nos casos que evoluíram com piora mesmo com o tratamento não cirúrgico.
Tratamento

O tratamento para a escoliose é individualizado e é uma doença que tem cura e, quanto mais cedo for diagnosticada, maiores são as chances de reverter os danos, conforme afirma Lopes. “Quando é em crianças pequenas ainda, usamos o gesso ou colete para corrigir. Quando em juvenil para adolescente, já se consegue usar o colete, mas não é para todos, somente naqueles que têm um grau moderado já de escoliose. Quando leve, a gente vai acompanhando. Caso a escoliose tenha uma rápida progressão ou não responda ao tratamento do colete, continua piorando, o indicado é cirurgia. Como também nos casos de paciente de escoliose aguda.”

O ortopedista orienta que, mesmo inicialmente parecendo não ser tão grave, merece muita atenção, pois pode desencadear futuramente, uma série de outros problemas de saúde. “Quando não tratada, ela pode progredir e cada vez piorar a curva e a pessoa terá cada vez mais desvio da coluna, no futuro vai apresentar dor, artrose que é o desgaste da cartilagem da coluna. Dependendo do grau, pode ter dificuldade para sentar, respiratória, muitas complicações. Por isso que é muito importante o tratamento e de preferência precoce.”

Opção além da cirurgia
Antes de passar pelo procedimento, é possível tentar exercícios específicos de fisioterapia, os quais podem surtir bons resultados. Os exercícios de fisioterapia para o tratamento de escoliose são um trabalho de controle motor que irá proporcionar ao paciente uma reeducação postural, proporcionando assim mais noção sobre o próprio corpo e uma facilidade em reorganizar a coluna, conforme explica a fisioterapeuta Daniela da Cruz Aires. “O tratamento busca manter a postura que favorece a estabilização e o equilíbrio do corpo, pois pra quem tem escoliose existe uma grande dificuldade em manter uma postura. Sentem dores e muitas vezes não conseguem realizar atividades simples do dia a dia. E os exercícios são exatamente focados na realização das atividades diárias.”

Importante ressaltar que se trata de um tratamento personalizado, em que o fisioterapeuta inclui técnicas de reforço muscular e, com a repetição diária desses exercícios, o objetivo é que a curvatura possa ser estabilizada ou até mesmo ocorra uma regressão do grau. Daniela comenta que utiliza em seus pacientes com escoliose o Método 4D, com o objetivo de correção de quatro dimensões do eixo da coluna.

"É um método inovador que visa a correção das curvaturas da coluna, a escoliose. É definido pela autocorreção. Alguns anos atrás ainda se tinha como eficaz o tratamento trabalhando somente um eixo da coluna que seria onde fixavam as curvaturas como exercícios para direita e esquerda e, depois de algumas pesquisas, se observou que a nossa coluna se adapta em outros ângulos para o corpo conseguir se locomover. Assim veio a proposta do trabalho em quatro dimensões”, explica.

Alerta aos sintomas e informação, uma combinação importante para melhora efetiva
A falta de um diagnóstico preciso e um olhar sensível sobre os sintomas podem acarretar uma piora na escoliose que impacta severamente na qualidade da vida e demandam tratamento mais longo e doloroso. Assim têm sido os dias da jovem Izabel dos Reis Perleberg, 23, e que desde os nove anos convive com as dores e a coluna desalinhada em consequência da escoliose.

“Eu tive o diagnóstico bem novinha. Quem notou foi minha pediatra na época. Por orientação dela, fomos a um ortopedista que disse que, como eu era criança, a escoliose não ia se desenvolver. Como a gente não tinha informação sobre o assunto, acreditamos. Mas foi uma questão de pouco tempo e ela pirou muito”, conta Izabel. Ela explica que, desde então, tentou muitos tratamentos para reverter o quadro e também aliviar as dores que a acompanham. “Como piorou, minha mãe procurou outro médico, que acabou recomendando o uso de colete, o que é bastante agressivo tanto para quem vê, quanto para quem usa. Ele aparece, ele é visível. Eu usei por um ano e meio. Funcionou na época que eu usava, mas depois, quando já tinha tirado e estava com uns 15 anos, voltou tudo, mas desta vez muito pior que antes.”

Izabel conta que desde pequena, sua dificuldade já era notada pela mãe, mas por falta de orientação e conhecimento nunca buscou um tratamento específico para a escoliose. “Minha mãe sempre notou que eu tinha alguns problemas de mobilidade, não conseguia virar o pescoço muito bem, não era muito flexível, mas na época a gente não atribuía isso a problemas de coluna.” Após inúmeros tratamentos, alguns efetivos e outros nem tanto, ela conta que tenta se adaptar à condição e conviver da melhor forma possível com as dores e a busca pelo tratamento mais favorável para o seu problema. “Já fiz muitos tratamentos, já usei colete, fiz natação, pilates e senti uma piora porque os exercícios não eram adaptados ao meu problema. Era como se fosse só uma atividade como para uma pessoa sem problema de coluna. Já fiz quiropraxia, massagem e ventosaterapia para aliviar a dor, mas o que mais notei mudança física em mim foi a fisioterapia da escoliose 4D. Minha postura melhorou, as pessoas olham e notam que teve uma mudança física. Até meu jeito de andar mudou. Melhorei muito, mas não é fácil.”

Importância do tratamento precoce
Para Sônia Garcia, mãe da adolescente Valentina Garcia Fernandez, 14, ter percebido o desalinhamento da coluna da filha ainda bem jovem não a poupou do procedimento cirúrgico. Mas, segundo a mãe, foi a escolha mais acertada. Mesmo com bastante preocupação, o resultado foi gratificante, trazendo impactos para saúde física e emocional da filha. “Há dois anos vimos que ela estava com uma escápula mais alta que a outra. Foi onde levamos em um pronto atendimento. A médica que atendeu disse que achava que era escoliose e me mandou procurar um especialista. Após consulta, o ortopedista pediu exames onde vimos que o grau já era bem avançado. Na época pesquisamos outras alternativas e vimos que tinha opção para diminuir o grau com fisioterapia, mas nos atendimentos sempre disseram que não descartavam a cirurgia. Fomos para a cirurgia cheia de medos e inseguranças, pois ela teria que ficar na UTI por uns dias. E deu tudo certo. Não foi fácil, mas não nos arrependemos e com certeza faríamos de novo se tivesse que escolher. A autoestima dela melhorou muito e a recuperação foi bem rápida. Hoje ela ainda faz fisioterapia, mas está muito bem”, relata.

Junho Verde
Junho é o mês internacional de conscientização sobre a escoliose e, para enfatizar a necessidade da conscientização, entidades de referência em pesquisa e tratamento de escoliose criaram a campanha do Junho Verde, um mês inteiro voltado para escoliose, patologia que acomete quase 13% da população mundial. O objetivo da ação é unir pessoas para criar uma consciência pública positiva sobre a escoliose, promovendo a educação e reunindo as pessoas afetadas pela doença.

Recomendações
Os cuidados com a coluna vertebral devem começar ainda na infância, época em que a criança deve ser estimulada no dia a dia a desenvolver uma postura correta, que exige menor esforço muscular, garantindo assim proteção para todas as estruturas da coluna. Algumas ponderações devem ser levadas em conta para toda vida, visto que são fundamentais para saúde global e da coluna, sendo elas:

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