No sábado (25) pela manhã, um boneco negro apareceu enforcado nas proximidades do trevo de acesso ao Capão do Leão, no final da avenida Duque de Caxias, em Pelotas. O boneco foi vestido com uma camiseta vermelha, estampando o número 13 e o nome do presidente Lula. Um vídeo postado por um homem em um barco, alcançou enorme repercussão junto às redes sociais. O homem, em tom jocoso diz “olha o que fizeram com o Lula, enforcaram o Lula”.

A polícia, após um boletim de ocorrência, registrado pelo advogado Fábio Gonçalves, integrante da OAB Subseção de Pelotas e da Comissão de Igualdade Racial e por um representante do Conselho da Comunidade Negra em Pelotas, investiga a identidade de quem possa ter participação no fato. “Na nossa leitura, flagrantemente, se trata de um crime de ódio, uma conduta e uma incitação com base racial. Ainda que tenha sido vestido com uma camiseta que aponta uma referência partidária e aponta o presidente Lula, que sequer é negro, estrategicamente é um negro, com as mãos amarradas atrás, nas costas, no estilo do que aconteceu no Brasil e muitas vezes no sul da América do Norte”, expressou Gonçalves.

Ele continua dizendo que na leitura feita pela comissão assim como do Conselho da Comunidade Negra, não há casualidade e sim uma manifestação expressa de um crime de ódio. Eles estiveram na polícia judiciária, conversaram com os responsáveis pela investigação e registraram ocorrência, que já foi encaminhada ao departamento que trata sobre os crimes de ódio. “As imagens são de alguém que não teve nenhuma preocupação em romper com a cena. Independente de qualquer coisa, a posição da Ordem dos Advogados, Subseção de Pelotas, é descobrir a verdade”, ressaltou.

“Ninguém sobe em uma árvore, naquela altura, e em um local que é um manancial. Houve todo um trabalho para pendurar o boneco. Nós, no Rio Grande do Sul, sabemos que estamos em um espaço que apresenta o maior volume de células extremistas que manifestam a intolerância racial. Para nós é uma realidade muito presente, cada vez mais próxima. A prova está aí”, observa.

Ele aponta ainda que “nossa preocupação é contundente. Nós interpretamos que o extremo sul do País é um lócus exemplar para este tipo de análise. Sistemática e diuturnamente enfrentamos situações que tratam de micro agressões até manifestações expressas de racismo. Nós recebemos um volume enorme de denúncias e nossa preocupação é que este tipo de conduta vá se agravando cada vez mais e as pessoas vão tendo a sensação de impunidade, tomando mais coragem. Se a gente não registrar, daqui a pouco vamos encontrar alguém, de fato, amarrado e açoitado no mato. Enquanto instituição e militância negra não podemos deixar passar este fato”.

Nota oficial da OAB

A Subseção de Pelotas da OAB/RS, por intermédio da Comissão de Igualdade Racial, expressa veemente repúdio, diante do ato de intolerância e violência ocorrido nesta cidade. O enforcamento de um boneco negro é um ato repugnante, que fere não apenas os princípios éticos e humanitários, mas, também, agride profundamente a dignidade e os valores de igualdade racial que devem ser preservados e promovidos em nossa sociedade. É fundamental reforçar a importância da promoção da igualdade, do respeito e da valorização da diversidade.

A OAB Pelotas, em total consonância com os valores democráticos e de respeito à dignidade humana, insta as autoridades competentes à investigação imediata e rigorosa deste fato odioso, para que os responsáveis sejam devidamente identificados e responsabilizados perante a lei. Nesse sentido, a CIR local, providenciou imediatamente o registro da ocorrência junto à autoridade policial judiciária.

É imprescindível que a comunidade se una na luta contra qualquer forma de discriminação, reafirmando o compromisso com uma sociedade justa e inclusiva para todos. A OAB Pelotas, ciente do sofrimento continuado causado pelo ato de racismo, manifesta, ainda, o fraterno apoio e solidariedade à população atingida por esse ato abominável, reafirmando seu compromisso em defender os direitos humanos e combater qualquer manifestação de racismo ou intolerância.

A estruturação do racismo sistematizado no Brasil sustenta-se na naturalização de ações, hábitos, situações, falas e pensamentos que fazem parte da vida cotidiana do povo brasileiro e que promovem, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial atingindo duramente a população negra. A cidade de Pelotas é um lócus exemplar para reflexão e resistência à conduta racista.

Ao reafirmar indignação a ações desta natureza, sublinha a pertinência da luta antirracista e a necessidade do combate à violência sistemática que recai sobre a população negra cotidianamente. A Subseção de Pelotas e a Comissão de Igualdade Racial estão atentas ao desenvolvimento das investigações, na busca pela devida responsabilização.

O que diz o Partido dos Trabalhadores

A presidente do Partido dos Trabalhadores em Pelotas, Ângela Vitória, salientou que a situação, junto ao partido, foi interpretada como uma manifestação desmesurada de ataque a pessoas que militam no PT e defendem o presidente Lula. “O PT é o maior partido do Brasil, tem amplo apoio de brasileiros, brasileiras e pelotenses de todas as etnias. Este tratamento agressivo precisa ser repudiado por todas as pessoas. Queremos entender quem fez e porque fez. Queremos que o poder público investigue e dê consequência às investigações para que atos como este não se repitam”.