Operação Tambo

MP determina busca e apreensão e indisponibilidade de bens de ex-diretor da Cosulati

A operação se deu em razão de possíveis crimes de apropriação indébita, estelionato e lavagem de dinheiro em prejuízo da cooperativa

Divulgação MP - Policiais do Gaeco cumpriram os mandados em cinco endereços

Por Anete Poll
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(Com informações do Gaeco e MP)
Atualizado para acréscimo de informações às 18:30 


O Ministério Público do Rio Grande do Sul, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), realizou nesta sexta-feira (02) uma operação contra possíveis crimes de apropriação indébita, estelionato e lavagem de dinheiro em prejuízo da cooperativa de laticínios Cosulati, com sede em Pelotas e que tem milhares de associados espalhados em 45 municípios da região Sul do Estado.

Foram cumpridos cinco mandados de busca e apreensão em quatro endereços residenciais em Pelotas e um comercial em Capão do Leão. De acordo com o coordenador do Núcleo Região Sul do Gaeco, Rogério Meirelles Caldas, e o coordenador dos Gaecos, João Afonso Silva Beltrame, foi determinada pela Justiça a indisponibilidade de bens de um ex-administrador da cooperativa e outros investigados, cujos nomes não foram divulgados. O valor total do bloqueio é de R$ 60,7 milhões.

Nos endereços alvos da operação foram apreendidos documentos, celulares, notebooks e pen drives. Não houve prisões. Segundo os investigadores, o próximo passo será a análise de todo material recolhido e, se for o caso, o MP irá oferecer denúncia.

Longa apuração
A investigação que deu origem à operação de sexta-feira teve início há três anos a partir de representações protocoladas no MP, acompanhadas de farta documentação, que apontam possível apropriação de valores da Cosulati por um ex-diretor-presidente. Considerado o principal alvo da operação, o ex-diretor permaneceu à frente da cooperativa até o desencadeamento de um processo de liquidação extrajudicial.

Após criação de uma comissão voltada a pesquisar os motivos que levaram ao delicado quadro financeiro da empresa, os investigadores constataram ter havido, ao longo dos 26 anos de sua gestão, progressivo quadro de endividamento que, de forma intencional, não era exposto aos milhares de cooperados. A situação teria chegado ao ponto de a cooperativa, à beira da ruína, ter de suspender as atividades de produção de leite e de manteiga.

"Diversas análises técnicas elaboradas pelo Núcleo de Inteligência do Ministério Público (Nimp) confirmaram grande parte do afirmado nas representações. No mesmo sentido, o relato do auditor externo contratado pela cooperativa demonstra a utilização desta pelo ex-diretor-presidente para alavancar seus negócios pessoais. Tudo indica que efetivamente a cooperativa foi saqueada ano após ano, o que a levou ao quadro de autoliquidação, com um passivo praticamente impagável", explica Caldas.

Segundo a apuração, o ex-mandatário teria deixado a cooperativa com prejuízo superior a R$ 60 milhões. No período, além de acumular dívidas, valores da empresa teriam sido usados para pagamentos de despesas particulares e de seus familiares, além de ocorrerem depósitos em conta bancária pessoal ou repasses a empreendimentos da família. Em um dos negócios entre a Cosulati e estabelecimentos ligados à família do ex-diretor, a cooperativa teria feito o pagamento por 1.710 vacas da raça holandesa, mas recebido apenas 816 animais. O episódio teria ocorrido em 2015.

"Nada era exposto aos milhares de cooperados, que não faziam ideia da real dimensão do prejuízo. É provável que tenha havido manipulação dos dados contábeis apresentados, inclusive com a conivência da auditoria externa então contratada. Tudo isso reforça a necessidade de tornar indisponíveis bens dos investigados de modo a, precipuamente, ressarcir os prejuízos suportados pela cooperativa e os respectivos cooperados", complementa Beltrame.

Tentativa de recomeço
Em situação delicada, a Cosulati tentou um recomeço, com a oferta formalizada por duas cooperativas com intenção de operar a indústria. Juntas, elas pretendiam injetar pelo menos cem mil litros de leite por dia, o que poderia evitar o iminente colapso da Cosulati. A parceria permitiria a prestação de serviços para terceiros, o desenvolvimento de produtos e a busca por novos mercados. Mas as possibilidades não se concretizaram em razão do início das investigações.

Atualmente a cooperativa está sem operação em sua indústria de laticínios, em Capão do Leão, cuja capacidade de processamento chega a um milhão de litros por dia, contabilizada a torre de secagem para produção de leite em pó. Sem matéria-prima e com atividades fora de operação, os 143 funcionários ainda não receberam a integralidade do pagamento do mês de março de 2022, falando algo em torno de 20%, assim como não receberam o 13º salário relativo ao ano de 2021.

Liquidante da Cosulati, Almir Fernando Miguel Mendonça ressalta que as investigações internas começaram a ser realizadas em 2018, sendo que o gestor investigado esteve à frente até 2016. "As análises internas demonstram que os indícios de fraudes causaram prejuízos irreparáveis à cooperativa", lamenta. Internamente, a Cosulati criou comissão de investigação dos atos lesivos, que resultou na entrega de farta documentação.

"O objetivo primordial da atual gestão é o de que os consumidores tenham a oportunidade de obter os produtos de alta qualidade que são produzidos por sua fábrica, onde seus cooperados sejam ressarcidos de todos os danos sofridos e participem das atividades cooperativas com segurança. Que os fornecedores tenham a certeza que receberão seus ativos em face de negociação com a nossa instituição. Temos certeza que o trabalho que ainda tem a ser feito é árduo, mas com apoio de toda a comunidade gaúcha retornaremos nossa produção."​

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