Racismo

Estagiária da Prefeitura denuncia ofensas racistas em Capão do Leão

Jovem de 17 anos e colega que a apoiou diante das agressões foram demitidas após caso vir à tona

Foto: Jô Folha - DP - Adolescente denuncia diversos momentos de ofensas racistas

Por Cíntia Piegas
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A Delegacia de Polícia de Capão do Leão vai instaurar procedimento de ato infracional para apurar o crime de injúria discriminatória ocorrido dentro da Prefeitura. A vítima, a estagiária D.A.F., 17, e a colega J.S., que prestou apoio, foram desligadas dos cargos. Os nomes serão preservados para evitar a exposição das jovens. Já a adolescente que teria cometido as ofensas, também demitida quando o assunto veio à tona, foi reconduzida horas depois ao trabalho, mas afastada definitivamente no dia seguinte. Em nota, a Prefeitura diz condenar qualquer ato de racismo.

A revolta, a tristeza, e as crises de ansiedade de D.A.F. se acentuaram depois de uma publicação no Twitter em que, apesar de não haver menção direta a ela, os termos indicariam um recado direto à vítima em função dos deboches e tratamento indiferente que relatou estar recebendo no local de trabalho, dentro da Secretaria de Finanças. O posto com o texto "cabelo duro, toda torta, uma gelatina querendo se aparecer às 7:45 da manhã, mas vai nascer rascunho do diabo" (sic) causou espanto na família e o fato virou boletim de ocorrência, registrado pelo pai da vítima. No documento, a jovem alega que diariamente ouvia comentários pejorativos sobre o cabelo e o tom da pele, sendo que já teria sido humilhada e tratada de forma desigual.

Em busca de seus direitos, a jovem relata ter mostrado a publicação nas redes sociais ao chefe do departamento que, ainda segundo ela, teria imediatamente buscado a Procuradoria e um memorando de desligamento da autora teria sido elaborado. "Para nossa surpresa, após uma reunião com os administradores, ela foi readmitida e minha amiga entrou em crise. Como estava chorando muito, resolvi lhe acompanhar até o gabinete do prefeito (Vilmar Schmitt, PP), onde ela foi buscar explicações para o fato", relatou J.S. Ambas dizem ter sido orientadas a voltar para o local de trabalho. Depois disso, afirmam ter recebido a notícia da demissão. "Questionei o motivo e a resposta foi apenas que podem demitir sem motivo", diz J.S.

Dia seguinte
Na manhã de sexta (30), após não conseguir dormir à noite, D.A.F., acompanhada da mãe, tentava conseguir uma consulta no Hospital de Capão do Leão. O motivo seria a crise de ansiedade causada pelo episódio. "Já sofri racismo, mas essa foi a pior de todas. Fiquei no chão", conta a jovem. A mãe da jovem vítima de injúria diz ter ficado chocada quando soube das ofensas por ser justamente no dia em que elogiou o cabelo da filha. "Minha preocupação é como ela vai encarar os próximos empregos. Será sempre com receio de sofrer racismo."

Contraponto
A suposta autora das ofensas na rede social procurou a Polícia Civil nesta sexta para se defender. Ela alega ter sido envolvida em uma mentira, uma vez que garante que a mensagem no Twitter não teria sido publicada por ela. A adolescente diz que vai esperar orientações e que pretende se manifestar na segunda-feira. Já a Prefeitura lançou uma nota de repúdio e diz que está apurando os fatos para se manifestar também na segunda-feira. Diz a nota do Município:

"A Prefeitura do Capão do Leão manifesta, publicamente, seu repúdio a qualquer ato de discriminação racista dentro dos órgãos públicos. A publicação ofensiva por parte de uma das estagiárias, ocorrida no dia 29/12, foi um claro exemplo de conduta moral inapropriada em ambiente de trabalho. Essa atitude não é tolerada pela atual gestão e o desligamento da estagiária já foi realizado durante o mesmo dia. As demais envolvidas no caso também foram desligadas de seus cargos por recorrência de condutas indisciplinares."

Dados
De janeiro a novembro de 2022, o Rio Grande do Sul registrou 158 casos de preconceito de raça ou cor, sendo que o número pode ser bem maior, uma vez que existem as subnotificações. De acordo com o titular da Delegacia de Polícia, delegado Sandro Bandeira, pela lei, se a injúria consiste na utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoas idosa ou portadora de deficiência, a pena é de reclusão de um a três anos e multa. "Mas como se trata de adolescentes, serão aplicadas as medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente", ressalta.​

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