Alegria

Uma nova vida a celebrar: Edelbert Kruger fala sobre seu transplante

Professor conversa com o Diário Popular, quase 50 dias após receber pulmões, agradece à família do doador e assume compromisso com a causa

- Ex-reitor do antigo Cefet segue em acompanhamento em Porto Alegre e comemora o fato de poder respirar

Por Michele Ferreira
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“Eu renasci. Ganhei a oportunidade de uma nova vida, de perceber as pequenas coisas simples”. As palavras, carregadas de emoção, chegam como lição neste 25 de dezembro em que se celebra o Natal ao redor do globo. E é através da história do professor Edelbert Krüger, que passa a festejar a singeleza de respirar – prestes a completar 50 dias do transplante de pulmões –, que o Diário Popular traz uma mensagem de esperança. É possível, sim, recomeçar.

Em mais de uma hora de conversa por telefone, direto de Porto Alegre, em que mantém o tratamento, o doutor em Educação contou como tem sido a rotina. Entre memórias, lágrimas e risos, o lourenciano de 67 anos também falou em sonhos; uma meta que perseguirá ao longo de toda a vida: “Lutarei para que as pessoas não fiquem mais de 30 dias na lista à espera de transplante”, sustenta.

E afirma com a experiência de quem enfrentou a angústia por 18 meses. O professor da antiga Escola Técnica Federal de Pelotas (ETFPel) já havia, inclusive, despedido-se dos filhos Hannah, 19, e Hermann, 22, com pedidos sobre doação de órgãos e cremação, no último 5 de novembro, quando a notícia do doador chegou, em meio à falta de referências sobre a passagem do tempo, típica para quem está internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).

“Não há palavras para agradecer este gesto de amor”
A fibrose pulmonar idiopática, sem cura e progressiva, diagnosticada em 2016, havia atingido o grau máximo. O uso de oxigênio que precisou virar rotina em 2020, quando a doença alcançou a forma mais violenta, já não era o suficiente. Desde maio do ano passado, ao perder os 20 quilos solicitados pela equipe médica da Santa Casa de Porto Alegre e atingir os 85 quilos, Edelbert Krüger passava a integrar oficialmente a fila de espera por transplante no Rio Grande do Sul. Passava também a morar com a família na capital do Estado, como orientado.

“Eu corria contra o tempo e a fila não andava”. Começava ativamente, então, uma militância pela doação de órgãos. Dezenas de edições de um jornal que ganhou as redes sociais, artigos publicados na imprensa, entrevistas concedidas com um mesmo apelo: ajude a salvar vidas.
Em 5 de novembro deste ano, hospitalizado na UTI, após dar adeus aos filhos, o professor colocou uma venda nos olhos, na tentativa de amenizar o sofrimento. Em um misto de sono, cansaço e pesadelo, Krüger conta que, no sonho, tentava agarrar-se nas bordas de um poço e pensava: ‘Como vou sair daqui? Ninguém sabe que eu tô aqui’. Ao estar com braços e pernas entregues, lá no fundo, acordou-se, ao ser sacudido por quatro médicos. “Será que eu já morri e estão me reanimando?”, pensava.

Não. Não era sonho. Já era 6h30min do dia 7 de novembro e o doador havia chegado. “Não há palavras para agradecer este gesto de amor de uma família que se desprendia em um momento de dor. Eu só pedia que Deus o recebesse”, reforça. E faz questão de mencionar os seis eixos em que procurou se agarrar nos momentos mais difíceis: Deus, fé, família, amor, acreditar na Ciência e ter paciência.

Recuperação rápida e foco no bem coletivo
O resultado é extraordinário. 48 horas após o transplante dos dois pulmões, Edelbert Krüger já havia sido extubado e respirava sem ajuda de oxigênio. Passados quase 50 dias do procedimento, o ex-diretor do antigo Cefet – hoje IFSul – mantém reabilitação com consultas e exames realizados três vezes por semana. Uma etapa que deve durar entre três e quatro meses. Em outros dois dias da semana, ele realiza fisioterapia e atividades para recomposição da massa muscular. Em nenhum momento apresentou qualquer possibilidade de rejeição e já tem conseguido caminhar até um quilômetro – afirma, ao destacar que os pulmões são de um jovem sadio que morava no oeste do Paraná.

“Às vezes as pessoas ficam procurando por Deus longe ou em altares, mas Ele está conosco nos pequenos gestos”, enfatiza. “Ele está na nossa família, na nossa volta. No hospital, ele estava na faxineira que limpava a UTI, nas enfermeiras, nos médicos, na pessoa que trazia meu alimento”, reforça o luterano.

E, em mais uma manifestação de fé, recorre à canção religiosa que diz: … Eu quero, senhor, ser amado como um vaso nas mãos do olheiro. Quebra minha vida e faze-a de novo. Eu quero ser senhor, um vaso novo. “Eu sou um vaso novo. Eu renasci”.

Saiba também!
Em 19 de janeiro, será registrado o estatuto da Associação Nacional de Pré e Pós-Transplantados (ANPPT), criada por Krüger junto a outras lideranças do país. A intenção é de que, através da entidade, várias reflexões e medidas possam sair do papel com um objetivo bem definido: preservar vidas. Atuar em nome de quem aguarda por transplantes: os esperançados da vida, como ele chama.

Por que 52% das famílias não autorizam a doação? Por que 62% dos pulmões captados vêm de Santa Catarina e do Paraná, desde 2018? O que se pode fazer para sensibilizar e qualificar as abordagens em busca de doações? Como agilizar o acesso a medicações pós-transplante que, em alguns casos, custam mais de R$ 20 mil a caixa? São inúmeras indagações. Uma luta engrossada ao lado da família: os filhos Hannah e Hermann e a esposa Ruth. Um compromisso diário.

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