Tradição

20 de setembro: Uma chama acesa nos corações dos gaúchos

Data máxima para o Rio Grande do Sul é celebrado com integração e solidariedade

Foto: Carlos Queiroz - DP - Jovens e crianças se engajam na manutenção dos hábitos

No dia 7 de setembro de 1947, um grupo de estudantes da escola Júlio de Castilhos, vestiu a indumentária mais bonita que tinha e, a cavalo, foi buscar uma fagulha da chama da Pira da Pátria, em uma cabo de vassoura com panos na ponta, para levar para o saguão do colégio, onde ficou acesa em um candeeiro crioulo até o dia 20 de setembro, onde um fandango encerrou a Primeira Ronda Crioula da história do Rio Grande do Sul. O ato, além de homenagear os heróis farroupilhas que lutaram na guerra civil mais longa do País (1835-1845), também quis resgatar os costumes gaúchos que estavam sendo abafados pela cultura norte-americana. Setenta e cinco anos depois, a mesma tradição se mantém nos mais de 1,5 mil Centro de Tradições Gaúchas (CTGs) espalhados pelo mundo, em culto e respeito à chama que iluminou os caminhos farrapos durante a Revolução de 35.

Entre uma viagem e outra pelo Rio Grande, a presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Ilva Maria Borba Goulart, disse à reportagem que este é um movimento cultural organizado que estabelece relações com escolas públicas e privadas. “Desta forma encontra-se presente na sociedade gaúcha através da literatura Regional do RS que fomenta os grandes festivais regionalistas. Nossos Centros de Tradições são células comunitárias onde se ampara a cultura gaúcha através da dança, música, poesia, culinária, linguagem e indumentária. Através de suas inúmeras cavalgadas, rodeios e festivais, além de divulgar a cultura, movimenta o turismo e a economia do RS”, disse ela de Alegrete, ao garantir que MTG é o maior movimento cultural do mundo.

De acordo com o diretor de Comunicação do MTG, jornalista Rogério Bastos, a tradição gaúcha nasce e se materializa nos CTGs. “A importância do movimento para a sociedade se define na tese de Barbosa Lessa e no primeiro item da Carta de Princípios que diz que o tradicionalismo é um movimento popular que auxilia o Estado na solução dos seus problemas fundamentais na busca de um bem coletivo”, resume. Essa premissa, segundo Bastos, fundamenta o papel dos Centro de Tradições, que de maneira informal como uma escola, preparam as crianças e os adolescentes para serem cidadãos melhores dentro da sociedade em que vivem. Pelas atividades realizadas ao longo do ano, segundo ele, são repassados valores, como respeito, educação e confiança na palavra empenhada. “Estas questões são trabalhadas para que quando sair daqui (CTG), tenhamos um cidadão formado e politizado para refletir sobre a sociedade e, que principalmente, não falta com a educação”, considera. Para o tradicionalista, o MTG tenta manter as pessoas conscientes do seu papel social, destacando a democracia por oferecer a oportunidade de escolha.

“A Chama Crioula é o símbolo maior do tradicionalismo porque representa a manutenção dos valores que a gente transmite. Acreditamos que enquanto a chama está acesa no coração de cada um, teremos a certeza que o tradicionalismo vai eternizar valores fundamentais para que nossa sociedade melhore. Não podemos fazer tudo, mas fazemos a nossa parte”. É por isso que o tradicionalismo está voltado à solidariedade. Sensibilizados com a enchente que vitimou 48 pessoas na Vale do Taquari, muitas cidades decidiram trocar o desfile do dia 20 de setembro por cavalgadas para arrecadar donativos para os atingidos com a chuva que assola o Rio Grande do Sul em setembro. Na Zona Sul do Estado, a primeira capital Farroupilha, Piratini, uniu o desfile com a ação solidária. Cada piquete estará com um caminhão para quem quiser doar alimentos não perecíveis e material de higiene. Cerrito, Pedro Osório, Pelotas e Rio Grande cancelaram o evento por causa das condições climáticas. Quem confirmou os festejos foi São José do Norte, onde os cavaleiros irão desfilar a partir das 15h na rua General Osório. Nesta quarta tem desfile em Jaguarão e São Lourenço do Sul. Canguçu, se o clima permitir, fará uma cavalgada beneficente.


Multiplicadores
Desde o dia 13 de setembro, oito Centro de Tradições Gaúcha e uma entidade tradicionalista, de Pelotas, Capão do Leão, Morro Redondo e Turuçu e que integram a 26ª Região Tradicionalista, realizaram intensa programação cultural em suas sedes. Entre fandangos e tertúlias, mateadas e ensaios de invernadas, apresentações artísticas e rondas crioulas, centenas de visitantes puderam vivenciar o que o grupo de estudantes do colégio Júlio de Castilhos, liderados pelos folcloristas Paixão Côrtes e Barbosa Lessa criaram em 1947. Em todas as atividades, a cultura do Rio Grande prevalece e a reverência ao fogo de chão, onde é mantida a Chama Crioula é respeitada por piazitos, prendinhas, adultos e tordilhos que cultuam as tradições e a multiplicam para jovens estudantes das escolas de Pelotas. No CTG Thomaz Luiz Osório, mesmo com a tarde chuvosa de terça-feira, dezenas de alunos visitaram o local e conheceram um pouco das tradições. Colegas do 5º ano no Colégio São José, Martina, Luísa, Heloísa, Isabel e Manuela passaram a tarde na ronda crioula e aproveitaram para dançar o Pezinho e o Maçanico. “Em atividades como esta, aprendemos que o 20 de setembro é o dia mais importante para os gaúchos”, concluiu Martina.

A primeira prenda do CTG, Camila Rios Escerdo, 25, explica que é extremamente importante eventos como a tertúlia interativa para mostrar à sociedade as atividades que são realizadas o ano inteiro. “Esse é o nosso dia a dia dentro do CTG e se podermos semear um pouquinho da chama nos corações de cada um, ela se manterá acesa pela eternidade”, disse. Um dos mais empolgados da tarde era o piazito Miguel Marques D’Ávila, cinco, que deu aula de dança para os visitantes. “Eu adoro dançar o Maçanico e o Chico Sapateado”, disse o integrante das invernadas Mirins e Juvenil.


Despedida

A quarta-feira será dedicada a várias homenagens, com a entrega da comenda João Simões Lopes Neto aos tradicionalistas Oswaldo Quintana e Eduardo Brombila, na Câmara de Vereadores, além de cavalgadas, missas crioulas e a despedida de mais uma Semana Farroupilha, com a extinção do fogo ao canto: É meia-noite, tradição que se iniciou em Pelotas e segue preservada pelo Movimento Regionalista, a partir da citação de pesquisas de Paixão Côrtes e Barbosa Lessa e que faz parte do Cancioneiro do Rio Grande do Sul.

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