Reflexos da pandemia
90% dos restaurantes podem fechar em razão do coronavírus
Setor de alimentação busca alternativas para manter portas abertas
Paulo Rossi -
Um terço dos restaurantes e bares de Pelotas pode fechar em decorrência da crise econômica gerada pelo novo coronavírus. Em 30 dias, este número aumentará e poderá alcançar até 90% dos estabelecimentos. Os dados são de uma pesquisa realizada pela Rede Gastronômica, em parceria com o Sebrae. O estudo traçou um panorama do setor de alimentação e bebidas, com mais de 50 empreendimentos da cidade. A análise engloba restaurantes, bares, docerias e cafeterias da cidade e alerta para o risco de fechamento em definitivo, caso a pandemia se estenda por mais um mês e não haja políticas públicas para a manutenção destes empreendimentos.
Mesmo que o decreto municipal para o fechamento do comércio deixe fora os restaurantes, o movimento é baixíssimo e muitos optaram por fechar as portas, para evitar aglomerações e manter as pessoas em casa - o que é indicado à população. Responsável por mais de mil empregos diretos, algumas peculiaridades do setor complicam ainda mais o cenário: insumos perecíveis, comércio fechado, aulas de universidades e escolas suspensas, retração econômica e pouca gente saindo de casa.
Uma das alternativas adotadas pela maioria dos empreendimentos é a tele-entrega. Grandes redes como o Ifood, por exemplo, já detectam aumento tanto na procura pelo serviço como nos negócios que buscam nos aplicativos uma salvação para manter uma renda. 60% dos casos envolvidos na pesquisa buscaram alternativas para minimizar os impactos - e a entrega de refeições é a principal delas.
Em Pelotas, a maior parte dos empreendimentos emprega até cinco pessoas - a qual representa cerca de 25% dos restaurantes, docerias e cafés. "Pra dar um panorama, é o seguinte: 28% não voltam se não tiver injeção de recursos e 90% podem fechar as portas em definitivo se não houver alternativas e a pandemia se estender por mais de um mês", indica Gabriel Oliveira, proprietário da Confraria do Espetinho e presidente da Rede Gastronômica.
Alternativas e incentivos
A principal preocupação da maioria dos empresários do ramo é com a próxima folha de pagamento. Numa negociação nacional do setor com o governo federal, a proposta era que a União arcasse com a folha de pagamento por quatro meses, através de recursos do seguro-desemprego - diferentemente da medida provisória publicada, que suspendia o pagamento pelo período, e já revogada por pressão da opinião pública. Outro fôlego ao setor, sugere Gabriel, podem ser linhas de crédito com carência de 180 dias ou um ano. No entanto, instituições bancárias ainda aguardam sinalização do Banco Central para estas operações.
"São alternativas para ter a garantia do emprego e a própria manutenção dos negócios. Na pesquisa que fizemos, 24% estão doando insumos para os próprios funcionários - por não terem a garantia que vão conseguir pagar a folha. A gente precisa de socorro da União", defende o empresário e indica que a maioria dos negócios é de microempresas com baixo capital de giro.
Em recente reunião de empresários de diferentes áreas, na prefeitura, o tema de incentivos fiscais ou pela manutenção dos negócios e empregos foi tratado, mas encontra barreiras nas condições econômicas do município. Outro caminho, indica, são bancos de desenvolvimento ligados ao Estado ou à União.
À mercê do vírus
O principal setor econômico de Pelotas hoje é o comércio e também deve ser a área mais sensível aos impactos econômicos gerados pela pandemia mundial. A afirmação é de Marcelo Passos, professor de Economia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). "O impacto econômico vai ser muito forte. O comércio vai sentir fortemente. Pelotas é basicamente serviços, comércio, abatedouros e funcionalismo público", situa ele, ao analisar o setor econômico da cidade e até da região. Este mapeamento econômico foi tema de recente artigo do pesquisador.
O chamado teto de gastos, que impõe limites de gastos orçamentários ao governo federal, faz com que seja necessário buscar recursos em setores como educação e investimentos, cita. A possibilidade de redução de salários de servidores públicos federais, aventada pelo governo, também afetaria em cheio a economia local. "É uma classe expressiva na cidade. Judiciário, universidade, militares, entre outros que têm a garantia do salário", diz, sobre girar a roda econômica local.
No entanto, qualquer cenário desenhado hoje depende do comportamento do vírus nos próximos dias. A adoção de medidas como a suspensão de contas de luz, água, aluguéis, colocadas em prática em alguns países, também é considerada positiva pelo economista. "O Estado tem que fazer o possível para minimizar o impacto econômico da crise, que é imprevisível por não ter como dimensionar o comportamento do vírus e por quanto tempo estas medidas serão necessárias", projeta.
Dados do setor da alimentação
- Maior parte dos empreendimentos (25,5%) emprega até 5 pessoas
- 32,1% estão fechadas totalmente
- 56% estão operando parcialmente
- 90% correm o risco de fechar permanentemente nos próximos 30 dias
- 60% iniciaram alternativas, principalmente a tele-entrega
- 11% ou demitiram ou vão demitir
- 80% têm a intenção de manter os empregos
- 85% precisarão acessar linhas de crédito
- 87% estão de acordo com o isolamento
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