Orla

Algas chamam a atenção de veranistas no Laranjal

Presença das cianobactérias relaciona-se à alta quantidade de matéria orgânica proveniente da cidade na Laguna dos Patos

Foto: Volmer Perez - DP - Algas vindas da Lagoa dos Patos deixaram a areia da orla com sujeira

Por Heitor Araujo
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Chama a atenção dos frequentadores da Praia do Laranjal a coloração esverdeada nos últimos dias da Laguna dos Patos, somada ao cheiro forte na orla e à perda de qualidade de balneabilidade da água. Os três fatores estão ligados, em parte, à presença das cianobactérias, evento recorrente no verão, mas que ainda não é de conhecimento total pelo público pelotense.

De acordo com o professor de Engenharia Hídrica da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e diretor da Agência da Lagoa Mirim, Gilberto Collares, a presença das cianobactérias, popularmente chamada de algas, dá-se em função de uma somatória de fatores.

Dentre eles, a presença de matéria orgânica, o forte calor e as condições específicas de direção e velocidade de vento, que aglomeram esses efluentes em uma enseada, sem que haja a diluição, além dos regimes de chuva e de fluxo da água. Segundo Collares, essa presença das algas não traz benefícios diretos ao meio-ambiente local, e pode trazer prejuízos em relação à balneabilidade da água, quando há grande concentração.

"O vento nordeste predominante impede o fluxo do São Gonçalo da Lagoa Mirim para a Laguna dos Patos e, por conseguinte ao Oceano, e a grande produção de matéria orgânica pela cidade, sem tratamento, leva essa carga ao São Gonçalo, Arroio Pelotas e não se dilui suficientemente no corpo hídrico, ocasionando a proliferação das algas", explica.

Estranheza

Mesmo entre os frequentadores assíduos da beira da praia, a coloração esverdeada gera dúvidas. No início da semana, os veranistas limitaram-se à faixa de areia, com a Laguna ocupada apenas pelos poucos praticantes de esportes náuticos, devido às condições impróprias da água para banho.

Próximas à Avenida Rio Grande do Sul, Alana Bandeira, 24 anos, e Lisiane Garcia, 36, recolheram-se no meio da tarde da praia. Para elas, o forte cheiro causado pela presença das algas na Laguna é um fator que dificulta a permanência. "O cheiro está muito forte e, no sábado, a água estava com uma coloração muito esverdeada", afirma Lisiane.

Sentada na areia, a poucos metros da Laguna, a lojista Maria Dal Molin, 65, não se abalou com o cheiro forte. "Para nós, que moramos aqui, é normal ver essas algas. Mas por quê será que elas aparecem?", questiona. Ela diz que aguarda pela salinização da água, que inclusive faz com que diminua a presença das algas, na expectativa de limpeza da água para voltar a banhar-se na Laguna.

No trapiche, o pelotense que atualmente reside na Irlanda, Otávio Vinhas, 32, estranhou a coloração da Laguna. "Reparei que está mais esverdeada, mas não tinha nem ideia do motivo. Para mim, prefiro uma água mais clara", afirma.

O cabeleireiro Carlos Costa, 42, aproveitou a tarde de folga para pescar e também ficou surpreso com a coloração. "Causa uma estranheza, porque a água já é poluída e vê-la esverdeada nos dá um certo receio de que talvez não seja algo natural", aponta. "Pensei que fosse por causa das algas, mas aí passei pelo trapiche e não vi nada, então fiquei na dúvida", completa.

Balneabilidade

A última atualização divulgada pela Fepam aponta que cinco pontos do Laranjal estão impróprios para banho. "A maioria da carga de efluentes produzida por Pelotas fluem pelo Canal São Gonçalo até a Laguna dos Patos. Com isso, influenciado pelo regime de chuvas e, especialmente de ventos, a mistura do efluente com as águas da Laguna não se dão de forma homogênea em todo o corpo hídrico", explica o professor Gilberto Collares. "Por isso, ao coletar em um ponto, nessa análise se observa a condição imprópria, mas em outro próximo a condição pode estar própria", completa.

Segundo o professor, a inauguração das novas Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) no município devem melhorar a qualidade da água no Laranjal. De acordo com a diretora-presidente do Sanep, Michele Alsina, a ETE Novo Mundo está 90% concluída. "Com a estação em funcionamento, o Município dará um salto de 18% para aproximadamente 40% do efluente tratado", afirma.

Por meio de uma nota repassada pela Assessoria de Comunicação, no entanto, não foi dado um prazo para a inauguração. A diretora do Sanep afirma, ainda, que existem 20 estações privadas de tratamento na Bacia do São Gonçalo, que "impactam na destinação de efluentes".

"O Sanep possui três projetos no segmento de esgoto inscritos na edição 2023 do PAC, do governo federal. Projetos qualificados e habilitados a concorrer com todo o País, inclusive com a iniciativa privada. Não há garantia de concretização dos recursos para Pelotas, mas é possível, uma vez que os projetos do Sanep atendem a todos os condicionantes estabelecidos pelo governo federal.

"O plano de longo prazo da autarquia prevê a expansão das ETEs Laranjal e Novo Mundo e a construção de outras estações de tratamento, como a ETE Engenho, cujo terreno já foi repassado ao Sanep e o projeto está finalizado, e a ETE Simões Lopes", completa a autarquia.

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