Um dia depois da CEEE Equatorial anunciar através de sua assessoria que estava operando na normalidade em toda sua área de concessão após estragos causados pelo ciclone extratropical, restando apenas pontos isolados desabastecidos, 1,3 mil clientes ainda estavam sem luz em Pelotas, Canguçu e Morro Redondo nesta sexta-feira (21). A demora em religar a energia elétrica, que para esse público já chegava dez dias de espera, levou a Associação de Municípios da Zona Sul (Azonasul) a marcar uma reunião de urgência para a manhã de domingo (23), entre prefeitos da região com o governador Eduardo Leite (PSDB) e o presidente da CEEE, Raimundo Barretto Bastos. O encontro está marcado para o Aeroporto Internacional João Simões Lopes Neto.

O objetivo é cobrar do governo do Estado e da concessionária uma solução definitiva para os problemas que se arrastam desde a quarta-feira, dia 12, quando milhares de moradores ficaram sem energia. Desde então, os relatos são de falta de atendimento por parte da companhia mesmo diante de inúmeros protocolos pedindo reparos, o que provocou prejuízos incalculáveis aos clientes.

Também como um desdobramento do problema, na próxima semana a Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs) deve ter reunião com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A intenção da Agergs é solicitar à responsável por regular e fiscalizar o setor no País a aplicação de multa à CEEE Equatorial por não apresentar atendimento satisfatório em caso de eventos naturais, conforme exige o contrato de concessão.

Descaso prolongado

Na estrada do Abolengo, moradores da região que continuavam sem luz na sexta-feira resolveram pressionar a distribuidora mantendo retido um dos carros a serviço da empresa que foi até o local para conferir o 33º protocolo aberto por um mesmo morador desabastecido. Como esses funcionários são responsáveis por atender os chamados leves e no local era preciso conectar o fio de alta tensão - o que exige a presença de um caminhão - nada pôde ser feito. Ainda assim, a manifestação pacífica impediu durante toda a manhã que motoristas seguissem viagem em direção à estrada da Granja. "É um descaso total o que estão fazendo com a gente", reclamava a motorista de aplicativo Patrícia Braga, 48. Ela mora no local desde que nasceu e nunca havia passado por situação semelhante. "Temos uma vizinha idosa que depende de insulina e não tem mais recursos para pagar o aluguel do gerador."

Já o empresário Diego Noble Marshall, que tem uma pousada e espaço para eventos bastante requisitado nesta época do ano, já calcula um prejuízo de aproximadamente R$ 14 mil em hospedagem e R$ 8 mil em eventos. "É inconcebível ficar tanto tempo sem energia", desabafou. A jornalista Gabriela Mazza buscou todos os recursos possíveis para a resolução do problema. Além dos 33 protocolos junto à CEEE Equatorial, enviou e-mails para as agências reguladoras e esteve no Ministério Público. "A CEEE não se manifesta pelos seus canais. Aqui é uma estrada com vários empreendimentos, sendo conhecida como Rota das Charqueadas", argumentou.

Por volta do meio-dia desta sexta, um caminhão da CEEE foi até o local, verificou o fios caídos e recolhidos pelos próprios moradores e foi embora, retornando uma hora depois. O serviço de restabelecimento da energia elétrica ocorreu somente no final do dia.

Luz apagada

Quem ainda enfrenta o escuro são quatro famílias do Vasco Pires. Eles entraram em contato com a reportagem para pedir ajuda, pois as diversas aberturas de protocolos para as residências da rua Hebert de Souza, entre os números 694 e 700, não foram atendidas. "Aqui ao lado vieram dois dias depois do ciclone e arrumaram. Não sei por que tanto distrato com a gente", disse a atendente de padaria Renata Lima, 41.

Na colônia de Pelotas, depois de comemorarem a volta da luz na quinta-feira, o temporal da noite e da madrugada de sexta colocou todo o serviço por água abaixo. Voltaram a ficar sem luz parte das comunidades da Colônia Cristal, Francesa, Rincão do Andrade, Alto da Cruz, São Bento, Pelotinha e Santa Isabel.

Fiscalização

A reportagem entrou em contato com a Aneel por telefone para saber quais medidas estão sendo tomadas em relação à demora no restabelecimento da energia elétrica na região de Pelotas. Assim como relatam os clientes da CEEE Equatorial, não recebeu resposta até o fechamento desta edição, mesmo tendo enviado os questionamentos por e-mail, conforme solicitação da Agência.

Já a Agergs afirma estar monitorando a situação. O órgão estadual alega que cobra diariamente o cumprimento do contrato de concessão com a prestação de serviço adequado. Aponta ainda que no ano de 2021 foi feito diagnóstico da área de concessão da CEEE Equatorial e requisição de ações da empresa para conjuntos elétricos prioritários, sendo a maioria no sul do Estado, incluindo Pelotas. Conforme a Agergs, ao longo de 2022 a concessionária teria executado as ações. No entanto, diante dos resultados considerados insatisfatórios, a regulação estadual teria indicado à Aneel, em maio deste ano, a necessidade de ação fiscalizatória na companhia, a ser realizada pela Agergs. O órgão diz aguardar autorização desde então par aplicação da multa.

No ano passado, a Agergs emitiu multa de cerca de R$ 29 milhões à CEEE Equatorial, processo que atualmente está com recurso na Aneel. "As condições deficitárias do serviço de distribuição de energia elétrica prestado pela CEEE Equatorial, no dia a dia, já traz preocupações para a Agergs, fato que se agravou quando da ocorrência de condições climática adversas, fazendo com que os usuários fiquem dias sem o restabelecimento do serviço", sustenta a Agergs.

Procon

Em Pelotas, o órgão que presta atendimento ao consumidor abriu, entre os dias 17 e 21 deste mês, seis registros de Carta de Informações Preliminares (CIP).