Meio Ambiente

Bioma Pampa perdeu 24% de sua vegetação desde 1985

Plataforma MapBiomas mostra transformação do meio ambiente brasileiro

Foto: João Iganci - Margarida-da-praia é exclusiva de Pelotas e é considerada criticamente em perigo de extinção

O bioma Pampa, predominante no Rio Grande do Sul e que se estende pelo Uruguai e pela Argentina, perdeu 24% de sua vegetação nativa entre 1985 e 2022, mostra o levantamento mais recente da plataforma MapBiomas. A partir de imagens de satélite, é apontado que a perda de vegetação nativa no Brasil acelerou nos últimos dez anos, e que desde 1985 o Brasil perdeu 96 milhões de hectares da vegetação de seus biomas.

O estudo destaca que, de tudo que foi antropizado - ou seja, transformado pelo ser humano - em cinco séculos, 33% foi nos últimos 38 anos. Os biomas com territórios mais afetados foram a Amazônia e o Cerrado, que perderam 52 milhões de hectares e 31 milhões de hectares, respectivamente. No entanto, proporcionalmente o Pampa perde apenas para o Cerrado no percentual de vegetação nativa perdida (24% e 25%, respectivamente).

Um dos principais fatores para a alteração das paisagens naturais e o avanço da agropecuária. No Pampa, a área ocupada pelo agronegócio avançou de 29% para 44% desde 1985, sendo o segundo com maior avanço, atrás apenas do Cerrado, onde as atividades agropecuárias ocupam 50% da área. O percentual é bem acima da média nacional, de 33%.

A cultura que mais avançou no Brasil no período analisado é a da soja, que passou de 4,5 milhões de hectares em 1985 para 39,4 milhões de hectares em 2022. No Pampa, a soja avançou 3,1 milhões de hectares. "O Pantanal e o Pampa são exemplos de biomas naturalmente aptos para a pecuária, pois seus campos são como pastagens naturais. Nos dois casos, o avanço da soja representa uma degradação do bioma", diz Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas.

O biólogo e doutor em botânica João Iganci é professor da UFPel e pesquisa sobre a conservação de espécies de plantas do Pampa. Ele explica que a preservação do bioma é fundamental para a sobrevivência de espécies que só existem no Pampa. "Essa diminuição da vegetação nativa é causada pela mudança no uso do solo, e acelera bastante nas últimas décadas com a entrada da soja no Pampa", diz. O professor pontua que o bioma já vinha sofrendo alterações desde a chegada dos hominídeos, mas que o avanço da degradação acelerou nos últimos 40 anos.

Segundo Iganci, um dos caminhos para a preservação do bioma seria a criação de parques nacionais de preservação. Atualmente, a única unidade de preservação no Pampa é o Parque Nacional da Lagoa do Peixe. "A gente não tem nenhuma garantia de conservação dos remanescentes naturais", diz, pontuando que muitas espécies exclusivas do Pampa estão ameaçadas de extinção, entre elas a Grindelia atlantica, conhecida como margarida-da-praia, que é exclusiva do litoral de Pelotas. "A gente tem que preservar não só porque é bonito, isso é importante, mas ao mesmo tempo, também existem muitas plantas que são úteis para a humanidade, que podem ser usadas em programas de pesquisas dentro da agricultura, e que são plantas nativas", diz.

O professor explica que a alteração das paisagens naturais pelo ser humano são tão impactantes que aceleram o processo de mudança climática. "A alteração nos ecossistemas aqui do Pampa, por exemplo, vai fazer com que a água da chuva escorra diretamente pros rios e encha muito mais do que se fosse preservado. No momento, que se suprime a vegetação, a água não vai ser retida no solo, então a gente começa a ver nossos rios mais barrosos, com mais matéria orgânica", analisa Iganci.

O biólogo pondera que a sustentabilidade não impede a produção agropecuária. "Os países de primeiro mundo querem comprar matéria-prima, mas não que prejudique o meio ambiente. Sem dúvida é possível produzir de forma sustentável, e temos muitas iniciativas desse modo, inclusive aqui no Pampa", diz.

MUDANÇAS NO PAMPA
1985

Formação natural não florestal: 48,19%
Floresta: 11,55%
Corpo d'água: 9,45%
Área não vegetada: 2,04%
Agropecuária: 28,77%

2000
Formação natural não florestal: 45,84%
Floresta: 11,33%
Corpo d'água: 9,52%
Área não vegetada: 1,85%
Agropecuária: 31,46%

2015
Formação natural não florestal: 38,37%
Floresta: 11,94%
Corpo d'água: 9,55%
Área não vegetada: 1,76%
Agropecuária: 38,38%

2022
Formação natural não florestal: 33,52%
Floresta: 11,73%
Corpo d'água: 9,46%
Área não vegetada: 1,75%
Agropecuária: 43,54%

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