Integrantes da Central Estadual de Transplantes (CET) estarão na sexta-feira (16) na Fenadoce, no estande do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), compartilhando informações sobre a importância da doação de órgãos. A ação de conscientização iniciou nesta quinta e busca sensibilizar os possíveis doadores sobre o quadro preocupante de baixa captação no Estado. Atualmente, 2.699 pessoas aguardam na fila por um órgão no Rio Grande do Sul. No País, são mais de 62 mil à espera.

Fomentar uma cultura doadora de órgãos é o propósito da vinda de dois profissionais da CET a Pelotas. Vinculado à Secretaria Estadual da Saúde (SES), o departamento está empenhado em resgatar ao Estado o título de referência em doação. Para isso, ações informativas envolvendo diversas instituições públicas estão sendo realizadas. Neste sentido, a iniciativa na Fenadoce tem como estratégia atingir o grande público que visita os pavilhões. "Achamos muito importante separar esse tempo na agenda para a conscientização não só como profissional da área da saúde, mas como usuário do serviço", explica o assessor técnico da Central, James da Silva, transplantado cardíaco há três anos.

A viabilidade da vinda dos profissionais ao Município passou também pela articulação do professor da antiga Escola Técnica Federal de Pelotas (ETFPel), atual IFSul, Edelbert Krüger. Enquanto aguardava na fila do transplante, entre inúmeras consultas e procedimentos semanais, ele se dedicava à mobilização social pela doação de órgãos. Após 18 meses de espera, Krüger teve dois pulmões transplantados. A notícia tão esperada chegou no dia 6 de novembro do ano passado, um dia após ter se despedido da família porque sua recuperação era dada como desenganada pelos médicos. "Ao apagar das luzes", relembra. Nesta altura, o professor já estava há mais de um mês na UTI e antes disso precisava de ajuda até para se alimentar. Após 48 horas do transplante, já caminhava sozinho.

Mobilização
"Nesse universo de pessoas em lista de espera eu me dei conta de que alguém tem que fazer alguma coisa", declara Krüger ao ver inúmeras pessoas na mesma situação que a dele morrendo antes de conseguir a doação. Ele explica que o grande tempo de espera pelos órgãos não se deve à falta de compatibilidade, mas à alta demanda em contraponto ao baixo número de doadores. "A captação no Estado é muito baixa. Hoje mais de 50% das famílias são contra a doação", diz. Com pulmões recebidos de uma pessoa do Paraná, ele lembra que os estados vizinhos da Região Sul têm maior adesão.

Para reverter o baixo índice de doações, Krüger dedica o seu tempo à conscientização e busca por políticas públicas de informações sobre doação de órgãos. Deste modo, uma das suas ações foi a criação da Associação de Pré e Pós Transplantados. "Eu nunca pensei que ia acontecer comigo. Nunca fumei nada, sempre levei uma vida regrada, de uma hora para outra tenho uma fibrose pulmonar por causa de uma alergia e nesta cidade quantas pessoas alérgicas têm", diz.

Na Zona Sul
De acordo com a enfermeira da Organização de Procura de Órgãos 5 (OPO 5), Viviane Mendonça, o quadro de doação na Região Sul não atinge índices adequados. "A negativa é bem grande. Na última semana fechamos três processos e em todos as famílias optaram pelo não", lamenta.

Em Pelotas, há dois anos, o grupo Diga Sim à Doação de Órgãos atua para mobilizar a população em torno da causa. Atualmente, são 82 instituições trabalhando em conjunto com a iniciativa. "Buscamos fomentar nas pessoas o conhecimento para terem vontade de doar. Nós sabemos que não basta a pessoa dizer eu tenho vontade de doar. Se na hora da morte a família não consentir, nada é feito", diz a coordenadora Laura Tonial.

Receptores ativos na lista de espera por órgãos
Rim - 1.308
Córnea - 1.146
Fígado - 176
Pulmão - 59
Coração - 10