Meio Ambiente
Em defesa de uma nova Unidade de Conservação em Pelotas
Estudo liderado por pesquisadores da UFPel envolve a análise de uma área de 800 hectares
Paulo Rossi -
O alerta está nas placas: Propriedade particular. Área ambiental. Do lado de dentro da cerca, instalada há poucos meses, o pedaço de uma riqueza que precisa ser preservada. As terras próximas ao Las Acácias, no caminho para as praias do Laranjal, não integram apenas o complexo que se estende do Pontal da Barra à foz do arroio Pelotas. A delimitação para que veículos e pranchas não cruzem mais as areias finas nem raves ocorram por ali - como chegou a acontecer - suscita discussão muito mais ampla.
É a criação de uma Unidade de Conservação Municipal, defendida pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em área que engloba 800 hectares. Um estudo, que já começou a ser desenvolvido, dará sustentação à tomada de decisão da prefeitura. Pesquisadores das áreas de Biologia, Gestão Ambiental, Arqueologia, Agronomia, Arquitetura, Turismo e Educação irão liderar o processo, que também contará com conhecimento de profissionais de outras três instituições: Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Embrapa e Secretaria Estadual do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema).
"Apresentaremos critérios indiscutíveis, que sustentem tecnicamente nossos argumentos", enfatiza o doutor em Biociências, Giovanni Maurício. E ao conversar com o Diário Popular, logo, faz referência a espécies de animais e de vegetação ameaçadas de extinção. "Temos que salvaguardar este patrimônio para o futuro. São tesouros biológicos; alguns, inclusive, com importância para fins medicinais e o desenvolvimento da biotecnologia".
Respeito e valorização da biodiversidade
* A Unidade de Conservação - proposta por pesquisadores da UFPel - abrange cerca de 800 hectares. Do Pontal da Barra à foz do arroio Pelotas.
* A criação da Unidade, formada de banhados, matas e dunas, não ajudaria a resguardar apenas espécies ameaçadas de extinção. A lista de benefícios é longa: prevenção de enchentes, manutenção da qualidade do ar e preservação do patrimônio histórico e arqueológico são alguns dos exemplos.
* Só na região do Pontal da Barra são 18 sítios arqueológicos.
* Entre as espécies ameaçadas, alerta especial aos peixes-anuais, que dependem de ambientes aquáticos que
sequem em algum período do ano para completarem o ciclo reprodutivo. O Pontal é, inclusive, localidade-tipo da espécie Austrolebias nigrofasciatus.
* Preocupação também com o lagarto cobra-de-vidro Ophiodes enso, identificado na praia do Laranjal. A espécie foi reconhecida oficialmente pela Ciência no ano passado.
* A árvore pau-sabão, o gavião-cinza e o gato-do-mato-grande também integram a longa lista de espécies ameaçadas que requerem cuidados urgentes.
Saiba mais
- O que diz a SQA: O secretário de Qualidade Ambiental, Felipe Perez, destaca o estudo liderado pela UFPel e assegura: "Somos favoráveis que o assunto ande". Perez fala, entretanto, na complexidade do tema e admite: a negociação com os proprietários das áreas ainda é incógnita.
Em breve, o secretário deverá viajar a Brasília para cumprir agenda no Ministério do Meio Ambiente. Na pauta, a busca por recursos para aplicar na criação de Unidades de Conservação, como a que envolve a Mata do Totó e o Ecocamping; áreas que já pertencem ao Município.
- A palavra de um dos proprietários: O diretor do Grupo Real Empreendimentos, Otávio Rodrigues, destaca a exigência do Ministério Público (MP) para que a área fosse cercada, tanto para garantir a preservação ambiental quanto a segurança das redondezas, já que até raves foram realizadas no local. E para impedir, definitivamente o acesso, pequenas valetas foram abertas próximo às cercas.
Ao comentar as pretensões para o futuro, Rodrigues assegura: "Por enquanto não vai se fazer nada". E ele próprio faz a ressalva, no caso de mudança nos planos: "Qualquer coisa que vá ser feita ali vai ter que passar por novo licenciamento. Se é que vão permitir".
Neste momento, o Grupo mantém tratativas para que a prefeitura receba oficialmente ruas criadas na chamada Vila Assunção, para que o local seja regularizado e as famílias possam receber suas escrituras - explica o diretor.
Há mais de 20 anos, alerta já era feito
Em 1997, o Centro de Estudos Ambientais (CEA) já participava de grupo que defendia a criação da Área de Proteção Ambiental (APA) das Lagoas, que contemplaria o complexo Pontal-Dunas. A ideia - alicerçada em estudos científicos e em lutas ecológicas - chegou a se tornar projeto de lei, tramitou na Assembleia Legislativa, mas nunca foi a plenário.
Hoje, ao ser indagado sobre a importância do local, o coordenador do CEA é objetivo: "É uma área que deveria ser de domínio público. Nas mãos da iniciativa privada estará em permanente risco de ser suprimida porque se transforma em um negócio", preocupa-se o advogado ambientalista. E reforça a tese de que a prefeitura deveria negociar a compra dos terrenos para torná-los Unidade de Conservação.
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