Um estudo realizado na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) revelou uma realidade preocupante para a comunidade pelotense. A partir dos dados de participantes da Coorte 1993, estudo que acompanha os nascidos naquele ano ao longo da vida, a pesquisa apontou um crescimento acelerado da multimorbidade e de múltiplos fatores de risco em adolescentes e jovens adultos. Aos 22 anos, por exemplo, quatro a cada dez participantes da pesquisa apresentavam duas ou mais doenças crônicas simultaneamente.

O doutor em epidemiologia e autor do estudo, Pedro Crespo, explica que foram analisados os dados dos participantes da Coorte aos 11, 15, 18 e 22 anos de idade. "Investigamos uma série de doenças e fatores de risco ao mesmo tempo nas diferentes idades. Por fim, vimos quem tinha, pelo menos, duas doenças e dois fatores de risco", conta. Diabetes, hipertensão, alergias, depressão e problemas respiratórios (como asma e bronquite) foram algumas das doenças consideradas para a pesquisa. Inatividade física, obesidade e sobrepeso, consumo abusivo de álcool, uso de drogas ilícitas e tabagismo foram alguns dos fatores de risco observados.

Crespo destaca as impressões mais relevantes para a equipe envolvida na pesquisa. "O que mais chama atenção é o aumento considerável na prevalência de hipertensos aos 18 e 22 anos e uma crescente de doenças mentais", relata. Nos fatores de risco, o mais prevalente nos três primeiros acompanhamentos foi o comportamento sedentário, que se refere ao tempo que os participantes relatam estar sentados na frente de telas, como computadores e videogames, seguido pela inatividade física. "O consumo abusivo de álcool, tabagismo e uso de drogas ilícitas também aumenta de forma bem acelerada conforme a idade vai passando, principalmente de tabagismo e drogas ilícitas", alerta.

Presença de multimorbidade (presença de duas ou mais doenças crônicas simultâneas)
- Aos 11 anos: 26%
- Aos 15 anos: 31%
- Aos 18 anos: 38%
- Aos 22 anos: 44%

Algumas das principais descobertas
- Sete em cada dez participantes apresentaram dois ou mais fatores de risco em todas as idades avaliadas
- Quatro a cada dez participantes apresentaram duas ou mais doenças crônicas aos 22 anos de idade
- Sobrepeso aumentou cerca de 15 pontos percentuais dos 18 aos 22 anos
- Mulheres apresentaram maior prevalência de dois ou mais fatores de risco simultaneamente
- Alergias e problemas respiratórios foram as doenças mais prevalentes no início da infância dos participantes
- Menos de 2% dos participantes não possuíam doenças e fatores de risco em cada idade observada
- Aos 11 anos, 20% dos jovens tinham duas ou mais doenças crônicas e, também, dois ou mais fatores de risco; aos 22 anos, 35% tinham essa mesma condição

O que os números querem dizer?
Na prática, o pesquisador avalia que os números revelam que as pessoas estão sendo expostas cada vez mais cedo a múltiplas doenças e fatores de risco e que, para a comunidade, isso pode representar problemas para a gestão em saúde. "Em termos de saúde pública, esses dados nos assustam. Estamos vendo que, desde o início da adolescência, nossos jovens estão expostos a um grande problema de saúde pública que pode estourar mais à frente", observa.

Crespo exemplifica como os números podem impactar o Sistema Único de Saúde (SUS). "Pessoas com múltiplas condições de saúde utilizam mais o sistema de saúde, internam por mais tempo, ficam afastadas do trabalho por mais tempo e requerem maior grau de especialidade no tratamento", observa. Para Crespo, as descobertas são importantes para políticas públicas futuras. "Vamos ter que nos preparar para um futuro onde muitas pessoas vão ter muitas doenças ao mesmo tempo. É urgente que a gente desenvolva políticas públicas para melhorar a condição de vida dessas pessoas", finaliza.