Escasso

Há mais de um mês do início da safra do camarão, ainda não há crustáceo na Lagoa

A captura de um volume relevante do pescado já é descartada neste ano; com a Colônia Z-3 deserta, as poucas comercializações são na maioria de camarões da última safra

Foto: Volmer Perez - DP - Cenário não é de expectativa

No auge do que seria a safra do camarão, encontrar o crustáceo na Lagoa dos Patos tem sido uma raridade. A escassez devido ao volume de chuvas no final do ano passado e a cheia da Lagoa dos Patos pode ser constatada na falta de barcos na água e nas ruas vazias da Colônia Z-3. Conforme os pescadores, o estuário começou a salgar recentemente. Mesmo assim, o cenário não é de expectativa de uma melhora significativa na disponibilidade do pescado até o final de maio, quando termina o período de captura.

Isso porque para que o camarão alcançasse um tamanho adequado para a pesca, a água deveria ter começado a salgar em outubro, com o fenômeno ocorrendo somente agora não dá tempo para o crustáceo crescer antes do início da proibição da atividade. São inúmeros os barcos parados, pois diante do preço do óleo diesel não vale a pena colocar as redes na Lagoa e nas últimas tentativas houve apenas prejuízos. No cais lotado, o pescador João Laurindo, ocupava a tarde renovando a tintura da sua embarcação, há mais de 20 dias sem entrar na água ele constata: "a safra está resumida em nada e já está muito tarde para ter alguma coisa, o camarão leva uns dois meses para crescer".

Ele lamenta ainda que nem os peixes que poderiam ser uma alternativa, como a tainha e a corvina estavam disponíveis em quantidade considerável na Lagoa. "Acabou o período de permissão para a pesca da corvina e o peixe estava muito escasso. Até a tainha está difícil". Laurindo relembra que na última safra vários colegas chegaram a tirar três mil quilos frequentemente. "E agora se tu pegar camarão para fazer um chá tu não consegue", compara.

Um dos profissionais que se aventurou em busca de algum pescado foi o Claudiomar de Oliveira Jr. Retornando com a embarcação da Lagoa nenhum camarão foi capturado e a pesca se resumiu aos escassos linguados e tainhas. "A gente estava parado já há quase um mês e aí fomos experimentar, colocar umas redes porque deu esse vento sul. Deu mixaria, umas cinco ou seis caixas de peixe", constata.

O pescador conta que colocou 50 litros de diesel na embarcação, desembolsando R$ 300. Para pagar a despesa do combustível, ele mensura que seria necessário 100 quilos de peixes, diante do que foi capturado, sobraria somente 20 quilos para ter lucro com a comercialização. "Está muito ruim e estão muito caras as coisas". Para Oliveira Jr. a expectativa de melhora na atividade ficará somente para o ano que vem "com a previsão de seca".

No comércio

Nas peixarias da Colônia Z-3 a situação também é crítica. A usual movimentação de clientes e caminhões para o transporte do pescado foi substituída por ruas vazias nesta safra. Em uma das peixarias, a proprietária conta que tem conseguido somente uma quantidade limitada de tainha. "A nossa fonte é o camarão, se não tem, olha aí [aponta para a rua deserta]. Sem camarão a gente não tem nada", diz Osvaldina da Silva.

A comerciante diz ainda que quando consegue o crustáceo fresco o valor está muito acima do ano passado, chegando a R$ 85 o quilo. No mesmo período de 2023, o camarão limpo estava variando entre R$ 35 e R$ 40 o quilo, limpo. Diante disso, os poucos clientes que chegam compram somente para uma refeição. "Às vezes levam meio quilo e olhe lá". Com a falta do camarão, a maior parte comercializada por ela são pacotes congelados da última safra. "Na última safra a peixaria chega a receber até 200 quilos por dia".

Para Osvaldina, nem mesmo na semana santa há alguma perspectiva de aumento das vendas.

Reivindicação

Diante das cheias que destruíram inúmeras residências na Colônia Z-3 e do impacto dos eventos climáticos na safra, os pescadores reivindicam ao governo federal um auxílio emergencial para contribuir com o sustento das famílias que vivem da pesca. A pauta inclusive foi entregue em mãos ao Ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula, em visita a Pelotas no início de novembro. Mesmo assim, até o momento não há nenhuma novidade sobre o pagamento do benefício, por isso os profissionais planejam uma mobilização. "Se nada acontecer até o dia 10, vamos trancar as BRs", diz Oliveira

A categoria argumenta que esperar até julho, quando deve ser paga a primeira parcela do seguro defeso, é insustentável, devido aos prejuízos e dificuldades financeiras inclusive para a alimentação.

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