Uma manifestação contra o pedágio do Retiro, protagonizado por moradores do Posto Branco, no interior de Pelotas, ocorrido em dezembro do ano passado, continua repercutindo na esfera judicial. À época, durante o protesto, os manifestantes foram surpreendidos com uma liminar da Empresa Concessionária de Rodovias do Sul (Ecosul) impedindo a ocupação da BR-116 e impondo multa de R$10 mil para quem desobedecesse. Nesta semana, os réus foram intimados e chamados para se apresentar à justiça.

A manifestação contou com cerca de 50 pessoas, que pediam pela isenção da tarifa do pedágio para moradores da localidade. Uma das moradoras, Mara Regina Soares, 48, que estava na manifestação e é citada na ação da Ecosul, mas alega que não havia intenção de interromper a rodovia. “Jamais a gente ia parar uma BR. Mas a gente ia manifestar, igual já tínhamos feito outras manifestações pacíficas”, relembra. Mara afirma que irá se apresentar à Justiça, mas que vê a ação como uma injustiça contra os moradores. “Não devo nada, não fiz nada demais. Aquilo é liberdade de expressão. Eu não vou lá para dizer que eu não fiz o protesto, mas ninguém parou a BR. É uma vergonha fazer isso contra a comunidade”, comenta.

A demanda dos moradores do Posto Branco, que moram a cerca de 50 metros de distância da praça de pedágio do Retiro, era a isenção da tarifa para quem vive na região. Em relação a isso, nada mudou até agora. Os moradores alegam que a cobrança dos R$15,20 a cada passagem pela praça, que ocorre diariamente, impede o desenvolvimento da localidade e dificulta o acesso a serviços essenciais básicos. “A comunidade não tem médico frequente, porque o carro não tinha isenção, os professores da escola também não têm isenção. É uma comunidade massacrada na saúde, na educação e, principalmente, no crescimento da região. A coisa tá muito complicada aqui no Posto Branco”, acrescenta Mara.

O que diz a Ecosul
Em nota, a concessionária confirmou ao Diário Popular que a ação foi movida contra possível interdição do tráfego no quilômetro 511 da BR-116, decorrente de manifestação realizada no dia 3 de dezembro de 2022, na Praça de Pedágio do Retiro. O texto também afirmou que o intuito da medida foi resguardar a segurança dos usuários das rodovias, colaboradores da concessionária e dos próprios manifestantes, bem como garantir a fluidez do trânsito. Os réus citados, segundo a Ecosul, foram os organizadores do manifesto, devidamente identificados e qualificados pelo Oficial de Justiça no local.

A concessionária ressaltou, ainda, que sempre esteve aberta ao diálogo e compactua com o direito constitucional de livre manifestação do pensamento, expressão e informação sob qualquer forma, desde que não coloque em risco a segurança viária e interfira no regular desenvolvimento das atividades previstas no Contrato de Concessão - disponível publicamente no site da Ecosul, especialmente no que tange à interdição da via.