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Os braços da educação federal em Pelotas

Em série especial, o Diário Popular aborda a importância da UFPel e do IFSul, instituições que vão além do ensino; as atividades podem ser suspensas no segundo semestre, com o corte de recursos feito pelo MEC

Paulo Rossi -

Uma instituição de ensino não existe apenas em uma sala de aula, entre os alunos e os professores. O que é aprendido, pesquisado e ensinado ultrapassa os muros e atinge a vida de todos nós. Um atendimento médico. Uma invenção para uma plantação produzir mais. Uma descoberta para salvar vidas ou para desenvolver comunidades. Tanto a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) como o Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) possuem braços que fazem parte do cotidiano de Pelotas e da Zona Sul.

Era 30 de abril quando o ministro da Educação (MEC), Abraham Weintraub, anunciou o corte de 30% no orçamento de custeio das universidades. Ao todo, são mais de 60 universidades federais e 40 institutos afetados. Na Zona Sul, pelo menos quatro instituições - Furg, UFPel, Unipampa e IFSul -, já projetam fechar as portas antes do final do ano pela asfixia econômica.

Juntas, as quatro instituições representam um universo de 75 mil estudantes, além de milhares de professores e servidores técnicos. Para além da educação, os órgãos estão inseridos nas comunidades e têm grande importância econômica e social nos respectivos municípios.

Em três reportagens, o Diário Popular trata da importância da UFPel, do Campus Visconde da Graça e do Campus Pelotas do IFSul e como estão inseridos no cotidiano da comunidade.

UFPel e a saúde do município
No Areal, a Unidade Básica de Saúde (UBS) Obelisco atende mais de cem pessoas por dia. Em três equipes, o cotidiano do posto de saúde envolve cerca de 20 profissionais ligados à UFPel. São estudantes e professores de Medicina, Odontologia e Enfermagem. Como a UBS Obelisco, a UFPel é responsável por outras quatro unidades - uma delas no Capão do Leão. Todas as unidades vivem a iminência da suspensão do atendimento, caso a universidade feche as portas no segundo semestre, por falta de profissionais.

"São unidades que a UFPel concede os profissionais, que aprendem e trabalham. São milhares de pessoas que podem ficar sem atendimento médico", alerta o reitor Pedro Curi Hallal. Na manhã desta terça-feira (7), as equipes se dividiam entre puericultura, pré-natal e atendimento clínico geral.

Há 30 anos trabalhando como médica do SUS e lecionando na Faculdade de Medicina, Maria Laura Vidal Carret vê com muita preocupação a redução do investimento no Ensino Superior. "A gente já está vivenciando o desmanche do SUS com a PEC do teto de gastos. Agora, pra terminar, vem esta medida absurda. Aqui é nossa sala de aula", desabafa a professora e médica da UBS Obelisco. Somente a unidade é responsável pela saúde de cerca de dez mil pelotenses.

Apesar de ter um orçamento independente, o Hospital-Escola (HE/Ebserh) também pode sofrer consequências, caso os cursos ligados à área da saúde suspendam as atividades. Conforme a gerente de Ensino e Pesquisa, Beatriz Voigt, a medida trará impacto para alunos de diversos cursos de graduação que utilizam o hospital para atividades práticas. "A princípio, a demanda assistencial segue sendo atendida sem impacto significante", minimiza.

Pesquisas que mudam vidas
O reitor cita também pesquisas feitas no Centro de Epidemiologia Dr. Amílcar Gigante, responsável por estudos que revolucionaram a saúde, como sobre a importância da amamentação e a desigualdade social na área. "São pesquisas que já salvaram milhões de pessoas e que podem render ao professor Cesar Victora uma indicação ao Nobel de Medicina", cita Hallal.

Outro aspecto que dá resultados econômicos para a região são as pesquisas desenvolvidas no campo das agrárias. "A gente tem pesquisa sobre o arroz, que melhoram a qualidade da produção, que dão mais produtividade. A gente produz conhecimento sobre todas as áreas", defende.

Hospital Veterinário pode fechar
"Teremos muita dificuldade de mantê-lo", lamenta o diretor e professor Eduardo Nogueira. As atividades ficarão inviabilizadas sem o recurso para o custeio de terceirizados, água, luz, internet. O hospital também possui uma parceria com o município, envolvendo o recolhimento de animais de grande porte, que são tratados no local. "Manteremos aberto até quando tiver verba", projeta.

Desenvolvimento econômico
Com um universo de 20 mil estudantes e cerca de 2,5 mil servidores, a universidade representa um pilar na economia da cidade. São cerca de R$ 680 milhões em folha de pagamento que circulam anualmente na economia local.

Inicialmente com R$ 9 milhões para investimentos em obras e equipamentos, o valor se reduziu a pouco mais de R$ 2 milhões. De um total de R$ 74 milhões para custeio, o montante caiu para R$ 51 milhões. Conforme Pedro Hallal, a redução diz respeito à economia de Pelotas. "São contratos que seriam feitos com empresas locais, construtoras, prestadores de serviço", enumera.

593 demissões
Outro dado que alerta à situação é a possível demissão em massa dos funcionários de empresas terceirizadas ligadas a limpeza, vigilância, portaria, serviços gerais, entre outros. Com o corte de recursos, os contratos podem ser encerrados. Ao todo, são 593 trabalhadores que podem perder o emprego com a medida.

Serviços municipais afetados
A prefeitura também projeta dificuldades em áreas como saúde e educação. Além do fechamento de quatro UBSs, há uma parceria com o setor de saúde bucal, que pode ter o número de atendimentos reduzidos para a metade. O programa Saúde na Escola, com atendimento oftalmológico e odontológico no Campus Anglo, da UFPel, também pode ser encerrado.

Declarações

Paula Mascarenhas (PSDB), prefeita de Pelotas
"Vejo com extrema preocupação esse anúncio pelo prejuízo causado ao município, dado que a UFPel e o IFSul com seus orçamentos movimentam uma parte importante de nossa economia, mas sobretudo pela forma como o anúncio foi feito: usar a ideologia para estigmatizar os centros de formação científica, de pensamento crítico, é muito perigoso e pode ser fatal para o desenvolvimento do país. Só pela educação poderemos crescer como nação e isso significa pensar e valorizar a educação básica, mas também a acadêmica, que gera riqueza, abre mercados, formula conceitos e promove desenvolvimento econômico, social e humano."

Mauro Nolasco (PT), prefeito do Capão do Leão e presidente da Azonasul
Em nota, o prefeito do Capão do Leão e presidente da Associação de Municípios da Zona Sul, Mauro Nolasco, expressou solidariedade e colocou-se à disposição dos movimentos de resistência aos cortes do orçamento. Além da produção de conhecimento e trabalho acadêmico, lembrou, as instituições são importantes para o desenvolvimento e a economia da região.

Daniel Trzeciak, deputado federal
"Cortes em áreas sensíveis sempre geram desconfortos. Agora, se todos os governos falam que educação é prioridade, então está mais do que na hora de ver essa prioridade refletida no orçamento. Me preocupa, contudo, a tentativa de demonizar o ensino público por conta de uma ideologia, quando, na verdade, não enxergo a educação como inimiga, e sim como uma área sempre em potencial, que deve ser acionada em favor do desenvolvimento." O deputado se reúne nesta quarta-feira com o ministro da Educação para tratar sobre o tema.

A série
Quinta-feira - Campus CaVG - IFSul
Sexta-feira - Campus Pelotas - IFSul

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