Mérito
Pelotense negra é referência mundial
Lisiane Lemos está entre os cem jovens negros com menos de 40 anos mais influentes do mundo
A advogada e egressa da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Lisiane Lemos, foi reconhecida entre os cem jovens negros mais influentes no mundo, com menos de 40 anos. Trata-se do Prêmio Most Influential People of Africa Descent (Afrodescendentes mais Influentes - Mipad) em Nova York, na área do Empreendedorismo. A cerimônia de entrega ocorreu no dia 3 deste mês.
Lisiane Lemos é especialista em soluções na Microsoft e cofundadora da Rede de Profissionais Negros, ONG que conecta profissionais negros e empresas em busca de talentos e colíder do GT Igualdade Racial do Grupo Mulheres do Brasil. Enquanto ativista, declara: “É uma honra enquanto mulher negra demonstrar fora do meu país as nossas origens e o trabalho que construímos. Apesar de estar em São Paulo, não esqueço minhas origens e meu orgulho em ser pelotense”. A expectativa da advogada é de que, a partir desse prêmio, mais pessoas se inspirem e atuem por um país mais justo e equalitário, que reflita nos espaços de poder a constituição racial. “Em breve estarei na UFPel dividindo aprendizados e conversando sobre meus próximos passos”, adianta.
Formada em Direito pela UFPel em 2012, ela ocupou diversos postos na Aiesec e entrou na Microsoft um ano após se formar, em 2013. Em 2017, apareceu na lista da Forbes Brasil entre os 91 brasileiros mais promissores com menos de 30 anos. Na Microsoft ela também participa do Blacks At Microsoft (BAM), onde funcionários debatem o tema.
De acordo com o relatório Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas, do Instituto Ethos e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, há um afunilamento hierárquico em curso. Entre as empresas analisadas, negros representam 57,5% dos aprendizes e 58,2% dos trainees (estagiários são 28,8%). No entanto, apenas 6% ascendem à gerência. No quadro executivo, são 4,7%. No conselho de administração, 4,9%. No caso de mulheres negras, a diferença é ainda maior: apenas 1,6% delas ocupa cargos de gerência.
As cores da desigualdade
Em publicação feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no primeiro semestre deste ano - intitulada As cores da desigualdade, o órgão destacou que as estatísticas de cor ou raça mostram o Brasil ainda muito longe de se tornar uma democracia racial. Em média, os brancos têm os maiores salários, sofrem menos com o desemprego e são maioria entre os que frequentam o Ensino Superior, por exemplo. Já os indicadores socioeconômicos da população preta e parda, assim como os dos indígenas, costumam ser bem mais desvantajosos.
Ouvido pelo instituto, o professor Otair Fernandes, doutor em Ciências Sociais e coordenador do Laboratório de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (Leafro/UFRRJ), destacou essa realidade ainda como uma herança do longo período de colonização europeia e do fato de o país ter sido o último a acabar com a escravidão. Mesmo após 130 anos de abolição, ainda é muito difícil à população negra ascender economicamente.
Fernandes afirma que atitudes individuais não são suficientes para romper essa questão socialmente e historicamente, e ressalta a importância de políticas públicas de ações afirmativas. Para a promotora de Justiça do Ministério Público do Estado da Bahia, Lívia Santana Vaz, reconhecer que o problema existe é o primeiro passo para tentar resolver essa dívida histórica. Por isso, a consideração de cor ou raça nas pesquisas oficiais produzidas pelo IBGE é fundamental.
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