Transtorno

Pelotenses chegam ao 7º dia sem luz

Drama da falta de energia continua afetando zona rural, bairros e centro e gera repercussão

Foto: Carlos Queiroz - DP - Moradores relatam prejuízos diante da falta de luz

Sete dias após a passagem do ciclone extratropical pelo Rio Grande do Sul, milhares de moradores seguem sem energia elétrica em suas casas na região sul do Estado. Os transtornos causados pela falta de energia causam revolta na população, que desde o fim da semana passada organiza protestos pedindo o restabelecimento da energia elétrica.

A falta de luz por diversos dias afetou não somente as áreas remotas. Até mesmo áreas do centro de Pelotas continuavam sem luz até o fim do dia desta terça (18). No pior momento da crise, mais de 705 mil clientes ficaram sem luz. Em Pelotas, o número chegou a 130 mil na quinta-feira. No boletim mais recente divulgado pela CEEE Equatorial até o fechamento desta reportagem, 7,7 mil clientes continuavam sem energia, sendo três mil pelotenses.

Em pleno centro da cidade, na rua Padre Anchieta, próximo a Voluntários da Pátria, a lanchonete de Mauro Alves está sem luz desde a quarta-feira passada. No ponto há 26 anos, ele relata que nunca passou por situação parecida. Sem luz, mesmo com a loja aberta, os prejuízos são enormes, tanto pelos alimentos perdidos quanto pela dificuldade de atender os clientes. "É prejuízo total, uma coisa lá que outra que se vende", afirma.

Alves explica que técnicos da CEEE Equatorial já foram ao local, mas não conseguiram solucionar o problema devido à complexidade. "A gente entende um dia, dois dias sem luz, sei que a coisa é difícil, só que isso é demais", diz, temendo que a situação dos últimos dias afaste a freguesia já conquistada. No final da tarde desta terça, equipes estavam no local para restabelecer o fornecimento de energia.

Na rua João Jacob Bainy, nas Três Vendas, a situação é a mesma: sem luz desde a quarta-feira e técnicos sem conseguir solucionar o problema. Na tarde de terça, moradores fizeram uma manifestação pacífica e bloquearam totalmente a rua, liberando apenas para veículos de emergência e transporte coletivo. A Brigada Militar acompanhou a manifestação e redirecionou motoristas que tentavam passar pelo local

Luci Grillo, moradora da região há 40 anos conta que a situação afeta toda a família, desde o ex-marido vizinho, que tem diabetes e não consegue armazenar a insulina, até os netos com autismo, que ficam aflitos diante da situação, passando pelo genro, que tem uma oficina de motos e não consegue atender os clientes sem energia elétrica para usar os equipamentos necessários. "No básico do dia a dia a gente tá se virando", diz Luci. Na geladeira, os alimentos estragaram e, para não perder a carne, a família precisou armazenar o alimento em caixas térmicas com gelo. "A gente achou que não ia demorar tanto tempo. O que tem nos mantido aquecido é o fogão a lenha, porque nem o ar condicionado se pode ligar", afirma.

Sem luz nem água
Se na área urbana a situação é problemática, na área rural, o drama é maior. No distrito do Quilombo, moradores continuam sem energia elétrica - e sem luz, não há sequer abastecimento de água para o consumo humano. "Bachini, Pilão, Vila Nova, Cordeiro de Farias, estamos todos sem água. Sem água, não dá pra ficar. Sem luz, ainda passa, mas e a água?", diz a moradora Maria Ferreira em vídeo publicado nas redes sociais. "Ninguém faz alguma coisa para resolver o nosso problema. Tá demais, assim não dá!", reclama.

Caso parecido
De 11 para 12 de julho de 2022, um ciclone extratropical também causou estragos na região. Ventos próximos de cem quilômetros por hora derrubaram árvores e deixaram 172 mil clientes sem energia elétrica na área de concessão da CEEE Equatorial. Naquela ocasião, 90% dos pontos já tiveram a energia restabelecida na noite do dia 12 e todas as ocorrências registradas em Pelotas foram solucionadas até o dia 14.

Câmara repercute
O problema da falta de luz repercutiu na sessão representativa da Câmara de Vereadores desta terça (18). Os parlamentares cobraram uma solução à CEEE Equatorial e relataram o drama vivido pelos moradores.

Marisa Schwarzer (PSB) disse estar indignada com a situação, que classificou como caótica. "É inaceitável que em pleno século 21 tenhamos que conviver com a falta de serviços básicos, como a energia elétrica, por tantos dias consecutivos", afirmou.

Anderson Garcia (Podemos) disse esperar respostas. "Por mais argumentos que a CEEE Equatorial mande como resposta, já são sete dias. Já tem gente perdendo muita coisa, além do sono e da dignidade de não ter água para tomar um banho, aqueles que têm comércio estão perdendo alimento, e uma série de situações", disse.

A vereadora Carla Cassais (PT) criticou a privatização da CEEE. "Quando a gente tem uma empresa pública vendida a preço de banana como a gente teve aqui no Estado pelo governador Eduardo Leite (PSDB) que sabia que essa empresa que comprava era a Equatorial, reponsável por um grande apagão no Amapá, a gente sabia o que ia acontecer", afirmou.

Cristiano Silva (UB) disse que a população compreende a falta de luz diante do ciclone, mas o tempo sem respostas desrespeita a população, e que representantes da concessionária sequer respondiam os vereadores. "Fazem 15 dias ou mais que estava anunciado o ciclone e não se prepararam", criticou.


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