Debate

Proibição da pesca de bagre ainda é alvo de discussão

Na falta do camarão, pescadores defendem que a captura da espécie seria fundamental para reforçar a renda

Foto: Divulgação - DP - Bagre não pode ser pescado em todo o País devido a decreto editado em 2014 que aponta risco de extinção

Com a safra de camarão praticamente descartada em 2024 por conta das cheias dos últimos meses na Lagoa dos Patos, ressurge uma discussão antiga entre os pescadores: a pesca de bagre. Desde 2014, um decreto estadual proíbe a pesca do animal, que integra a lista de espécies ameaçadas de extinção no País e no Estado. A legislação, no entanto, sempre foi alvo de críticas da categoria. Na Zona Sul não é diferente.

Em Pelotas, o presidente da associação de pescadores da Colônia Z-3, Nilmar Conceição, defende que a pesca do bagre poderia ser um grande auxílio para os pescadores, especialmente em temporadas como a atual, em que o camarão está em falta. "Não tem camarão e o bagre, que tem, não pode trabalhar. Seria uma possibilidade de os pescadores se defenderem melhor", comenta. Diversas assembleias e audiências, na esfera local e estadual, foram realizadas nos últimos anos para tentar reverter a situação.

Em outras comunidades da região, a opinião é a mesma. "O bagre aumenta muito a renda do pescador, porque, para a pesca de bagre e linguado, a rede é a mesma. Dá menos custo para o pescador", avalia o presidente da Colônia Z-8, de São Lourenço do Sul, Ivan Kuhn. Ele complementa que a comunidade não sentiu a diminuição da espécie na Lagoa. "Não foi sentida a diminuição da espécie como dizem os pesquisadores. Sempre aconteceu de ter anos com maior produção e outros com menos. Isso ocorre com todas as espécies", avalia Kuhn.

O representante da Colônia Z-1, de Rio Grande, Nilton Machado, acrescenta que o prejuízo, além de financeiro, se reflete na mesa dos próprios pescadores artesanais, que muitas vezes também pescam para consumo familiar. "A pesca artesanal é algo que precisa ser muito bem avaliada quando se trata de proibições. Isso não foi discutido com os pescadores. Este decreto não contribuiu em nada para a preservação da espécie, porque não impede o bagre de 'malhar' na rede. Esse decreto só veio para prejudicar o pescador", complementa.

Ponto de vista científico

Na comunidade acadêmica e científica da região, o tema também é acompanhado com cautela. O professor e pesquisador do Instituto de Oceanologia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Luis Gustavo Cardoso, explica o caso. "A proibição vem da inclusão dele na lista de espécies ameaçadas. Foi uma análise da nossa área pesqueira que viu que diminuiu muito o rendimento de bagre dentro da Lagoa", explica. Desde o princípio, o tema já é alvo de discussão. "É muito discutível essas avaliações. Existe muita discordância na comunidade científica no conceito de risco de extinção para peixes", diz.

Das quatro espécies de bagre conhecidas, duas se encontram na condição de ameaçadas: a genidens barbus e a genidens planifrons. Na prática, os animais não ameaçados também não são capturados pelos pescadores pela dificuldade de diferenciar as espécies e, também, pelo receio de multas. "Os pescadores jogam rede na lagoa e vem bagre, mas o Ministério diz que eles estão ameaçados de extinção. Isso gera uma discordância entre o teórico e a realidade observada", diz Cardoso.

O especialista explica que houve tentativas de implementar uma pesca monitorada, mas o projeto não avançou. "Existe um entendimento de que seria possível explorar o bagre desde que haja monitoramento", observa. Cardoso opina, por fim, que o tema é latente e uma revisão das normativas não deveria ser descartada. "Vejo que essa situação merece uma reavaliação. A avaliação [vigente] pode não ter sido tecnicamente boa por falta de dados. A forma com que foi feita era o que a informação permitia na época, mas talvez não atenda aos critérios satisfatórios de qualidade técnica desse tipo de análise", comenta.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Operação Antártica passa por Pelotas mais uma vez Anterior

Operação Antártica passa por Pelotas mais uma vez

Pacientes com Parkinson reclamam da falta de remédio na Farmácia Municipal Próximo

Pacientes com Parkinson reclamam da falta de remédio na Farmácia Municipal

Deixe seu comentário