Sustentabilidade

Projeto de alunos da Escola Sesi produz absorventes de forma sustentável

Produto proporciona maior acessibilidade às meninas de baixa renda; custo unitário é de R$ 0,02

Foto: Carlos Queiroz - DP - grupo. Bruna Soares, Caio Dorneles, Eduarda de Abreu, Amanda Gonçalves e Eduarda Dias são os idealizadores

Por Victoria Meggiato

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Jovens que buscam fazer a diferença na sociedade. O projeto "Absorventes Biodegradáveis", idealizado por cinco alunos do segundo ano do Ensino Médio da Escola Sesi, em Pelotas, desenvolveu um protótipo de absorvente que utiliza materiais sustentáveis e possui um preço muito acessível. O estudo promovido pelos estudantes concluiu que o preço unitário de cada absorvente ficaria R$ 0,02, promovendo maior acessibilidade para quem mais precisa durante o período menstrual.

Bruna Soares, Caio Dorneles, Eduarda de Abreu, Amanda Gonçalves e Eduarda Dias são os idealizadores da proposta. A ideia inicial surgiu de Eduarda de Abreu que, no ano passado, produziu kits de higiene e colocou nos banheiros femininos da escola, com o objetivo de ajudar quem precisasse. A ação teve uma resposta muito positiva por parte dos outros estudantes e, a partir desse momento, o grupo decidiu que queria impactar positivamente tanto no meio ambiente, quanto na vida de meninas de baixa renda. Responsável pelas mídias sociais do projeto, Bruna conta que pesquisou muito e teve a oportunidade de conversar com algumas jovens. "Ouvi relatos de que muitas passavam a semana inteira que tinha o período menstrual fora da escola porque não tinham como comprar um absorvente, então elas usavam folha de árvore, usavam panos de chão. Isso é muito triste".

Para dar início ao projeto, o grupo de alunos começou a pesquisar sobre pobreza menstrual, termo que passou a ser discutido devido à falta de acesso que muitas meninas têm a produtos para manter uma boa higiene no período da menstruação. "Não é todo mundo que tem acesso. A gente pesquisando foi tentando criar alguma coisa que ajudasse essas pessoas, que fosse mais acessível e mais sustentável para o meio ambiente também", conta Eduarda de Abreu.

O protótipo
Os testes para chegar ao resultado ideal duraram cerca de três meses. Depois de muitos estudos e melhorias, os alunos conseguiram chegar no produto desejado há um mês.
A parte de dentro do absorvente é constituída por uma sílica feita de casca de arroz que, misturada com alguns produtos químicos, vira uma espécie de gel que irá servir para absorção. Por baixo dessa sílica existe um bioplástico feito com cascas de banana, materiais presentes no laboratório da escola, e casca de ovo, que vai transformar em um plástico. O que reveste todo esse absorvente são retalhos de algodão e outros tecidos, fornecidos por algumas costureiras locais.

Um absorvente feito desse tipo de material consegue ter um preço muito menor do que os tradicionais de plástico. "Hoje em dia a gente sabe que um pacote com dez absorventes custa em média R$ 6,00, R$ 7,00. Pra gente parece ser barato, mas pra muitas meninas não ", destaca Bruna.

Impactos do projeto
Absorventes feitos majoritariamente de plástico, derivado do petróleo, são altamente inflamáveis e aumentam as chamas, produzindo gases do efeito estufa e impactando no meio ambiente. Além disso, são feitos de um material difícil de reciclar.

São várias as alternativas criadas para diminuir os impactos causados no meio ambiente, como o coletor menstrual. O projeto criado pelos alunos da Escola Sesi foi feito também para maior sustentabilidade. "Tanto na puberdade até a menopausa, cerca de 200 toneladas de absorventes são jogadas no meio ambiente. E 90% dos absorventes são feitos de plástico, então demora cerca de 400 anos para se decompor. Então a gente pensou, o que a gente pode fazer para dar uma diminuída nesse estrago que tão causando no meio ambiente?", diz Bruna. Por ser feito com produtos que já vem do meio ambiente, o absorvente produzido pelos estudantes leva menos de um ano para se decompor na terra.

Ajudar meninas que passam por dificuldades durante o período menstrual é o grande objetivo do projeto. Bruna reforça a importância na vida de quem precisa. "Através disso a gente vai conseguir ajudar elas com algo que é natural, que vai acontecer com todo mundo, com todas as meninas e que, infelizmente, não são todas que têm acesso a esse produto."

Além de acessibilidade, o grupo também busca levar dados e informações que não são de conhecimento geral para outras meninas, como o que auxilia com a cólica, quais alimentos são mais indicados no período e o que ocorre com o corpo durante esse processo. "Muitas vezes nem com os pais [se fala sobre], geralmente é um tabu, no colégio é um tabu isso, então muitos professores na aula de biologia não falam sobre isso. As meninas muitas vezes menstruam e não sabem o que tá acontecendo com o próprio corpo. Isso é um tabu que a gente quer quebrar", ressalta Bruna.

Importância da escola
Juntando os conhecimentos adquiridos nas aulas de Química e Biologia para a parte da construção dos absorventes, os alunos também utilizam as aulas de Sociologia para debater sobre a questão social. O apoio dos professores foi e continua sendo fundamental para o andamento do projeto. "Eles sempre tem um tempinho, não só nas aulas que a gente tem com eles. Às vezes eles tão até trabalhando ali, fazendo o plano de aula deles, a gente precisa de ajuda, liga pro nosso professor e ele já nos auxilia", conta Eduarda de Abreu.

Os estudantes ainda destacam a importância de investir na educação e em projetos para que isso impacte positivamente na vida das pessoas. "Investindo na educação tu consegue transformar mentes brilhantes, tu consegue criar mentes brilhantes e que possam ajudar, impactar a sociedade de alguma forma. Então isso é muito legal e a gente tem muito orgulho disso, de ver que de alguma forma a gente vai conseguir impactar muitas gurias, conseguir ajudar e talvez ser uma inspiração", expressa Bruna. "E o Sesi dá essa oportunidade, então a gente pegou o assunto que a gente se interessava, que é essa questão de ajudar o próximo, essa questão da pobreza menstrual, da educação sexual que tem que ser trazida nas escolas, e juntou tudo e nasceu esse projeto. A gente tá tentando ajudar", completa Eduarda Dias.

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