Economia

Quem pode menos, sofre mais com a inflação

Os reajustes batem com maior intensidade à porta da população de baixa renda, que ainda enfrenta dificuldade para encontrar emprego

Carlos Queiroz -

A cada dia que passa os meses parecem ficar maiores diante do valor disponível na carteira de quem ganha até um salário mínimo. É o que aponta uma pesquisa de abrangência nacional do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) e que reflete claramente o drama enfrentado por milhares de famílias de Pelotas. Pressionados pelos preços, trabalhadores estão apertando o cinto para se virar com o poder de compra reduzido. E, pior: tem aumentado o número de pessoas que recorrem a programas sociais como alternativa de sobrevivência.

Segundo o estudo do Ipea, de 2006 até hoje a inflação para os mais pobres - com renda até R$ 900 - foi de assustadores 102%. Muito além do índice nas camadas mais ricas, que sentiram um aumento de 86% nos preços. A diferença tem uma explicação: de acordo com o instituto, famílias com renda baixa gastam proporcionalmente 2,5 vezes mais em alimentação do que aquelas com alto padrão de vida (23% do salário contra 9%). Além disso, ainda ajudam a corroer o orçamento o aluguel e o transporte (8,5% e 8,4% do dinheiro, respectivamente). Como comparação, cidadãos com mais recursos aplicam apenas 5,5% e 1,7% nestes dois itens.

Mas não é preciso estudos, cifras e percentuais para sentir na pele a dificuldade em colocar comida na mesa e manter as contas em dia. Que o diga a dona de casa Cátia Braga, 38. Moradora do Corredor do Obelisco, vive com o marido Jeferson Farias e dois filhos adolescentes de 15 e 18 anos em um apartamento financiado pelo programa Minha Casa, Minha Vida. A única renda fixa da casa é um salário mínimo que a filha recebe através da Lei Orgânica de Assistência Social (Loas) por conta de deficiência visual. Pouco para bancar água, luz, transporte, condomínio, prestação do apartamento e, claro, o rancho de todo mês. “Não faz muito tempo que a gente pegava R$ 200,00 e voltava com comida suficiente para umas duas semanas. Agora não. Está cada vez mais difícil. Qualquer pedacinho de carne já se vão R$ 40,00 e não rende duas refeições”, contabiliza.

A dificuldade em Pelotas é tamanha que em um ano a quantidade de famílias que recorrem a benefícios sociais para garantir o sustento da casa cresceu 182%. Conforme a Central do Cadastro Único (CadÚnico), também aumentou a quantidade de pessoas buscando regularizar sua situação ou se informar sobre quais programas têm direito. Somando todos os serviços prestados, em outubro do ano passado foram 965 atendimentos. Já em outubro de 2017 foram 2.367.
Conforme Mara Silva, agente administrativa do CadÚnico, a principal razão para tamanha demanda é o desemprego. “Não só apenas pessoas que sempre estiveram em condição de pobreza. Recentemente têm buscado bolsas e outros benefícios famílias que viviam em condições confortáveis e que perderam seus empregos e toda a renda que tinham, precisando recorrer aos programas sociais para ter ao menos para a comida”, explica.

Alimentos se mantêm estáveis, diz Procon
Apesar da reclamação de Cátia e da preocupação de outros milhares, pelo menos nos últimos dez meses a média de preços dos itens básicos de alimentação se manteve praticamente estável em Pelotas, segundo o Procon. Enquanto em janeiro o consumidor despendia R$ 359,01 para levar para casa três quilos de arroz, 3,5 de feijão, 7,5 litros de leite e outros dez produtos da chamada ração essencial, em outubro esse valor ficou em R$ 356,09. Uma queda de 0,81%.

Entretanto, outros itens passaram a corroer os recursos. O transporte coletivo municipal, como ocorre anualmente, teve a passagem atualizada, subindo de R$ 3,25 para R$ 3,35 (+3,07%). Além disso, somente nos últimos 30 dias foram 22 reajustes nos combustíveis, aumentando 7,3% nas bombas em Pelotas. Ambos os índices muito acima dos 2,21% da inflação acumulada no ano, de acordo com o IPCA.

Sem conseguir emprego fixo, Jeferson, marido de Cátia, tenta garantir uma renda extra fazendo fretes. Investiu na troca da antiga charrete por uma pequena camionete, porém já tem dúvidas se fez um bom negócio. “Hoje tiro uns R$ 300,00, mas muito disso vai só na gasolina”, conta. Do pouco que sobra, investe na educação dos filhos pagando o ônibus até a escola e um plano de internet para auxiliar nos estudos. “É o que dá para fazer. Se a gente não se virar, não tem nem pra botar comida na mesa.”

Como a inflação impacta no bolso das famílias?

- Um dos grandes vilões no mês de novembro foi a energia elétrica. O reajuste na tarifa residencial contribuiu para a alta de 0,32% na prévia do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15).

- Já o botijão de gás apresentou variação de 3,30%. A inflação do item foi impulsionada pelo reajuste promovido pela Petrobras no preço do botijão de 13 quilos em suas refinarias a partir de 5 de novembro, deixando o produto 4,5% mais caro, na média.

- Por sua vez, com alta de 1,91% em setembro, frente ao mês anterior, os combustíveis foram os itens que mais contribuíram para a variação de 0,16% do IPCA.

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