As ações de solidariedade vieram depois de uma pergunta-chave: "Como poderia ser mais feliz?" Foi assim que Júlio Moura, 50, deu início a doações e obras na rede hospitalar de Pelotas, há cerca de uma década. E nunca mais parou. Neste momento, as atenções estão voltadas ao Hospital-Universitário São Francisco de Paula (HUSFP/UCPel), onde revitaliza as dez enfermarias do setor de Clínica Médica. Mais do que colocar a mão no bolso para bancar a reforma, o pensionista da Polícia Rodoviária Federal (PRF) faz questão de colocar a mão na massa para tornar os projetos realidade.

Piso novo e impermeabilizado, pintura renovada e banheiros totalmente recuperados, com troca de pisos e azulejos e instalação de suportes para papel higiênico e toalhas. Para evitar transtornos às instituições durante as obras, não raro, aproveita as madrugadas para acelerar o ritmo dos trabalhos, já que há redução do fluxo de pacientes e equipes médicas. "Se um dia eu precisasse de atendimento, gostaria de ficar num lugar assim", destaca Júlio.

Olhares de admiração e agradecimento
À medida que os ambientes surgem e há remanejamentos para os quartos totalmente recuperados, brotam também declarações de incentivo e agradecimento. O funcionário público Eloir Madeira Vieira, 54, internado há quase dois meses, gosta de acompanhar a evolução de perto. Sempre que pode, acomoda-se na cadeira de rodas e espia o andamento. "Fico de olho. Já disse que sou o fiscal da obra", descontrai, enquanto prepara-se para cirurgia de coluna e de próstata.

E, embora amigo pessoal de Júlio, reitera: "Não tenho palavras para expressar o ser humano que ele é. Se cada um fizesse a sua parte, teríamos um mundo muito melhor".

Desde a infância uma mesma vontade
O jaguarense Júlio Moura era ainda guri, por volta dos sete anos de idade, quando viu despertada a vontade de ajudar. A cena de uma idosa se urinando em frente ao Asilo das Freiras marcou o estudante. Dali por diante, passou a reunir economias e parte da mesada transformava-se em panos higiênicos para encaminhar à instituição e levar conforto aos mais velhos.

Hoje, aos 50 anos, o morador de Pelotas não detalha cifras, mas garante que separa o dinheiro necessário às despesas e o restante pode ser investido em benfeitorias. Não raro, a renda mensal ganha o reforço de premiações de poker; às vezes conquistadas em torneios internacionais. É quando injeta mais recursos às obras.

Nos últimos anos, os atos de solidariedade se espalharam por diferentes endereços: Hospital Espírita, Hospital-Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-UFPel), Pronto-Socorro de Pelotas (PSP) e Santa Casa de Misericórdia. Só na Santa Casa, vários espaços receberam melhorias, ao longo do tempo, como o setor de Traumatologia, a ala São Paulo, o Centro de Tratamento Intensivo (CTI), o ambulatório e o laboratório.

No Hospital-Universitário São Francisco de Paula da Universidade Católica de Pelotas (HUSFP/UCPel) também é a segunda temporada de reformas. Em 2016, forneceu material e mão de obra inicial para ampliação da enfermaria da maternidade, que ganhou mais seis leitos. Os vestiários dos funcionários também integram a lista de investimentos; sem falar em aparelhos de TV, um dos itens mais doados para diferentes instituições nesta uma década. Já são mais de cem televisores.

Ao conversar com o Diário Popular, no final da tarde do último domingo, reforça: "Cada um de nós pode fazer a sua parte. Assim, os problemas podem começar a ser resolvidos a partir de agora", enfatiza. E nesse processo de cada cidadão comprometer-se em fazer a diferença, as verbas são apenas um dos instrumentos.
Um sorriso, um abraço, uma palavra de incentivo. Um tanto de dedicação pelo outro. Assim como Júlio Moura tem decidido fazer. Não basta custear as obras. Ele faz questão de envolver-se na execução e deixar um tanto de suor e de palavras amigas pronunciadas em contato com profissionais de saúde, pacientes e seus familiares.