Atitude
Uma caminhada a favor da adoção
Evento quer estimular, principalmente, a adoção tardia; uma angústia para quem vê a idade avançar de dentro do abrigo
Gabriel Huth -
"Ele já era nosso desde o nascimento. Nós só não tínhamos nos encontrado." A frase do pelotense Fagner Treptow, 31, brota com naturalidade, assim como rápido brotou o amor, tão logo, ele e a mulher Natália Laner, 26, conheceram o sorridente Wender, de sete anos, em outubro de 2016. Em 10 de novembro, dias depois, confirmavam - sob o mesmo teto - que a vida jamais seria a mesma. Descobriam, juntos, o colorido de ver a família ampliada.
Neste domingo (19), a partir das 10h, o Juizado e a Promotoria da Infância e da Juventude promovem caminhada a favor da adoção, em Pelotas. A iniciativa tem objetivo bem claro: sensibilizar outras pessoas a tomarem a mesma decisão. E mais: o encontro deste 19 de novembro levanta, mais uma vez, a bandeira em nome da adoção tardia.
É um novo convite para quem pretende adotar: flexibilizar a faixa etária e enxergar um filho para além do universo dos bebês e da primeira infância, de modo que as crianças mais grandinhas, os pré-adolescentes e adolescentes não sonhem - apenas em vão - em ganhar uma família. "Acreditamos muito no olho no olho. Por isso, temos proporcionado que aquelas pessoas que aceitariam flexibilizar a idade possam conhecer as crianças e jovens", resume a juíza Alessandra de Oliveira.
É uma aposta em quebrar mitos e fazer desabrochar histórias de amor. "Acreditamos no caminho da sensibilização, queremos colocar o tema em debate e gerar espaço de reflexão", destaca a magistrada. E comemora o desfecho de relatos como o de Wender, hoje com oito anos.
Uma vida ressignificada
Cavalgadas. Partidas de videogame. O sonho de se tornar veterinário e poder cuidar dos cavalos que têm se tornado uma das tantas razões de alegria. Aos poucos, Wender fala na nova vida e, descontraído, brinca com a barba do pai e aconchega-se à mãe, como filhote no ninho.
"A pessoa só tem que estar aberta a amar e a se deixar ser amado", resume Natália. E garante: "Ele é quem nos ensina a ser mais forte, mais grato e mais consciente". Um aprendizado que se esparrama a avós, tios, primos, amigos... E trata por reforçar uma convicção: "Foi um encontro de almas", afirma a professora.
Sonho ainda permanece
O jovem é falante. Em cerca de 50 minutos de bate-papo, transita entre passado, presente e futuro. As dificuldades em superar a morte dos pais, os dois anos longe da escola e os quase seis anos de vida no abrigo. Um período em que, não raro, Steven Luiz Ribeiro Peixoto, 16, sentiu a mente retumbar com uma mesma e dura indagação: "Será que o problema sou eu ou a minha idade?"
E, em meio ao peso das incertezas, há aproximadamente um ano e meio, passou a ser contemplado pelo programa Apadrinhamento Afetivo. Ganhou padrinhos com quem deverá morar, possivelmente, antes de deixar o abrigo, aos 18 anos, em dezembro de 2018. "Hoje já não tô tão assustado", admite. Os servidores federais devem acolhê-lo definitivamente após a ampliação da casa da família, no Povo Novo - projeta o adolescente.
E, enquanto sonha com esta nova rotina, dedica-se aos estudos do 8º Ano do Ensino Fundamental e trabalha como auxiliar administrativo. Os projetos estão alinhados: cumprir o Serviço Militar do Exército e transformar-se em policial da Brigada Militar (BM). Mas, claro, o principal está guardado: "O dia que eu for morar com os meus dindos vai ser outro mundo".
O descompasso dos números
(*) Em Pelotas, os 21 aptos à adoção têm, pelo menos, 12 anos de idade
Participe da caminhada!
Quando - Neste domingo, às 10h
Onde - Concentração na esquina da rua Gonçalves Chaves com avenida Dom Joaquim
Organização - Juizado e Promotoria da Infância e Juventude
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