Estudo

Valorização da imprensa negra pelotense

Estudo de Mestrado aborda a vida de Rodolfo Xavier e Antônio Baobab, redatores e articulistas do jornal A Alvorada

Jô Folha -

A história da imprensa negra em Pelotas é o objeto de estudo de uma estudante de Mestrado em História da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O jornal A Alvorada, que circulou em Pelotas e região por 58 anos com algumas interrupções, é o foco do trabalho. O objetivo é entender a importância do periódico, bem como conhecer a intelectualidade e o protagonismo negro, produzindo mais referências sobre essa cultura.

Ana Paula Gouvêa tem 47 anos e é formada no curso de Licenciatura em História desde maio deste ano, pela UFPel. Depois de estudar sobre o trabalhador negro em Pelotas no período pós-abolição da escravidão, ela começou a perceber que o número de produções sobre a temática cresceu. "De uma hora pra outra, começaram a surgir trabalhos", explicou. O interesse sobre a imprensa negra foi despertado quando Ana Paula se matriculou como aluna especial no Mestrado. A disciplina de Estudos de História e Imprensa exigiu a criação de um artigo científico sobre o tema, e ela começou a pesquisar sobre o jornal A Alvorada.

A estudante passou mais de um mês trabalhando no projeto, estruturado em duas partes. Após alguns ajustes, ele foi entregue para avaliação no dia 15 deste mês. No artigo, são apresentados ao leitor as histórias de Rodolfo Xavier e Antônio Baobab, articulistas do jornal. O modo como os cidadãos negros deveriam se comportar na sociedade e a sua luta por direitos também foram assuntos abordados. Toda a pesquisa foi feita na Bibliotheca Pública Pelotense, que dispõe de um grande acervo.

Em fevereiro de 2019, Ana Paula participará de uma seleção para se tornar aluna regular. Por não possuir recursos financeiros para arcar com os custos do Mestrado, a estudante irá concorrer a uma bolsa de estudo. Assim, sua pesquisa sobre a imprensa e A Alvorada poderá ter continuidade. Para o futuro, ela pensa em abordar a Revolução Farroupilha, "desmistificando a história" por trás da história do Rio Grande de Sul e da batalha violenta que prejudicou a mulher negra e pobre da época. Os estudos são de extrema importância e ela destaca: "Deveriam surgir outros Rodolfos e Antônios que se interessassem pelas questões da comunidade negra".

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A pesquisa
O periódico teve sua circulação diária em Pelotas e na região de maio de 1907 a março de 1965. Foi fundado por um operariado negro e considerado o jornal negro de maior longevidade, com quase 58 anos de existência. Contou com diversos redatores e articulistas, como os irmãos Rodolfo Xavier e Antônio Baobab. A Alvorada foi de fundamental importância para a comunidade negra, pois disponibilizava espaço para reivindicações de direitos, informação, comunicação e protesto.

Rodolfo Xavier nasceu em julho de 1873, beneficiado pela Lei do Ventre Livre de 1871. Por muitos anos, exerceu profissões como pedreiro, ferreiro e vassoureiro. Já Antônio Baobab conheceu de perto as mazelas da escravidão e em 1880 trocou seu sobrenome, Oliveira (pertencente ao seu antigo proprietário), por Baobab. Filhos de escravos, os irmãos passaram a frequentar um curso noturno de instrução primária da Bibliotheca Pública Pelotense para cidadãos livres e sem condições financeiras. Em 1883 conquistaram a primeira honra como alunos da instituição. Antônio com 25 anos, e Rodolfo, com dez.

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No jornal, Antônio era auxiliar de redação. Em 1907 iniciava uma campanha em favor da alfabetização dos negros em Pelotas, interrompida em julho do mesmo ano com seu falecimento aos 49 anos. Em seu artigo, a estudante Ana Paula Gouvêa afirma que, por tudo que conquistaram enquanto lideranças operárias, negras e étnicas, os irmãos eram vistos como "exemplos a ser seguidos e imitados, pois provaram que somente a partir da educação e a valorização da família, o trabalhador negro e pobre poderia ascender socialmente e, deste modo, ser respeitado pela sociedade".

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